Ilustração: Rafael Sica
Ilustração: Rafael Sica
I
Eleições, como as salsichas, nem queira saber como são feitas. Ou desfeitas tempos depois, por um vice ou por um concorrente derrotado nas urnas, ou por ambos.
II
Eleições é o processo mais limpo de eleger futuros processados.
E há indícios de que seja a melhor forma de escolher novos indiciados. Embora os eleitores condenem previamente muitos candidatos, apesar das culpas no cartório raros são de fato condenados à não eleição.
III
Eleições é uma espécie de peneira para separar o joio do trigo. Assim, os joios mais votados formarão os novos legislativos e executivos. Simples assim.
IV
Eleições: o grande momento nacional em que o país se prepara para tentar sair do fundo do poço mas esquece que de 4 em 4 anos o fundo do poço fica 4 anos mais abaixo.
V
Eleições é aquele passo mais esperançoso que uma nação pode dar olhando pro futuro, enquanto o futuro se afasta à medida que os candidatos de sempre fazem as mesmas alianças sacanas.
VI
Eleições é um cheque ao portador que o eleitorado oferece ao regime democrático para que os eleitos o preencham e o descontem em causa própria, onde o principal favorecido é sempre o corporativismo político.
VII
Eleições é o sistema mais organizado de selecionar os mais desordeiros, o sistema mais avançado para eleger despreparados, enfim, o sistema mais confiável de selecionar os menos confiáveis.
VIII
Eleições é algo tão sério que cada eleito devia jurar pelo que há de mais sagrado que dessa vez, só pra variar, vai ser honesto e responsável do primeiro ao último dia do mandato. Embora saibamos todos que de sagrado não há mais nada.
IX
Eleições, todos sabem, começam com promessas inacreditáveis ouvidas por crédulos e crentes, e terminam com falsas promessas de eleitores de jamais votar de novo em candidatos prometedores.
X
Eleições vêm e vão, vêm e vão, vêm e vão, vêm e vão, vêm e vão. Sempre em vão.