As eleições e a pós-verdade
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O marketing eleitoral é a principal ferramenta de angariação de votos. Por isso, os marqueteiros especializados cobram fortunas pela sua assessoria, os candidatos buscam recursos milionários para a campanha e o Alckmin fez um acordo com o centrão (direitão) a fim de conseguir um feudo de tempo na tevê. Sem menosprezar isso, e até somando, os boatos tidos como verdade são uma força anterior e mais intensa. É que os efeitos deles, ao que parece, têm maior poder de condicionamento, ao não só construir uma imagem deturpada (para o bem ou para o mal) das pessoas e/ou dos fatos, mas, principalmente, mudando conceitos, percepções ou até mesmo ao “cancelar” os acontecimentos.
Nestas eleições, cujas campanhas começaram na semana passada, mas há mais de ano, pelo menos, algumas “verdades” dessa lógica pós-verdade já embasam o voto de grande parte do eleitorado.
Ignorando a História, por exemplo, há quem acredite que o Golpe de 64 e a conseguinte ditadura militar não foram golpe e o seu resultado foi uma árdua e benévola luta pró-democracia, surrupiada pelo governo comunista (olha a pós-verdade aí) de Jango. Aliás, há quem creia que a História e outras ciências humanas são dispensáveis. O que vale é o tecnicismo. Sem direito à greve, que isso prejudica a produção.
Influenciados pela pós-verdade e ainda no assunto acima, alguns grupos creem que não são os trabalhadores quem devam ser sobretudo defendidos, mas os empresários. Segundo essa concepção invertida, quando o empresariado vai bem, consequente e obrigatoriamente os trabalhadores também irão, pois são automaticamente valorizados.
A pós-verdade torna real o irreal, a mentira e/ou a pura crença. O problema maior de elegermos alguém baseados em falsas informações é que o discurso do que é real não é a práxis. E o poder da pós-verdade é tanto que podemos continuar a sentir os efeitos, mas acreditando que as causas são outras que não as verdadeiras, numa dialógica viciosa e sem efeitos resolutivos na prática.