Luiz Carlos Vascondellos Coelho pode ser bancário aposentado, artista plástico irreverente, protagonista de performances artistas memoráveis, mas nunca deixará de ser professor. Primeiro que ele sempre gostou de trabalhar em grupo.
Há dez anos, na primavera de 1987, ele, Gelson Radaelli, Deise Viola, Lara Spinosa, Fernando Bakos e outros artistas supreenderam os passageiros do Trensurb.Foi uma espécie de exposição itinerante, das 19 às 21 horas, de Porto Alegre a Sapucaia do Sul.
Coelho, como é chamado pelo amigos mais íntimos, não deixa de ser professor não porque tenha se formado em Física e Matemática ainda no tempo em que estes cursos integravam a Faculdade de Filosofia da UFRGS. Tampouco, Coelho jamais deixará de ser professor pelo fato de ter trocado o magistério pelo Banco do Brasil, numa época em que ingressar no BB significava um futuro sem grandes atropelos econômicos para um rapaz vindo do interior, de Santa Maria, por exemplo, como é o caso dele.
É que, embora tenha lecionado na rede estadual e no Colégio Rui Barbosa, ele reservou para o magistério mais uma vocação do que uma profissão. No período em que o professor Coelho iniciava a carreira, também como agora, a educação era das prioridades primeiras. “Se não me engano era a época do Perachi Barcelos, o salário estava atrasando até seis meses, me antenei e comecei a fazer concursos. Entrei para o Banco do Brasil, tudo que eu tenho consegui trabalhando como bancário”, reconhece. Foi trabalhar na agência de São Sepé, cidade natal de sua esposa, e onde freqüentemente ele vai fazer oficinas de arte com estudantes.
Artista plástico autodidata – que também cursou por uns tempos Arquitetura na UFRGS – ele jamais afastou-se do mundo escolar e dos alunos. De alguma forma, boa parte dos seus 63 anos estão dedicados à educação. Prova disso é uma idéia generosa que o pintor, desenhista e escultor vive repetindo. “Assim como tem biblioteca – umas são uma salinha outras apenas uma estante – as escolas deveriam ter pinacotecas. É a convivência que ensina a gente a ler e a apreciar a obra de arte”, assinala este artista que só não está no circuito comercial de arte pelas injustiças e idiossicrasias do mercado de arte. Em 1985 fez uma série de pinturas em homenagem aos 100 anos de nascimento do compositor cubano Ernesto Lecuona. Expôs na Câmara Municipal de Porto Alegre e logo doou a série para o Centro de Comunicação da Unisinos.
Coelho prescindiu do mercado de arte e investiu não apenas no circuito institucional de cultura – museus, casas de cultura – mas no lugar onde se exerce o magistério formal. Junto com o mesmo grupo de artistas que fez a performance no Trensurb, Coelho percorreu escolas da rede escolar – Rubem Berta, Anchieta, Instituto de Educação, Júlio de Castilhos – promovendo oficinas e exposições com o trabalho dos estudantes. As fotos desta experiência são troféus que ele mostra aos visitantes com entusiasmo. Comparável a esta turnê artística só mesmo as oficinas realizadas com internos da FEBEM. “Uma experiência humana e tanto. Eles são crianças de uma carência comovente”, recorda disfarçando a emoção.
Claro que o artista plástico e o professor de Matemática e Física se dão bem. Uma escultura feita de pedaços de basalto amarrados com arame é apenas uma pista do diálogo. Podem haver diferenças de vocabulário, mas o pensamento artístico e o pensamento lógico-formal são ambos pensamento. A tal escultura, feita em suporte não-convencional, é uma figura humana impressionante: abriga toda a trigonometria; cada parte do corpo corresponde um elemento, seno, cosseno, tangente, cotangente. Preocupação didática? Não, propriamente. Apenas um diálogo óbvio. Interesse didático mesmo é a cartilha que ele preparou sobre papel machê. “Algo tão bonito, sim-ples, ecológico e barato”, exclama, admirado que a técnica não seja mais difundida nas escolas. Mas o que pode fazer um professor? “Ah. Um bom professor muda”.
* COISA DE MESTRE quer revelar o perfil humano e o trabalho dos profissionais do Magistério. Se você conhece algum professor que desenvolva outras atividades de forma profissional ou como hobby, faça contato com o Extra Classe. A Redação agradece.