CULTURA

A praça é do livro

Dóris Fialcoff / Publicado em 7 de outubro de 1997

Quando tudo começou, em 1954, provavelmente eles já estavam lá, majestosos. Os jacarandás, anfitriões naturais da Feira do Livro de Porto Alegre, este ano não contribuirão tanto, como de costume, com o cenário.

 

Apenas alguns das tantas vítimas do caos climático que assola o planeta, em plena primavera, eles estão deprimidos, sem o colorido vivo de suas flores.Entretanto, a Feira está aí, maior e mais moderna. Jovem senhora, completa 43 anos e, para o delírio dos seus apaixonados, dará uma festa que só terminará no dia 16 de novembro. É um verdadeiro culto ao Sr. Livro, muito reverenciado, desejado e até disputado pelo povo.

Dos transeuntes, dos curiosos, amantes da Dona Literatura, aos cientistas, artistas, aos maníacos pela boa leitura, todos são incansáveis em suas buscas pelas barracas, este ano, 128. Não são poucos os que também se deliciam com as aventuras do que parece um verdadeiro garimpo, certos de que, em meio a tantas riquezas, serão ainda contemplados com alguma preciosidade para suas bibliotecas particulares. Colírio para os olhos, munição e satisfação para o espírito, a Feira do Livro da capital do estado leva ainda a boa fama de oferecer produtos de primeira com 20% de desconto, além de oportunizar tentadoras caixas de saldos. E mais: nesta edição, cerca de 300 autores estarão autografando na Praça e outras 260 obras sendo lançadas. A campanha publicitária sobre o tema Incentivo à leitura foi criada e dirigida por Jesus Iglésias, desenvolvida pelos cartunistas gaúchos, Moa, Edgar Vasques, Eloar Guazelli, Alan, Santiago, Sampaulo, Iotti, Canini, Juska, Bier, Ronaldo, Fábio Zimbes, sob a supervisão de Luis Fernando Verissimo.

No meio disso tudo, entre uma barraca e outra, durante a paradinha no bem freqüentado bar da Feira, nas apresentações artísticas e debates, é comum leitores e escritores se esbarrarem. É nessas situações que um mito pode virar gente.

MERCOSUL – A Feira do Livro de Porto Alegre é considerada a maior e a mais antiga do gênero, que acontece em espaço aberto na América Latina. Este ano – a exemplo de algumas edições anteriores – avança também pelo calçadão da Rua da Praia, pelas salas do tradicional Clube do Comércio, em frente à Praça da Alfândega, e Auditório Querência da Caixa Econômica Federal. As alamedas laterais secundárias da Praça da Alfândega continuam sendo ocupadas e também o prédio histórico dos Correios e Telégrafos. O Museu de Arte do Rio Grande do Sul sediará algumas atividades.

No Salão de Chá do Clube do Comércio, por exemplo, ocorrerá o programa Cadeira Quente: cada dia um autor do Rio Grande do Sul responderá perguntas de críticos convidados e do público. Também para o Clube do Comércio, estão programados painéis sobre as obras de vários convidados especiais: o peruano Mário Vargas Llosa, autor de Batismo de fogo, Conversas na catedral, A Guerra do fim do mundo; a mexicana Laura Esquivel, conhecida pela novela Como água para chocolate; Gilbert Shelton, um dos mais importantes e populares criadores de histórias em quadrinhos da década de 60, dos Estados Unidos; o espanhol Fernando Arrabal; o equatoriano Jorge Enrique Adoum; Carmem Balcells, agente literário da Espanha; e dos brasileiros Ignácio de Loyola Brandão e Paulo Coelho. Alguns deles também participarão de conferências, incluindo Luiz Antonio de Assis Brasil, Décio Pignatári e José Wilker. Segundo a assessoria de imprensa da Feira, todos estes escritores participarão dos painéis Encontros com a Literatura – espaço de debates inaugurado com sucesso no ano passado. Serão também realizados seminários sobre temas como: Vinte anos sem Clarice; Fim de Século; Globalização e perspectivas; Movimentos sociais brasileiros e A literatura negra contemporânea, no Salão de Bridge do Clube do Comércio. E ainda: Morte e significados; Acesso à leitura: o papel da biblioteca; O papel da imprensa no incremento da leitura e O livro na virada do século, no Auditório Querência, da CEF. Haverá também o Cinema na Praça: projeções ao ar livre de filmes baseados em obras literárias. Em uma sala de vídeo serão exibidos documentários sobre “o livro” e a literatura, como também um ciclo de longa-metragens realizados pelo dramaturgo Fernando Arrabal.

HOME PAGE – A Feira Internacional, localizada no hall do Memorial Político, conta com a participação de doze países, entre eles Argentina, Portugal, Hungria, Itália, França e Cuba. Segundo material de divulgação da Câmara Rio-Grandense do Livro, “o interesse das editoras estrangeiras se explica pelo significativo incremento das vendas de livros em espanhol verificado nos últimos anos, devido à intensificação das relações entre os países membros do Mercosul”.

Para acolher as crianças, um pavilhão foi especialmente projetado. A Feira Infantil terá nove expositores, espaço para shows e atividade lúdico-pedagógicas.

Os internautas poderão obter informações diárias sobre público, vendas e a programação paralela na homepage da Feira. Além de visitas virtuais aos locais do evento, também será possível saber sobre as promoções organizadas pelos expositores em suas barracas e em suas empresas, já que cada um terá também uma home page própria conectada à Feira. De qualquer parte do mundo, será possível encomendar livros à venda na Feira, inclusive autografados pelos autores presentes. A 43ª Feira do Livro de Porto Alegre tem o patrocínio da Copesul, Grupo Gerdau e ECT.

ORGULHO – O Rio Grande do Sul está cada vez mais semelhante a um oásis para os sedentos por cultura e informação. No início de setembro, de 2 a 5, Passo Fundo mais uma vez estendeu uma lona de circo para receber cerca de três mil pessoas na VII Jornada Nacional de Literatura. Foi, sem dúvida, um banquete e, como sobremesa, Porto Alegre servirá a sua 43ª Feira do Livro. Tânia Rösing, Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão da Universidade de Passo Fundo (UPF), coordenadora da jornada, diz que a “realização da 43ª edição mostra a consolidação de um movimento em prol da divulgação do livro e da necessidade de ampliar o diálogo entre autores e leitores, e também estimular a formação de novos leitores”. E completa: “esta continuidade também revela que o livro não se intimida frente a novas linguagens, mas sugere que os leitores conheçam a natureza diversa que subjaz à lin-guagem de diferentes manifestações culturais”.

O Prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, acha que a Feira do Livro é o acontecimento cultural mais importante da capital. “Não apenas por sua longa história – afinal ela se repete há 43 anos – mas, principalmente, pelo seu significado profundamente democrático e social”, define. Ele entende que, além do incentivo à cultura, a Feira propicia “momentos de rara convivência a céu aberto, na praça”. O Prefeito comenta que o evento já tem uma perspectiva internacional e que “repercute além das nossas fronteiras”. E arremata: “A Prefeitura de Porto Alegre tem orgulho de ser parceira privilegiada da Câmara Rio-Grandense do Livro neste acontecimento que, além de tudo, é uma parcela de vital importância para a tão desejada recuperação do Centro de Porto Alegre”.

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