Nova denúncia: vazamentos ilegais de delação da Odebrech sobre Venezuela
Este é o mais novo episódio do escândalo, agora com contornos internacionais, que começou a ser revelado em 9 de junho passado pelo site de jornalismo investigativo The Intercept Brasil. Segundo a jornalista Amanda Audi, destacada pelo veículo fundado por Gleen Greenwald para escrever a matéria com o repórter da Folha de São Paulo, Ricardo Balthazar, “procuradores atuaram para expor dados sigilosos sobre a Venezuela, após sugestão de Moro. O objetivo era dar uma resposta ao regime Maduro, mesmo que a ação não tivesse efeitos jurídicos”.
O acordo de delação assinado pela Odebrecht com autoridades brasileiras, dos Estados Unidos e da Suíça, estabelece que as informações só podem ser compartilhadas com investigadores de outros países se eles garantirem que não tomarão medidas contra a empresa e os executivos que se tornaram delatores. Dos 11 países onde a Odebrecht assumiu usar práticas de corrupção, somente a Venezuela foi exposta por Sergio Moro e Deltan Dallagnol.
De fato, as conversas privadas pelo aplicativo Telegram entre Moro e Dallagnol em agosto de 2017 denunciam que a principal motivação para o vazamento era política e que os procuradores sabiam que teriam que agir sob anonimato, vazando as informações. “Talvez seja o caso de tornar pública a delação dá Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?”, falou Moro ao coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba Deltan Dallagnol às 14h35 do dia 5 de agosto daquele ano.
Após um intenso debate em um grupo no Telegram, onde procuradores além de lembrar a ilegalidade da ação e possíveis desdobramentos desfavoráveis como o acirramento nos ânimos no país vizinho ou retaliação a brasileiros na localidade, Dallagnol lembrou que ação estava em sintonia com “o Russo”, codinome pelo qual Moro era conhecido entre a força tarefa, e minimizou: “PG, quanto ao risco, é algo que cabe aos cidadãos venezuelanos ponderarem” e, respondendo a um comentário do procurador Paulo Galvão que chegou a aventar a possibilidade de mortes na Venezuela, disse: “Eles têm o direito de se insurgir.”
O jornalista Reinaldo Azevedo que faz questão de se declarar um cidadão liberal de direita, mas a favor do Estado de Direito, criticou fortemente o que considera arroubos messiânicos da República de Curitiba. “Nem a guerra civil em um país estrangeiro pode impedi-los de violar as leis no Brasil” registrou no artigo “‘Foro de S. Paulo de Moro e flerte de Deltan com guerra civil na Venezuela”, publicado ainda na manhã desse domingo no UOL onde encerra: “pergunto: quem não tem receio de deflagrar uma guerra civil na Venezuela teria receio de incentivá-la no Brasil?”.
Como estratégia de ampliar a visualização do que considera de extremo interesse público e neutralizar os questionamentos de parcialidade de seu trabalho, uma vez que Greenwald é casado com o deputado federal David Miranda (PSol-RJ), o The Intercept Brasil está consolidando uma rede de parcerias nacionais com veículos e jornalistas interessados no escândalo que envolve o atual ministro de Jair Bolsonaro e os procuradores integrantes da força tarefa Lava Jato de Curitiba. Até o momento estão somando esforços com o site a Folha de São Paulo, Band News e a revista Veja. Todos os profissionais que tiveram acesso aos materiais que foram remetidos ao The Intercept por uma fonte anônima, através de suas técnicas de jornalismo e cruzamento de dados têm atestado que o conteúdo do material além de bombástico são verdadeiros.