Ilustração: Rafael Sica
Ilustração: Rafael Sica
E embora o verbo compartilhar esteja na onda, nada é de fato compartilhado numa boa – a não ser a saliva na conjugação. Acumular, na base do tudo-pra-si-nada-pros-outros, está no dna do pior dos primatas. Tinha que virar um cacoete da espécie, e o rol de mesquinharias desenrola-se pelai.
Mesquinharia tem de todo tipo: de P e M a G e XL; de mg e ml a toneladas; de milimétrica a quilométricas; de fração de segundo a milenares; de monocromáticas a policromias; de norte a leste, de sul a oeste; de inaudíveis a cacofônicas; de macro a micro; de específicas a genéricas; de singulares a plurais; de mdc a etc.
Quando circulamos é que as mesquinharias desfilam: no majestoso edifício, o toldo protetor da chuva cobre só o portão, dali até o hall é toró no lombo. É mesquinharia de vários autores – da construtora, do arquiteto, do síndico.
Ao viajar, as mesquinharias surgem na medida da redução de custos, que toma assento nos veículos com rodas, asas ou cascos. Cada cm de desconforto pro passageiro rende fortunas à engenharia triunfante do custo-benefício.
Nas refeições, a mesquinharia adora a balança da comida a quilo (aquilo é comida?), se refestela em embalagens mínimas e tem prazer em baixar o nível dos ingredientes desde os banquetes aos coquetéis.
A mesquinharia debocha do consumidor em serviços e produtos; desdenha dos dependentes dos planos de saúde; faz pouco de quem não consegue seus direitos com as seguradoras; ri às custas do contribuinte sem a justa contrapartida das administrações públicas.
Até a meteorologia diversifica sua mesquinharia: ou há escassez de chuva ou falta equilíbrio entre frio e calor.
(Eu ia continuar com o tema pelo resto do jornal mas vou me amesquinhar no assunto, paro aqui. Afinal, o leitor pode não ser mesquinho em sua desatenção.)