O destino solitário do professor brasileiro
Foto: Arquivo Extra Classe
Foto: Arquivo Extra Classe
Na última greve geral, no dia 14 de junho, retornei a uma das cidades nas quais atuei como professora para me juntar às colegas no movimento contra a reforma da Previdência. A manifestação, pacífica e elucidativa, foi alvo de xingamentos e palavras ofensivas. Não é novidade que algo novo paira sobre nosso país. Múltiplas violências, guerras virtuais e batalhas ideológicas compõem o cenário no qual se peleia pela verdade em uma briga dicotômica. Da guerra pela verdade, surge um ódio muito específico: o ódio ao professor.
Faz-se necessário refletir sobre as sérias consequências, que o ódio ao conhecimento e à intelectualidade, personificada na figura do professor, pode gerar daqui por diante. Um professor sempre deve ser alguém consciente do seu tempo. Justamente por isso, o ataque que se faz a eles é perigoso, pois se torna um tipo de ameaça às liberdades individuais e à própria atmosfera democrática de um país.
Estudos históricos variados evidenciam como sociedades com tendências totalitárias e autoritárias sempre atacaram a liberdade de pensamento. E, por conseguinte, a educação sempre foi um dos alvos mais certeiros e profícuos. É por essas razões que bater sineta é o destino solitário do professor brasileiro, para além da guerra ideológica que tem pautado o debate político nacional. O seu destino é solitário porque a educação nunca foi prioridade de um governo no Brasil. Talvez, em alguns casos, houve mais investimento ou correções pontuais, mas a educação, como projeto de Estado, com investimento público comprometido com uma mudança de longo prazo, especialmente na Educação Básica, foi e ainda é um sonho distante aos olhos dos professores.
A luta pela educação, no Brasil, não tem lado. Ela é o destino solitário de todo professor que sonha com o projeto da educação pública, laica, gratuita e de qualidade. Por isso, mais do que um destino solitário, bater sineta é uma das formas que temos de resistir, frente a qualquer espectro ideológico, para que a liberdade de pensar livremente, por mais contraditório que isso possa soar, esteja sempre garantida.
*Deise A. Enzweiler é professora de Educação Básica e doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Unisinos