GERAL

A opção pela crise

Publicado em 29 de outubro de 1998

Aparentemente tudo estava no mais perfeito funcionamento. Os trabalhadores da Ásia trabalhavam. Os governos administravam o crescimento. As grandes corporações contabilizavam lucros fabulosos. Esta solidez era só aparência, como alguns chamados de teimosos insistiam em dizer, muito tempo antes que o fatídico setembro de 1997 expusesse, de maneira incontestável, que o modelo econômico sustentado pela vertiginosa mobilidade de capitais especulativos oferecia riscos sem precedentes à economia mundial. Através do conhecido efeito dominó, as bolsas de valores asiáticas caíram e derrubaram em cadeia os pregões do resto do mundo. Logo logo o rastilho atingiu o Brasil que, até então, celebrava os chamados tigres asiáticos como paradigma de projeto econômico. Os resultados da abertura econômica desenfreada, combinada com o processo de privatizações de grandes empresas públicas nacionais, preconizada pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello e efetivada por Fernando Henrique Cardoso, revelou que submeter a economia nacional ao jogo do capital internacional não é uma contingência, mas uma opção política. E esta opção,
expressão econômica do projeto político reconduzido ao poder nas últimas eleições, já mostrou que tem um custo alto para a população. De setembro de 97 a setembro de 98, a lembrança da crise mexicana tem rondado o Brasil. A exemplo do México, o país governado por Fernando Henrique corre o risco de ser solapado pela evasão dos capitais especulativos que estão refugando as altas taxas de juros, temerosos de perder tanto dinheiro como perderam na Ásia.Por conta da fuga de capitais e da tentativa desesperada de segurá-los com altas taxas de juros, as reservas cambiais baixaram quase 50% e os juros altos também aumentaram a dívida pública federal na proporção de um para seis nos últimos quatro anos. Em nome da estabilidade do Real e da mitificação da derrota da inflação, o governo recusa-se a desvalorizar o moeda, mantendo uma paridade artificial com o dólar que, segundo muitos economistas, agrava ainda mais a situação. O receio de que a quebra do Brasil arraste outros países latino-americanos e atinja inclusive a economia norte-americana, mobilizou o FMI, o Banco Mundial e as sete nações mais ricas do mundo. Mas esta “solidariedade” tem preço e condições. Essas exigência podem ser avaliadas pelo pacote fiscal, anunciado por FHC logo após o segundo turno das eleições. Aumento de impostos e contribuições, cortes nas verbas da Saúde e da Educação e aperto geral sobre todos os Estados e Municípios brasileiros.

O mundo conheceu a dimensão perversa da globalização. O alarme veio da Tailândia, depois Filipinas, Malásia, Coréia do Sul, Hong Kong, Wall Street e Bovespa. A economia dos países ditos emergentes trepidou. As feridas abertas entre julho e setembro de 1997 continuam ardendo. Mas afinal, por que a economia mundial tomou este rumo? Os mercados financeiros da Ásia estavam muito valorizados. Isto aconteceu devido ao crescimento acelerado na década de 80 e início dos anos 90. Por isso eles foram batizados de “Tigres Asiáticos”. A especulação financeira por lá chegou a patamares estratosféricos. A avaliação das propriedades e de vários bens foi muito superior aos valores reais. A estimativa de crescimento foi desmedida. O cenário atraiu os investidores. Mas, como o quadro era irreal, eles acabaram perdendo as apostas. Desta forma, começaram a se desfazer das ações, provocando uma quebradeira generalizada nas bolsas. É o chamado efeito dominó. Os investidores tiveram que retirar o dinheiro aplicado em outros países, para cobrir as perdas na Ásia e, com isso desabaram outros mercados, inclusive o brasileiro.

Este grande cassino afeta o conjunto dos países porque os mercados financeiros estão interligados. Não se pode desconsiderar o aspecto psicológico, a boataria e a visão que os especuladores internacionais têm em relação aos países do terceiro mundo. Para eles, Tailândia, Brasil, Argentina, México são países em processo de desenvolvimento. Portanto, sem grandes diferenças.

APOIO DO G7 – Em outubro, a grande imprensa alardeou a criação de uma nova política de assistência aos países ameaçados pela turbulência financeira. A idéia é a de criar um fundo suplementar de US$ 90 bilhões, que vai mexer na forma de atuação do FMI e do Banco Mundial. A quota para o Brasil ficaria em cerca de US$ 30 bilhões. “O empréstimo do G7 – os sete países mais ricos, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália e Grã-Bretanha -, não tem a ver com a crise brasileira, como vem sendo anunciado. Mas sim, com a internacional. Esta é uma proposta discutida há mais de um ano”, esclarece o professor adjunto da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, Eduardo Maldonado Filho.

O economista Daniel Maia, assessor da bancada do PT, na Assembléia Legislativa, salienta que este apoio é para ajudar os países emergentes a cobrir o saldo de reservas. E o Brasil precisa deste montante para atender aos especulares, que desejarem sair do país. Os dólares representam uma tranqüilidade para eles. Nesta interpretação, os beneficiados diretos deste empréstimo são os próprios investidores. E, como tem sido de praxe, a conta será debitada no bolso do cidadão comum brasileiro. O pacote fiscal anunciado pelo governo resulta da negociação com o FMI. Para Maia, trata-se um instrumento recessivo, que vai gerar desemprego, falências, provocar uma queda na atividade econômica. “O próprio governo estima uma baixa do PIB – nível de atividade econômica do país – em 1%. Este é o primeiro momento da perda. O segundo é o pagamento deste empréstimo, que vai se somar à dívida externa do país”, explica Maia.

Parte dos recursos deste auxílio financeiro é para o próprio governo norte-americano. Entre os investidores, há os que geram produção, desenvolvimento econômico, grandes empresas dos Estados Unidos. Se o país quebrar, caso não disponha da ajuda, não terá condições de atender a estes capitais. E esses investidores, que já tiveram prejuízo na Ásia e Rússia, vão ter prejuízo também no mercado latino-americano, principalmente no brasileiro. “Pode ser um dano significativo para a economia norte-americana. Desta forma, o ‘socorro americano’ é para si mesmo”, desmitifica Maia.

CRISE DE 29 – Em 1929, a crise também adveio do sistema financeiro. Havia uma expectativa de crescimento que não se realizou e sucedeu-se uma quebradeira generalizada. Porém, ao contrário de 29, os governos e as instituições internacionais aprenderam a lição. Naquela época nada foi feito. O governo norte-americano – principal epicentro da crise -, cruzou os braços e a crise levou a taxa de desemprego nos Estados Unidos para 25%. Isto não aconteceu agora nesta magnitude, mas poderia ter acontecido. A reunião do G7 demonstra que os países sabem que é necessário intervir na economia para evitar o desastre.

O Brasil fez uma opção

O professor Maldonado observa que hoje quem tem dinheiro não empresta e quem já emprestou. Espera vencer o contrato para pedir o dinheiro de volta. Isto é generalizado. “Não acho correto dizer que está havendo uma especulação contra o Brasil. Este processo está acontecendo no mundo todo. É claro que algumas economias têm mais dificuldades. É consenso no mundo que o Brasil não vai sustentar esta taxa de câmbio, que vai ter de desvalorizar a moeda. É uma questão de tempo”.

 

A crise brasileira decorre do plano econômico do governo. Com o Real, houve uma sobrevalorização cambial. As taxas de juros foram elevadas. Com a abertura comercial veio um fluxo de capital muito grande, de forma a valorizar a moeda brasileira. Este cenário barateou os produtos importados. E reduziu a inflação. Quadro semelhante foi experimentado pelo Chile, Argentina e Uruguai. Mas, na avaliação de Maldonado, só é possível segurar a inflação via câmbio por um curto período de tempo. Este projeto leva a uma crise cambial. Os países que fazem esta opção, exportam menos e importam muito. Desta forma, surgem problemas na balança comercial e aumenta a dependência de capital externo, recurso usado para fechar a conta. “A gente depende, cada vez mais de recursos externos. No entanto, vai chegar um dia em que esse montante vai acabar. Este plano depende da manutenção da taxa de juro elevada. Além disso, temos uma crise do sistema financeiro internacional. O mundo todo está com aperto de liquidez”.

Mas poderia ser diferente, argumenta o professor. Nem todos os países abriram suas economias de forma indiscriminada e nem todos os países estão na mesma situação do Brasil. É preciso desvalorizar o câmbio e voltar a ter controle do movimento de entrada e saída de capital. Esta alternativa, porém, significa comprar um briga com os banqueiros internacionais. Eles querem liberdade para deslocar os seus dinheiros. As contas públicas se desequilibraram, porque o governo se endividou ao optar por taxas de juros elevadas. Normalmente, quando os governos devem muito, utilizam taxas de juros baixas. O Brasil fez o inverso.

“Em pouco tempo o Brasil estará quebrado. O país não vai ter dólar suficiente para honrar seus compromissos, como a Rússia e o México. Este plano não tem como dar certo. O país vai gastar muito dinheiro tentando segurar o câmbio, mas vai acabar desvalorizando. E a crise vai afetar a Argentina. O Mercosul está numa situação difícil.” Para o professor Maldonado, a saída é desvalorizar a moeda e instituir o controle cambial. Esta medida faz com que o governo ganhe margem de manobra para reduzir as taxas de juros. “Então, o país passará a ter flexibilidade para fazer política econômica. Esta lógica reduz as importações e aumenta as exportações. É preciso fazer o contrário do que o governo está fazendo”, defende.

Há uma tendência mundial de deflação. Como há excesso de produção, os preços caem e como não tem demanda suficiente, a perspectiva é diminuir a produção. No final do século passado, até os anos 30, o mundo se caracterizava por períodos de recessão com deflação. “No pós-segunda guerra mundial, até pouco tempo, o perfil era o de só ter inflação, e pouquíssimas vezes deflação. O que está acontecendo agora é um retorno às características do capitalismo de ter deflação durante as recessões”, arremata Maldonado.

PLANO REAL – A estratégia de estabilização financeira e combate à inflação, adotada em 94, se mostrou equivocada. O raciocínio foi o de estimular as importações para que não faltassem produtos no mercado interno e, com isso enterrar a inflação, independente do efeito na indústria nacional. Com o objetivo de combater a inflação foi destruída uma parte da indústria nacional. “Os reflexos são visíveis – perda de emprego, indústria fechando, falências, recessão”, descreve o economista Daniel Maia.

O processo apontou para a abertura comercial, redução de alíquotas, estímulo à importação e valorização cambial. A moeda nacional ficou com maior poder de compra junto aos produtos internacionais. O volume de importações é maior do que o de exportações. O Brasil já precisava de dólares para pagar a dívida externa e agora precisa de muito mais para pagar o excesso de importações sobre as exportações. Antes do Plano Real, o Brasil exportava mais do que importava. A partir de 94 começa a importar mais. “Esta necessidade extrema de dólares levou o país a promover uma política de atração do capital especulativo, baseada em altas taxas de juros. Se esse capital resolve sair, o Banco Central não vai ter quantidade suficiente para atender a todos, porque os dólares são usados para pagar as importações e a dívida externa. A dependência desse capital nos colocou neste brete”, sublinha Maia.

FRAGILIDADE – “Dizer que a crise atinge o Brasil porque é internacional é uma meia verdade. Ela se inicia com esta questão internacional, mas é agravada significativamente pela forma como vem sendo conduzida a política econômica desde 1994”, esclarece o economista Daniel Maia, argumentando que o modelo econômico de estabilização monetária e de baixa de inflação está baseado em altas taxas de juros. O Plano Real provocou um sério déficit na balança comercial, ou seja, importamos mais do que exportamos. Desta forma, a balança comercial ficou negativa. E os gastos com juros também começaram a se mostrar negativos. Mas o governo precisa fechar o balanço positivo. Então ele se baseou nesta alta taxa de juros para atrair capital estrangeiro e, consequentemente equilibrar as contas na sua balança de pagamento. Isto fragiliza o país.

A economista do Dieese, Cátia Nunes, ressalta que a dívida pública saltou de US$ 61 bilhões no início do governo FHC, em 1994, para cerca de US$ 340 bilhões. Sempre que o governo aumenta as taxas de juros afeta a dívida pública. O mecanismo funciona da seguinte forma: o governo coloca seus títulos no mercado porque precisa se financiar e quando resgata estes títulos, tem de pagar altas taxas de juro – estipulada por ele próprio – aumentando o endividamento.

Ela concorda que a desvalorização da moeda será inevitável. O real não pode mais manter seu nível frente ao dólar, pois estão saindo dólares com as importações e com as viagens dos brasileiros ao exterior – só para citar dois exemplos. Se o governo desvaloriza o real, quem está com dinheiro aplicado no mercado brasileiro vai perder. “Os especuladores apostam na queda do real. Mas para não desvalorizar, o executivo federal compra dólar e gasta suas reservas, que estavam altas devido as taxas de juros. Estas atingiram mais de US$ 70 bilhões e despencaram para US$ 47 bilhões. Então o governo torra este estoque para manter o câmbio na faixa desejada”, ensina Cátia.

O fantasmo mexicano

O governo brasileiro teme o efeito tequila. Está tentando proteger o Brasil para não quebrar como o México. Lá, a quantidade de reservas (volume de dólares), que o Banco Central Mexicano dispunha, diminuiu consideravelmente. Os especuladores perceberam que não haveria quantidade suficiente de dólares e começaram a debandar. Rapidamente trocaram seus pesos. O México ficou sem dólares e não pode honrar seus compromissos. “Daí veio aquele empréstimo fenomenal do governo norte-americano. O maior empréstimo de governo para governo já visto pela humanidade. A garantia deste empréstimo foi as ações da empresa petrolífera mexicana. Esta política econômica do Brasil é muito semelhante a do México, compara Maia.

AMÉRICA LATINA – Os reflexos da crise brasileira na América Latina são grandes. Basta ver como está se estruturando o Mercosul. O grande parceiro comercial da Argentina é o Brasil. Os hermanos estão preocupados com os respingos do pacote fiscal brasileiro na sua economia. As importações, oriundas do vizinho, vão diminuir e, conseqüentemente, vai desaquecer a economia e gerar desemprego também na Argentina.

Na década de 60, a preocupação do país era o crescimento econômico – crescer, crescer. Nos anos 70, a grande discussão foi sobre a distribuição da renda do milagre. No início de 80, entra em pauta a dívida externa. De 84 até 94, a dor de cabeça é a inflação. Esta é uma das razões do Plano Econômico de 94 ter tanto impacto junto à população. “Ele “resolve” o problema da inflação. A partir de 94, o centro da questão é o desemprego. Tendo a dizer que este momento é mais crucial, porque o desemprego parece ser uma questão muito mais aguda para a economia. Antes a gente tinha o crescimento econômico, algum processo de geração de emprego, apesar das dificuldades. Mas a atual estrutura econômica não sinaliza soluções, pelo menos a curto prazo”, assinala Maia.

Vilão e dissídio

A história recente da economia brasileira produziu alguns vilões. O maior e o mais popular deles é a inflação, que passou a ser simbolizada por um mostro. A inflação se transformou no inimigo número um, como se fosse o único e exclusivo e sua derrota a redenção. Por conta disso, o governo federal tem conseguido justificar todos os efeitos negativos do Plano Real e da política que, entre outras coisas, tem desestruturado a economia nacional e provocado um alto índice de desemprego.

A inflação foi um verdadeiro trauma nacional. Inclusive alguns analistas atribuem a eleição e reeleição de FHC ao sucesso neste combate. Outra prova do símbolo da inflação no imaginário da população é uma certa desconfiança em relação aos índices apurados. Esta falta de credibilidade se manifesta principalmente nos períodos de negociação salarial, quando muitos trabalhadores, das mais diversas categorias, subestimam reajustes de 2% ou 4%, raciocinando com as referências do período de inflação em que os patamares de discussão giravam sempre ao redor de índices superiores a 20%.

Porém, não se pode negar que um contexto de estabilidade monetária é benéfico para todos. A constatação é da economista do Dieese, Cátia Nunes. “Há alguns anos, as categorias obtinham de 20% a 30% na data-base. Hoje recebem de 4% a 5%. É importante perceber, que 4% é mais significativo do que os 20%, porque a inflação acabava comendo o aumento rapidamente. Sem dúvida, neste sentido, o período atual é melhor”.

Mas o controle da inflação não é o remédio para todos os males. É claro que há outras dificuldades, como instabilidade no emprego, precarização das formas de trabalho, fragilização nas relações de trabalho. “Este cenário será agravado ainda mais com as medidas propostas pelo governo, como o banco de horas, contrato por prazo determinado e demissão por prazo determinado. Tudo isso dificulta muito o ambiente das negociações, que ficam acirradas”, acentua Cátia.

De acordo com os levantamentos do Dieese, 50% dos acordos fechados após o Plano Real se igualaram à inflação. Cátia constata que os aumentos reais caíram e esta é a dificuldade enfrentada na mesa de negociações. “Agora, a preocupação é a de manter conquistas trabalhistas. As categorias estão se dando conta, que hoje é mais importante lutar por isso, do que por reajuste na data-base”.

Diante deste quadro, as categorias estão centrando esforços na tentativa de elevação dos pisos. O Banco de Dados do Dieese analisou três datas-bases desde o início plano real. A maioria teve aumento real. Hoje as empresas buscam reduzir o custo fixo e aumentar o variável, com programas de metas. Elas procuram se adaptar à gangorra da atividade econômica. É uma forma de não ter custo de hora-extra, no momento em que a produção baixa.

Cátia considera difícil o cidadão comum entender a questão da deflação( baixa geral de preços), quando verifica o aumento de determinado produto. “É mesmo complicado aceitar a deflação quando o preço do feijão aumentou”, admite. Em outubro, o índice de inflação do Dieese ficou em 0,21% positivos, depois de três meses negativos. Isto quer dizer que em média os produtos no mês de outubro aumentaram 0,21%. A pesquisa se divide em grupos – alimentação, habitação, saúde, escola, limpeza doméstica, higiene pessoal, transporte, lazer e vestuário. E cada um destes tem vários itens, com pesos diferenciados na variação do mês.

A economista explica que a inflação acontece quando há uma elevação generalizada de preços. Quando a média do comportamento dos preços dos produtos num determinado período se eleva é registrada a inflação, quando cai se verifica a deflação. Como há vários índices para auferir a inflação e cada qual com sua metodologia é possível verificar uma oscilação entre eles.

Cada índice têm a sua Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). Esta verifica a quantidade de carne consumida e o peso deste item no orçamento da família, por exemplo. Em sua última POF, o Dieese observou significativa mudança na estrutura de produtos. Antes se pesquisava até anágua, que não se constitui num dado importante para a estrutura de consumo das famílias. Por outro lado, hoje aparecem CDs, que não constavam na POF anterior. O peso da alimentação fora do domicílio é maior, da mesma forma que se elevaram os custos com transporte, educação e lazer. Isto faz diferença entre os índices.

Alimentos e vestuário subiram em outubro. Com as promoções de inverno, o preço do vestuário tinha caído anteriormente. Neste momento voltaram a subir em decorrência direta dos lançamentos primavera-verão. No início do ano, se constatou um estouro no aumento do feijão. Para se ter uma idéia, o iogurte pode ter subido 10% e o feijão 5%, porém o feijão pesa mais, pelo fato do consumo ser maior. Então as pessoas têm dificuldades de entender por que o índice foi negativo, quando aumenta o gasto como os do plano de saúde. “De toda forma, a longo prazo a média dos índices têm de apontar uma mesma trajetória. E isto determina se eles são confiáveis ou não. Os do Dieese eu confio, mas não podemos esquecer que na época da ditadura houve muita manipulação, o que deixa a população temerosa”.

 

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