Ilustração: Celso Schröder
Ilustração: Celso Schröder
Minha mãe que teve de se improvisar professora por causa da falta de escola na vila de Piratini, foi quem me ensinou as “primeiras letras”. Nas lições mais difíceis, com a maior boa vontade vinha me socorrer meu irmão Paulo, cinco anos mais velho do que eu.
De lápis na mão, parecia-me estar assistindo a mágicas de circo quando uma rodinha dizia “o”, mais um rabinho e já virava “a”, um traço e um pingo diziam “i”, depois se juntavam em “ai”, “oi” e por aí afora.
O instrumento de leitura era a “Cartilha Maternal”, pelo método português de João de Deus mas ainda adotado no currículo brasileiro dos anos 30. Também português era o “Segundo Livro”, graças ao qual senti a emoção de ir reunindo palavras em frases inteiras e até li poesias:
“Viu um dia um viajante,
Escriptor de toda a fé,
Em Africa uma elephante
Vir mais um filhinho em pé.
Os indígenas começam
A atirar-lhes; porêm,
Quantas settas arremessam
Todas se cravam na mãe.”
Perguntei a meu irmão se, em vez de uma elephante em África, não ficaria melhor uma vaca em Brasil, mas ele disse que estava escrito era assim e não dava para mudar. Restou-me, porém, a séria dúvida se, a partir daí, eu deveria chamar minha professora de mãe ou maêm…
O estágio seguinte foi mergulhar no “Gibi” e outras revistinhas que o Seu Almeida distribuía na vila. Eu pedia a meu pai um moeda de 400 réis e lá saía correndo para adquirir o último exemplar de “O Globo” Juvenil.
Quando cheguei ao ginásio, em Pelotas, já era um fanático na leitura das aventuras de Barney Baxter, do cow-boy Bronco Piller, Brick Bradford, Flash Gordon, Mandrake e Super Man. Outra alternativa era a leitura – só em texto, sem quadrinhos – dos contos de Stephen Dirck. Então convidei meu primo Mário Mattos para ele desenhar uma história em quadrinhos que eu escreveria; mas ele não se entusiasmou, e decidi escrever puro texto.
Mostrei a outro primo, o Osvaldo, e ele gostou. Então parti para um primeiro livro, completo. Foram 21 capítulos, em 60 páginas que eu mesmo datilografei. Meu irmão já estava cursando o Pré-Técnico, em Porto Alegre, e tive de aguardar até que ele viesse, nas férias, para lhe mostrar aquele exemplar único (não havia xerox na época) de minha estreia como escritor:
“UM ASSASSINATO NO TEXAS”.
O Paulo iria aprovar ou desaprovar o meu cow-boy Dick Pender?…
* Luiz Carlos Barbosa Lessa é historiador, folclorista e escritor.