GERAL

Retratos de um professor

Dóris Fialcoff / Publicado em 9 de julho de 1997

Diferentes formas de linguagens são com ele mesmo, estejam elas na literatura, na música, no teatro ou nas fotografias. José Cleides Arruda Celmer, 42 anos, é formado há 15 anos em Letras – habilitação inglês/português e respectivas literaturas, mas, já bem antes disso, aventurava por ou-tro terreno que o seduzia: o da fotografia. Um curso rápido, apenas o básico, lhe deu condições para manejar os equipamentos e sair à campo. A convite de um amigo chegou fazer algumas reportagens sociais (festas, casamentos), mas isso não durou. “Eu gosto da fotografia voltada para a arte”, afirma.

O professor Celmer, como é conhecido pelos seus alunos de inglês, de primeiro e segundo graus, morou com a família durante cinco anos em Santa Vitória do Palmar. Ao retornarem a Rio Grande, acredita ter redescoberto a cidade. “Comecei a ver que ela era geograficamente privilegiada”, diz, relembrando as manhãs de inverno que ficava na beira do cais olhando para os casarões. “Fotografei os detalhes dos prédios e monumentos de Rio Grande, aqueles que são imperceptíveis, que a gente olha o todo e não os vê”, conta Celmar, revivendo o momento em que nasceu a idéia transformada na mostra fotográfica Rio Grande para todos os olhares, exposta pela segunda vez nos pavilhões da Festa do Mar, em março deste ano. Simultaneamente, no Museu Histórico da cidade, outro trabalho seu estava sendo apresentado, este sobre as quatro academias de dança locais. Mas, as coisas não param por aí, além do museu já possuir uma fotografia feita por Celmer enfeitando uma de suas paredes, a mesma, que exibe o chafaris da Pra-ça Tamandaré, estará no peito dos turistas que passarão por lá, ou seja, estampada nas camisetas promocionais de Rio Grande.

Apaixonado pelo que faz, Celmar não esconde a vaidade quando diz ter fotos que algumas pessoas julgaram ser pinturas. “Já teve quem olhou atrás da cópia, para ver se era mesmo papel fotográfico”, orgulha-se, atribuindo a isso o fato de não ser adepto às manipulações em laboratório, preferindo os resultados obtidos com a luz, as sombras, existentes na hora do “clic”. “Gosto de registrar o momento e deixar como foi”.

Em casa, o apoio é total. A esposa e a filha de 15 anos, Elisa, sãos suas fãs de carteirinha. “A Nilza adora. Eu devo muito à ela, porque fotografia provoca muita despesa, e ela não tem reclamado”, compartilha Celmar, confessando que o seu amor pela arte “acabou desaguando na escola”. Em uma delas criou um grupo de teatro; em outra, realizou uma mostra de bandas de rock, na qual comemora o bom número de inscritos. Em relação à fotografia, pretende fazer uma mostra de trabalhos fotográficos realizados pelos alunos. “Eu leciono em uma escola pública que tem 2 mil alunos. Ali tem uma infinidade de talentos que estão escondidos”, conclui o professor. “Se não mostrar o trabalho para alguém, não vai saber se é bom ou não. É essa a preocupação das pessoas envolvidas com a arte: talvez mais importe o aplauso do que a remuneração”.

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