“Várias pessoas vinham com o jornal e me falavam: “Olha aqui tu”. Vi gente falando um monte de coisa: “Não chega perto daquele cara, porque aquele cara tem o vírus…” Eu tenho um familiar que tem o vírus do HIV. Ele sofre muito com isso. As pessoas falam para ele: “Tu tens o vírus do HIV, não chega perto de mim. Come só com a tua colher, teu prato, teu copo, não mexe aqui, não mexe ali, que eu posso pegar.” A pessoa que tem o HIV sofre preconceito. Eu me coloquei no lugar do meu parente e me senti mal. Conheço várias pessoas que têm o HIV. Há muitos que tentam fazer que não existe isso, que não estão nem aí. Eu sinto que as pessoas que fazem de conta que não têm devem se sentir mal por dentro, deve passar até na cabeça de se matar, ou coisa assim, porque um amigo já falou isso pra mim. Quando ele falou isso, eu disse que não era certo, mesmo ele tendo o vírus – não é o HIV que vai tirar a vida dele. Só se ele não se tratar. Não deveriam ter esse preconceito porque, de repente, pode acontecer comigo, como pode acontecer com outra pessoa de pegar o vírus. Essa pessoa que tá com preconceito hoje, amanhã aparece com o vírus. Com que cara ela vai ficar depois? O preconceito machuca. Eu me senti o último, parecia que tinha explodido um troço em mim”.