Olívio Dutra, um índio das Missões, como definiu seu companheiro de partido e amigo Luiz Inácio Lula da Silva, diz ser um político desde que se conhece por gente. “Não me tornei político só quando entrei para o sindicato, até porque em São Luiz Gonzaga não tinha sindicato”. Filho de agricultores sem-terra, percebeu ainda criança que a vida é dura e que, para ganhá-la, é preciso lutar. É o que vem fazendo, desde os tempos de guri, em Bossoroca, até hoje, com 57 anos, ao ser eleito governador do Rio Grande do Sul.
Com certeza, com a mesma tenacidade e ternura com que lia literatura para a sua mãe, dona Amélia, enfrentou os desafios do cotidiano e as batalhas políticas. Com a perseverança e a paciência, talvez herdadas das mãos do pai, seu Cassiano, que também tem por ofício a carpintaria, Olívio vem entalhando a sua própria consciência e a de muitos companheiros. Como os bancários dos anos de 73, 74, 75. Muitos deles ainda recordam daqueles anos de chumbo da ditadura militar em que o então funcionário do Banrisul, sempre carregando uma pastinha preta, percorria as agências bancárias, entregando folhetos do sindicato e conversando com os colegas. Antes disso, o governador eleito já fazia greve. “A primeira greve que participei foi em 1962, antes do golpe militar”. Também foi vicentino, militante no movimento de base da igreja aos 16, 17 anos. “Convivendo com a minha classe, nas relações com a minha comunidade, meus familiares, fui criando consciência de participação. Não sou político por acaso, nem porque exerci esse ou aquele cargo em algum momento da minha vida”.
Olívio nasceu no dia 10 de junho de 1941 em Bossoroca, então distrito de São Luiz Gonzaga. Tornou-se bancário ainda naquele município (funcionário concursado do Banrisul desde 1961). Transferido para Porto Alegre em 1970, em 75 foi eleito presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, sendo reeleito em 78, quando liderou a primeira greve de trabalhadores do Rio Grande do Sul sob a ditadura militar. Por essa razão, foi preso e teve seu mandato cassado. Depois foi um dos fundadores da CUT e, na primavera de 1979, em reuniões decisivas na Igreja da Pompéia, na Rua Barros Cassal, em Porto Alegre, ajudava a organizar o PT, oficialmente fundado em 17 de fevereiro de 1980. Em 86, foi eleito presidente regional do partido e, em 87, presidente nacional. Em 82, concorreu pela primeira vez ao governo do Estado; em 86, elegeu-se deputado federal constituinte, considerado “Constituinte Nota Dez” pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Venceu as eleições para a prefeitura de Porto Alegre em 1988, iniciando a seqüência de administrações petistas que se mantêm até hoje. Ao terminar seu mandato, em 92, retornou ao Banrisul, onde se aposentou em 1996. Em 94, sua segunda candidatura ao governo, quando foi para o segundo turno e obteve 45% dos votos. Em 95, foi conduzido novamente à presidência do PT/RS. Olívio é casado com a professora Judite Dutra e pai de Espártaco, de 29 anos, e de Laura, de 27 anos. Nesta série de fotos do álbum de família e dos fotógrafos René Cabrales e Inês Arigone, momentos da vida do governador eleito: na primeira comunhão, no casamento com dona Judite, quando jovem leitor em São Luiz Gonzaga, numa assembléia dos bancários no auditório Araújo Viana e nos registros da campanha, com o vice-governador eleito Miguel Rossetto, com o candidato a senador José Paulo Bisol e com a militância da Frente Popular. A explosão emotiva diante da vitória, na noite de 25 de outubro de 1998.