GERAL

Música e magistério

Valéria Ochôa / Publicado em 6 de novembro de 1997

Pedro Francisco da Silva Filho saiu da casa dos pais, em Canoas, decidido. Queria ser padre para servir a Deus. A decisão nasceu com sua participação nos grupos de jovens da igreja católica, que por sua vez o atraiu pela música. “Sempre estive ligado a instrumentos de percussão. Meu pai e meu tio saiam em escolas de samba”, conta. Tinha 18 anos de idade quando entrou no Seminário Maior de Viamão e começou a cursar Filosofia na Faculdade de Filosofia Imaculado Coração de Maria. “Na verdade, era uma visão ingênua minha”, pondera hoje, aos 32 anos de idade.

Em pouco tempo, Pedro diz que começou a perceber diferenças entre a sua ideologia e a da formação pregada pelo seminário. “Aquela instituição tem uma estrutura fundamentalmente germânica de modelo de padre”, explica. Nesta época, o jovem participava do grupo Agentes de Pastoral Negros e começou a dar palestras em escolas e instituições sobre a questão da negritude, de problemas raciais. “Isso também criou atrito com a formação praticada lá”.

No final de 1988, o jovem estava decidido a abandonar o seminário. “Além destas questões, havia a possibilidade de eu realizar o sonho de ir para a África, trabalhar como voluntário”, recorda. O sonho não foi concretizado e Pedro se deparou com o magistério. “Era a única coisa possível que conseguia me ver realizando”, diz. No início de 1989, começou a dar aula de religião no Colégio Bom Conselho, em Porto Alegre. O professor titular da disciplina havia pedido demissão. Filiado ao Sinpro/RS desde aquele ano, ele chegou a fazer parte da direção do sindicato na gestão passada. Hoje, discordando da atual linha política da entidade, integra o grupo de oposição chamado Sinpro Alternativo. Também, trabalhou nas escolas São José, em São Leopoldo e Montenegro. Ministrava aulas de didática da música, introdução à filosofia, religião e filosofia da educação.

Pedro nunca abandonou a música, que o atraiu para o grupo de jovens e que vivenciava em casa com o pai. Fez vários cursos de técnica vocal e ajudou a formar a banda de rock and roll, Fruto de nós, em Gravataí. Passou a escrever letras de músicas também. Praticamente, todas de análise social. Legião Urbana e Barão Vermelho foram as bandas brasileiras que mais influenciaram o seu trabalho nesta área. Mas ele tem como ídolos ainda Louis Amstrong, Bob Marley, entre outros.

Pedro também é vocalista da banda de reagge e pop Baião D2 – um dos grupos que fez a abertura e o fechamento da última Feira do Livro de Porto Alegre. Baião D2 é o nome de um prato típico nordestino, composto por arroz, feijão e dois ovos. “Usamos este nome justamente para tratar da brasilidade da música, é um som bem mais rico”, observa. Os ensaios são realizados pelo menos três vezes por semana. A Baião D2 já tem material promocional gravado e a promessa de algumas gravadoras de um CD. E, ambas as bandas, tem participação em um CD do PVSinos, Festival de Música da Unisinos.

A música não é um hobby qualquer para Pedro. “A minha profissão foi de professor até o momento que eu descobri de fato a possibilidade real da música em mim,” explica. “O magistério não é um peso, eu sei fazer e é um trabalho muito importante. Mas, a princípio, se a banda deslanchasse não hesitaria em me dedicar exclusivamente para música”.

Há quatro meses, Pedro casou com Cláudia, que tem uma filha chamada Aline. Dá aulas de religião no Colégio Bom Conselho (1º e 2º graus) e de música no Colégio Menino Deus (1º grau) para uma média de 550 alunos. “A função do professor é desvelar”, expõe, considerando sua admiração pelo trabalho do educador Paulo Freire. “Mas tem de ter a competência de saber como possibilitar este desvelamento”.

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