OPINIÃO

Os ideais de Che sobrevivem em Cuba

Augusto César Petta / Publicado em 6 de novembro de 1997

Há 30 anos, em outubro de 67, na Bolívia, faleceu Che Guevara, grande líder revolucionário que, com muita coragem, se opôs às grandes injustiças que se abatiam sobre o povo latino-americano e trabalhou para a construção de uma sociedade justa e solidária.

Recentemente, em agosto, tive a oportunidade de conhecer Cuba e pude compreender com mais intensidade o significado da figura de Che para o povo Cubano. Participei, em Havana, ao lado de mais de 300 sindicalistas brasileiros do Encontro Internacional dos Trabalhadores frente ao Neoliberalismo e à Globalização. Representei a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), no encontro que reuniu mais de 1.200 trabalhadores de 453 organizações sindicais, políticas e acadêmicas de 63 países, inclusive a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Tratou-se de um grande ato condenatório do neoliberalismo, modelo capitalista responsável pela concentração da riqueza nas mãos de minorias, desemprego crescente, privatizações de serviços públicos essenciais e de empresas estratégicas para a soberania das nações, aumento da ex-ploração do trabalho e da violência. Para impôr essa política excludente, em todo o mundo, os governos neoliberais golpeiam o movimento sindical e as organizações populares. O encontro condenou o Governo dos Estados Unidos “pelo criminoso bloqueio e pela guerra econômica, política e diplomática praticada contra o heróico povo cubano”, e conclamou “todas as forças progressistas do mundo a manifesta-rem, de todas as formas possíveis, sua solidariedade a Cuba”. Novo encontro internacional, com o mesmo caráter, será realizado em 1999, no Brasil.

Tive um impacto muito grande ao conhecer Cuba e seu povo. Impacto de quem sonha, há anos, com a sociedade socialista. De repente, me vi inserido num ambiente em que muitas pessoas lutam com todas as suas forças para manter o socialismo que conseguiram construir. Com muita fluência, os cubanos falam de política, de Che Guevara e de Fidel.

Cuba tem uma história marcada pela heróica luta de seu povo. Há anos o povo cubano resiste bravamente e alcança vitórias significativas. Grandes destaques foram a Guerra da Independência Nacional e a Revolução de 1959, um duro golpe para os interesses dos EUA. Desde então, as provocações e agressões americanas são constantes.

Até 1990, as relações com a antiga União Soviética e países do Leste Europeu amenizavam as conseqüências do bloqueio econômico americano. Com a queda das experiências socialistas, a situação cubana complicou-se. O estímulo ao turismo foi uma das principais saídas para manter-se a estabilidade. Mas junto com o turismo retornaram alguns problemas que a revolução tinha resolvido, inclusive a prostituição e o mercado paralelo.

Em Cuba, o povo não possui bens como os ricos brasileiros, mas também não passa fome, como parcela significativa da nossa população. Trata-se de uma sociedade em que há mais justiça e maior equilíbrio social. Não vejo a possibilidade de construir a felicidade humana num sistema político, social e econômico, cuja base é a exploração, como é o caso do capitalismo. Na minha opinião, a possibilidade de se construir uma sociedade justa e democrática está num sistema de qualidade superior, socialista. Por isso, a defesa da experiência socialista em Cuba é uma tarefa de todos nós, que almejamos uma nova sociedade.

* Augusto César Petta é presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) e diretor do Sindicato dos professores (Sinpro) em Campinas-SP.

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