OPINIÃO

Quem ganhou e quem perdeu um ano após o impeachment?

Publicado em 13 de setembro de 2017

 

Se, por um lado, o governo Temer aplicou cortes brutais de investimentos em Saúde, Educação, Infraestrutura, Políticas sociais, por outro, foi extremamente generoso na destinação de recursos para a mídia

 Michel Temer durante amigável entrevista para o programa Roda Viva, na TV Cultura de SP

Foto: Beto Barata/PR

Michel Temer durante amigável entrevista para o programa Roda Viva, na TV Cultura de SP

Foto: Beto Barata/PR

O último dia 31 de agosto marcou a passagem de um ano da consumação do golpe parlamentar, jurídico e midiático contra Dilma Rousseff, eleita com mais de 54 milhões de votos nas eleições de 2014. Qual o balanço desse período? Quem ganhou e quem perdeu? Uma comparação entre duas categorias de gastos governamentais dá uma pista para responder essas perguntas.

Um dos setores mais rápida e diretamente beneficiados com o golpe foi o das grandes empresas de comunicação. O governo de Michel Temer gastou praticamente toda a verba de publicidade prevista para 2017 – mais de R$ 200 milhões – somente no primeiro semestre. Só a campanha publicitária em defesa da reforma da Previdência consumiu aproximadamente metade desse valor. Além da concessão de cargos e emendas parlamentares, a propaganda também virou moeda de troca em busca de votos no Congresso para a aprovação dessa reforma.

A campanha publicitária em defesa da reforma da Previdência drenou, em 2017, mais de R$ 100 milhões para as empresas de comunicação, um gasto quase dez vezes maior do que o orçamento previsto originalmente (cerca de R$ 13 milhões). Os meios que receberam mais dinheiro foram: TV (R$ 57,4 milhões), rádio (R$ 19,3 milhões), mídia exterior (R$ 10,7 milhões), internet (R$ 4,9 milhões), jornal (R$ 4,5 milhões) e revistas (R$ 3,08 milhões). Para se ter um termo de comparação, no período entre janeiro e junho de 2017, os programas governamentais destinados à defesa dos direitos da mulher receberam apenas R$ 28 milhões.

Essa tática começou a ser implementada ainda no processo de impeachment de Dilma Rousseff, quando Michel Temer assumiu interinamente a presidência. Os gastos do governo federal com publicidade cresceram 65% no primeiro semestre de 2016 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Segundo levantamento do site Contas Abertas, esses gastos subiram de R$ 234,1 milhões (2015) para R$ 386,5 milhões (2016). A maior parte deles foi realizada um mês antes de Dilma Rousseff ser afastada do Palácio do Planalto pelo Senado e no mês posterior à posse de Temer. Em junho, os gastos foram de R$ 82,1 milhões, valor cerca de 50% maior que o registrado em junho do ano anterior. Desde que Michel Temer assumiu o Palácio do Planalto de forma interina, em maio de 2016, o governo federal licitou mais de R$ 2,1 bilhões em publicidade. Considerando que se trata de um dado atualizado até março deste ano, esse valor deve ser ainda maior.

Se, por um lado, o governo Temer aplicou cortes brutais de investimentos em Saúde, Educação, Infraestrutura, Políticas sociais, por outro, foi extremamente generoso na destinação de recursos para a mídia. Segundo dados da própria Secretaria de Comunicação (Secom), só as revistas Veja e Caras, pertencentes ao mesmo grupo, tiveram um aumento de quase 400% nas verbas publicitárias destinadas pelo governo federal. Em dezembro de 2016, a revista Isto É concedeu a Michel Temer o prêmio de Homem do Ano. Foi um gesto de agradecimento. Ao longo do ano, a publicação teve um aumento de 850% na receita oriunda de publicidade federal. A revista Época que, em 2015, havia recebido R$ 89.322,00 em propaganda, recebeu R$ 1.061.337,00 em 2016, um aumento de mais de 1000%. O jornal Zero Hora também teve um aumento expressivo, 221,8%, saltando de R$ 104.764,00 em 2015 para R$ 337.118,00 em 2016.

A mesma generosidade não foi aplicada aos programas sociais destinados à população em situação de maior fragilidade. Em um ano, o governo Temer excluiu cerca de 1,2 milhão de famílias do programa Bolsa Família. Quando Dilma Rousseff foi afastada do governo, 13,9 milhões de famílias recebiam o benefício. Em apenas um ano, esse número caiu para 12,7 milhões, em um quadro de recessão e aumento do desemprego. Em julho deste ano, o Bolsa Família registrou o maior corte no número de beneficiários. Em apenas um mês, 543 mil famílias foram excluídas do programa. Com esse corte, o governo anunciou que iria economizar cerca de R$ 100 milhões por mês, mas não informou para onde seria destinado esse dinheiro. Esses cortes atingiram, inclusive, moradores de rua e desempregados, muitos deles excluídos do programa por “irregularidades de cadastro”.

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