Gincanas mobilizam cidades
Foto: Equipe Kamicase/divulgação
Foto: Equipe Kamicase/divulgação
Para se ter uma ideia da proporção que as gincanas tomaram em algumas regiões, basta citar como é feita sua organização. A Gincana Cultural de São Jerônimo, por exemplo, que no mês de setembro realizou sua 29ª edição, e é apontada por gincaneiros como a mais antiga entre as das cidades, tem apoio da prefeitura e é realizada pela Liga Independente das Equipes da Gincana Cultural de São Jerônimo (LIEGCSJ). A Liga, entidade sem fins lucrativos, integrada por membros da comunidade e representantes das equipes participantes, por sua vez, contrata uma equipe organizadora de gincanas. É esta espécie de organizadores profissionais que pensa diferentes grupos de tarefas, formata pontuações e adapta o jogo à realidade de cada município. De acordo com as estimativas feitas pela LIEGCSJ, em São Jerônimo os investimentos para a organização da brincadeira são de aproximadamente R$ 100 mil. Por isso, a Liga pleiteia obter recursos da Lei de Incentivo à Cultura (LIC).
As ligas argumentam que, além de se constituírem em evento cultural, nas cidades as gincanas demandam envolvimento que se estende por praticamente todo o ano. As equipes levam tão a sério a brincadeira que se formou uma espécie de rede entre os municípios. Assim, equipes de uma determinada cidade atuam como equipes auxiliares, agregando-se às equipes locais, quando há gincanas fora de seu município. Quem é de São Jerônimo ajuda, por exemplo, em Portão ou em Rolante, e quem é de Rolante faz o inverso. Nesta época do ano, o calendário é apertado. No mês de agosto aconteceu a gincana de Taquara, em setembro as de Rolante e São Jerônimo, em outubro, as de Butiá e Portão. Em novembro é a de Gravataí.
“Praticamente toda a cidade participa das gincanas. É como a gente costuma dizer, porque as equipes têm integrantes dos oito aos 80 anos e tem tarefas para todos”, resume Guilherme Linberger. Ele é um dos integrantes da Equipe Esfinge que, neste ano, organizou as gincanas de Minas do Leão, Taquara, Rolante, São Jerônimo e Gravataí. Os organizadores também têm uma forma própria de estruturação. Geralmente, eles participam de outras equipes competidoras, em cidades onde não organizam as gincanas. “Na Esfinge temos pessoas de Butiá, Novo Hamburgo, Portão e São Leopoldo. São diferentes grupos sociais, de diferentes cidades e todos têm outras atividades. Então, às vezes, a gente se estressa bastante, mas vale a pena”.
Equipes com até 300 pessoas
Quem está acostumado a competir em gincanas sabe que os jogos possuem uma estrutura dividida em pelo menos seis tipos de tarefas, de forma a permitir que pessoas de diferentes idades e com perfis diversos possam integrar ou colaborar com as equipes. O primeiro grupo é aquele considerado próprio para os competidores experientes, devido a seu alto grau de dificuldade. São as chamadas Tarefas de Lógica, como as charadas, que envolvem muito raciocínio e conhecimentos em diferentes áreas.
O segundo grupo abrange as Tarefas Artísticas, que incluem apresentações musicais, de dança ou teatro. Este é um grupo que se desenvolveu muito nos últimos anos. De tal forma que existem cidades que produzem, para a gincana, espetáculos de alta qualidade e que já começaram a atrair a atenção de turistas. O terceiro é o das Tarefas Esportivas. São os tradicionais jogos e corridas e, não raro, requerem certo grau de habilidade.
O quarto grupo está entre os mais apreciados pelos participantes. É o das Tarefas de Rua, que incluem, por exemplo, as caças noturnas a objetos específicos. O quinto grupo é o das Tarefas de Velharias.
É aquele em que as equipes precisam apresentar objetos determinados, via de regra relacionados à história ou ao imaginário da cidade. E o sexto grupo é o das Tarefas Variadas, aquelas que não se enquadram em nenhuma das outras categorias. “É aquele onde são pedidas coisas como uma vaca marrom de um chifre só”, exemplifica o organizador Guilherme Linberger.
Realizadas aos finais de semana (várias vezes em mais de um), as gincanas municipais têm a etapa de tarefas concentrada geralmente entre o início da noite de sábado e o início da tarde de domingo, o que aumenta ainda mais a expectativa e os preparativos dos participantes, cujas equipes se dividem em QGs, seguindo a regra tradicional dos jogos. Noites insones, caçadas noturnas e o desespero na busca por objetos que parecem não existir deliciam crianças, viram festa para adolescentes, divertem e ocupam adultos.
Ter uma equipe grande ajuda, mas ela precisa ser bem-organizada. A Equipe Phoenix, que em 2012 pelo terceiro ano consecutivo venceu a Gincana Cultural de São Jerônimo, contou nesta última edição com aproximadamente 300 pessoas. “O principal é a organização e os apoios. A gente se subdivide dentro da equipe. Aí tem o pessoal das charadas, o dos objetos, e por aí vai”, explica Luis Fernando Oliveira, um dos coordenadores da Phoenix.
São Jerônimo é referência
Apontada como referência entre as competições realizadas em cidades no estado, a Gincana Cultural de São Jerônimo comemorou neste ano sua 29ª edição, foi disputada por seis equipes nos dias 22, 28, 29 e 30 de setembro, e teve a participação de 5 mil jogadores ou apoiadores. Na cidade, os jogos que começaram a ser realizados na década de 1980 como parte da Festa em Homenagem a São Jerônimo, padroeiro da cidade, hoje atraem a atenção de milhares de pessoas da região. Neste ano, o tradicional baile, quando acontecem as apresentações artísticas, bateu recorde de público: 6 mil pessoas. Para se ter uma ideia do que isso representa na cidade, vale lembrar que São Jerônimo tem população total de 22 mil habitantes.
Com o tempo, a gincana acabou por se tornar o grande evento da cidade e, asseguram seus organizadores, da região. Desde 1990, e como parte da origem em função da festa do padroeiro, a competição tem um show de escolha da rainha como abertura que é como um espetáculo a parte. Porque o critério para a premiação não é a beleza da candidata e sim a apresentação mais criativa, em espetáculos que unem teatro, dança e música. Como regra, o elenco precisa ser da comunidade de São Jerônimo e a participação de profissionais e de pessoas de fora do município é vetada.
Depois desta etapa, realizada durante o primeiro final de semana do evento, a gincana da cidade possui mais três, que acontecem quase que em ritmo de maratona, no final de semana seguinte: o desfile de rua, as tarefas e o show de encerramento. O desfile de rua, que abre as atividades do segundo final de semana de comemorações, é outro momento forte de participação da comunidade. Assim como os shows artísticos, ele também é uma das tarefas na gincana. E, nele, as equipes devem compor alas de forma a integrá-las com o público presente.
Na última noite da competição, um domingo, quando são entregues os prêmios e troféus, ainda há sorteio de brindes, apresentações musicais e show de fogos.
Foto: divulgação