GERAL

O mestre que faz literatura

Valéria Ochôa / Publicado em 7 de outubro de 1997

O curso de Letras, concluído em 1988, não foi um mero acaso ou oportunidade na vida de Marlon Mello de Almeida. Resultou da paixão pela Literatura. O mesmo sentimento que o levou a se tornar um “fazedor” de literatura. “Comecei a me dar conta de que haveria uma possibilidade de eu transformar em texto alguns olhares que lançava para a sociedade, para certos aspectos do cotidiano, olhares poéticos”, confidencia o professor. “A literatura tem muito de transpiração. É bobagem dizer que é só inspiração”, diz.

Hoje, aos 31 anos, Marlon tem dois livros de poesias editados: Histórias de um domingo qualquer, que reúne poemas escritos entre 1988 a 1994 (pela editora AGE – 1994), e Domingo desde a esquina, que acabou de sair. Lançado no último dia 14 de outubro, na Escola Santa Rosa de Lima, este segundo livro, com poesias sobre as prostitutas, integra a programação de autógrafos, no dia 9 de novembro, às 17 horas, da 43ª Feira do Livro de Porto Alegre. Mas a produção não pára por aí, um terceiro livro já está por vir: Domingo de futebol e outros poemas. Marlon também prepara outro trabalho. Por que os títulos referem-se sempre ao domingo? “Porque a maioria das poesias escrevi nos domingos, único dia da semana em que eu realmente posso me dedicar a elas. Isso sem falar da melancolia do domingo, da poesia das ruas vazias”.

Porto-alegrense, descendente de alemão, Marlon sempre foi um guri meio inquieto. Antes mesmo de terminar o curso de Letras na UFRGS, já ensinava Português e Literatura em instituições de ensino privado de Porto Alegre. Trabalhar no então, Sulbrasileiro para se sustentar, não estava dando certo, explica ele. “Os serviços burocráticos me deixavam enfadado”.

Seduzido pela possibilidade de trabalhar no ramo de hotelaria, assim que concluiu a graduação subiu a Serra Gaúcha para fazer um cursinho rápido de seis meses na área. Logo, surgiu proposta de emprego e acabou embarcando para o Nordeste. Por dois anos trabalhou em hotéis de Recife, São Paulo e Santa Catarina. Mas não estava contente. Não sobrava tempo para ler. Quando gerenciava uma pousada em Santa Catarina, foi surpreendido pelo proprietário lendo Os Mais, de Eça de Queiroz. Estava teoricamente no horário de sua folga. Teoricamente. “Ele ficou irritado e quis me ofender, dizendo que eu deveria era permanecer mesmo como um professor de literatura”, lembra. “E aí eu tive aquele estalo. O que eu estou fazendo aqui?”.

Pouco depois, no início de 1992, estava em Porto Alegre, trabalhando como professor de Português e Literatura, e com um longo projeto para desenvolver: mestrado e doutorado em Literatura. “Foi aí que comecei a abraçar a profissão de uma maneira mais decidida”. O mestrado, sobre a Literatura de Cordel, já está concluído na UFRGS. O projeto para o doutorado, em que pretende traçar um paralelo entre a Literatura de Cordel e a Literatura Medieval, está em andamento. O ensino no 3º Grau também está nos planos.

Marlon chegou a dar 66 horas/aula semanais em supletivos, cursinhos pré-vestibular e escolas da Região Metropolitana. No supletivo do Mauá diz que desenvolveu um método mais descontraído, alegre para ensinar, marca que traz até hoje. “Era um público muito heterogêneo”, explica. “Descobri que misturando o conteúdo sério com coisas de humor as aulas ficavam mais proveitosas para os alunos e para mim mesmo”.

Hoje está no Colégio Sévigné e na Escola de 1º e 2º Graus Santa Rosa de Lima com 44 horas/aula semanais. Lê muito, por obrigação profissional e por prazer. Na verdade, diz que chega a ler de quatro a cinco livros ao mesmo tempo, sem contar os de poesia. Entre seus autores preferidos indica Fernando Pessoa e as gaúchas Lila Ripoll e Lara de Lemos.

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