Foto: Acervo Pessoal
Em maio deste ano, o médico André Luiz da Silva foi ordenado monge na comunidade zen budista Via Zen, em Porto Alegre, retiro espiritual que ele frequenta há seis anos como praticante leigo da meditação, participando de retiros, de grupos de estudos e oficinas, do trabalho comunitário e do Zazen, a meditação silenciosa. Os retiros e o trabalho comunitário são uma atividade paralela à docência. Silva é professor de Medicina Familiar e Comunidade da Escola de Medicina da PUCRS.
Para explicar que tudo está interligado, ele recorre a três preceitos básicos do Zen Budismo: “não fazer o mal”, “fazer o bem” e “fazer o bem a todos os seres”. “Quer maneira mais especial de fazer coisas boas alcançarem o maior número de pessoas do que ensinando?”, explica André, agora monge Yakusan. O que significa a ordenação monástica? “Nada, literalmente. No Zen temos esse paradoxo onde parece que ganhamos uma graduação, uma titulação, mas na verdade a ordenação tem uma natureza vazia. Por mais que ela me traga felicidade por trilhar o caminho de mestres ancestrais, geração após geração, não devo me apegar a esse ‘título’, pois o ego me tira da rota original desse caminho. Nada é permanente”.
O professor conta que descobriu o Zen Budismo depois de anos “perambulando espiritualmente por aí” e fazendo as perguntas clássicas: “qual o sentido da vida?, para onde vai a nossa mente depois que o corpo morre?”. Foram 15 anos em uma prática espiritual (a Kabbalah) na qual aprendeu muito. “Mas sentia falta de algo que me desse a noção do agora, desse instante, que respondesse o porquê da existência do sofrimento no mundo, que dialogasse com a minha mente agitada”. A busca era por alento, mais do que respostas. “Algo que além de sentido me desse ética e diretrizes para viver em harmonia com todos os seres. Foi maravilhoso descobrir que existe um centro de prática zen perto de casa (a comunidade mantém o centro Via Zen, em Porto Alegre, e o mosteiro e templo Vila Zen, em Viamão), mestres amorosos como Dengaku Sensei e monja Shoden, e uma mestra em sua essência que me permitiu trilhar essa senda, a monja Coen, minha mestra de ordenação”.
A experiência mudou sua concepção de vida. “Começar a praticar zazen e a conviver em comunidade mudou minha visão de mundo a partir do momento em que parei de “arrastar a mala do passado” para o presente e de “correr atrás da mala do futuro”. Tudo o que precisamos está bem aqui, diante de nós. Além do mais, ao entender a Sanga (comunidade budista) como um tesouro vivo com pessoas tão especiais, passei a perceber que mais do que notícias ruins e pessoas más, ainda temos muita coisa boa acontecendo e o mal não é maioria, por mais que pareça o contrário”.
Na comunidade, os iniciados dedicam-se a práticas regulares da meditação silenciosa antes de assumir formalmente seu voto de orientar sua vida de acordo com alguns preceitos “e entra formalmente na ‘Família de Buda’ (a Sanga), que, desde a época de Buda, é composta de monges, monjas, praticantes leigos e praticantes leigas”. A motivação, segundo ele, tem a ver com os preceitos básicos do Zen Budismo e vale para iniciados ou não. “Todos deveríamos nos sentir co-responsáveis por uma cultura de paz – e eu ainda ouso dizer cultura do respeito – na sociedade”.