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De todas as referências que o cinema já fez à gastronomia, a cena da animação Ratatouille, de Brad Bird (2007), em que o crítico gourmet Anton Ego, o mais temido pelos chefes de cozinha, é levado de volta à infância ao provar a primeira garfada de um prato preparado às pressas no restaurante do Gusteau, é a que sintetiza a paixão da psicóloga e professora Andréia Bonato da Silva, 47 anos, pela arte de cozinhar.
Com formação em Psicologia, Terapia de Casal e Família, Dinâmica de Grupos e Magistério, ela leciona Gestão de Pessoas no colégio Monteiro Lobato e Liderança e Movimento Humano no Murialdo, de Caxias do Sul. Paralelamente, atende no consultório. Em sua casa, na zona Sul de Porto Alegre, mantém o projeto Bendito Seja – Gastronomia do Afeto, que promove encontros de convidados apreciadores da boa mesa e do prazer da convivência. “O grande objetivo é o extremo oposto da cultura fast food: sentar à mesa, de preferência sem celular, e se deliciar com uma refeição que vai conectar estômago e espírito”, resume.
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A chefe de cozinha prefere não adotar o nome Antirrestaurante por causa do prefixo negativo “anti”. Mas a ideia tem a ver com o movimento surgido nos Estados Unidos, em 2008 quando, em virtude da crise financeira, vários restaurantes tiveram de fechar suas portas e alguns chefs tiveram a ideia de montar suas cozinhas em casa, recebendo menos clientes, atendendo com mais personalização, e com uma “pegada mais intimista”. “Na América Latina, começou pela Argentina como Puertas Cerradas, uma alusão ao fato de que os encontros eram para poucos”, explica.
O Bendito Seja também começou em 2008, quando a professora construiu sua casa e passou a receber amigos para almoços e jantares. “Como moro na zona Sul e o pátio é amplo, aproveitei para ter horta, pomar e galinheiro. Os amigos começaram a questionar por que não fazia isso de forma mais sistemática e para outras pessoas, já que cada vez que eles postavam fotos dos eventos nas redes sociais, os amigos dos amigos demonstravam interesse em vir conhecer”, relata. Assim, começaram os encontros gastronômicos, que passaram a ser organizados com a divulgação antecipada do menu para que os convidados façam a reserva. “Em alguns lugares é possível levar a própria bebida e não há cobrança de rolha. Em outros é o cliente que estabelece o quanto vai pagar pela refeição, uma forma de se diferenciar dos restaurantes que possuem um valor monetário já pré-estabelecido dos pratos no menu. É tudo muito simples, mas com um tempero que surpreende e que não encontramos no supermercado: afeto!”, resume.
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Descendente de imigrantes italianos da região do Vêneto, ela conta que o avô vivia na Vila Nova, em Porto Alegre, onde plantava pêssegos e peras, que fornecia para o Ceasa, e cultivava hortaliças. As memórias de infância, revela, estão relacionadas à gastronomia e ao ambiente alegre da cozinha, o que influenciou a ideia de criar o projeto de um restaurante a portas fechadas. “Sou psicóloga por formação e cozinheira por amor. Grazie dio! Cozinho desde que me conheço por gente e o projeto significa o resgate das minhas origens, da vida em torno do fogão, do barulho das panelas misturado com o som das risadas e dos brindes. A arte genuína da comensalidade não é pura e simplesmente comer: as pessoas se conectam através da comida”, constata.