MOVIMENTO

Educadores promovem ato contra cortes no orçamento das federais e repudiam o Future-se

Reitores de universidades e diretores de institutos federais alertaram para a gravidade do projeto que mercantiliza a educação pública e tira a autonomia universitária
Por Stela Pastore / Publicado em 13 de agosto de 2019

Foto: Stela Pastore

Trabalhadores da educação e estudantes lotaram o salão da Universidade de Ciências Médicas de Porto Alegre

Foto: Stela Pastore

No Dia Nacional de Luta em Defesa da Educação e contra a reforma da Previdência, o painel sobre O Futuro das Universidades e Institutos Federais no Brasil lotou o salão nobre da UFCSPA na manhã de terça-feira, 13. Protestos contra o Programa Future-se, os cortes orçamentários de mais de 30% e ataques à educação pública foram temas centrais das intervenções. Educadores, estudantes e lideranças de entidades ligadas à educação se revezaram em expressar a gravidade dos ataques ao ensino público feitos pelo governo e que já motivaram outros protestos como o 15M e 30M.

Frente Nacional em defesa do ensino público

Formar uma grande Frente Nacional em Defesa da Educação Pública e do Brasil foi uma das propostas do encontro, apresentada pelo diretor de Políticas Educacionais da Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Proifes), Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira. “Nossa mobilização de hoje deve ser um marco histórico na luta desse país. É determinante fazer um pacto social pela democracia, pelo direito ao aprendizado, de não ser subserviente, pela importância da tecnologia, da soberania pelo conhecimento”, convidou.

Frederico Bartz, do Sindicato dos Técnico-Administrativos da Ufrgs, UFCSPA e IFRS (Assurgs), enfatizou que o Future-se é uma privatização branca, que usa a carcaça do público e o dinheiro do capital privado. É a precarização, a terceirização, o apagamento do nosso futuro. Estar nas ruas é necessário, conclamou.

Cheque em branco

Uma plateia atenta acompanhou as falas que acentuaram a importância da autonomia universitária que vem sendo tolhida com a nomeação de reitores e as diretrizes do Future-se. Se aprovado, o Projeto de Lei do presidente Jair Bolsonaro mudará 18 itens da Constituição Federal, alertou o reitor da Ufrgs, Rui Oppermann. O programa nada refere sobre políticas de educação. “É a privatização do ensino, pesquisa e extensão a serem entregues ao mercado”, define. Oppermann listou sete pontos que devem ser inegociáveis para o ensino superior público.

“Assistimos a mercantilização ascendente com o Future-se, um projeto que vem sendo concebido há muito tempo. É um ataque sem precedentes ao serviço público e aos servidores. A educação pública deve ter dinheiro público, como um direito, não como mercadoria”, alertou o dirigente da Andes, Antônio Gonçalves. O PL é um cheque em branco, porque não detalha questões essenciais. Em seus 45 artigos, diz mais pelo que não está escrito, avisa Gonçalves. “O RS deve dizer um rotundo não ao Future-se”, conclamou.

A Reitora Universidade de Ciências Médicas, Lúcia Pelanda, que recepcionou o debate, fez uma apresentação do que representa o projeto. E concluiu: “A universidade não é do governo, é do Estado”. “Vamos levar afeto às ruas, como já fizemos nos outros protestos. Quanto mais nos atacam, mais nos avivam”, disse o representando a Associação dos Pais e Mães pela Democracia, Renato Nakahara, relatando que o movimento surgiu a partir das provocações dos que defendem o Escola Sem Partido.

Encurtar o ciclo de retrocessos

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Claudir Nespolo, enfatizou que o papel da mobilização é encurtar o ciclo de retrocesso que as medidas que vêm sendo implementadas representam para o país. O dirigente observou que setores acreditaram que a democracia estava estabilizada e elegeram o que há de pior na política, na justiça, no exército no empresariado e na universidade. “Quem não faz barulho, não é visto, não cumpre seu papel. Todo dia é dia de trazer consciência crítica. Encurtar esse período e trazer a esperança de volta é o tema da nossa luta”.

“Com esse projeto, a universidade não mais será produtora de conhecimento, mas transportadora de recursos para as organizações sociais”, resumiu a representante da CNTE e do Cpers-Sindicato, Solange Carvalho. “O poder está com o capital rentista do Estado mínimo. Enquanto o presidente faz piada, seus ministros patrolam as políticas públicas, as universidades. Sem educação não há democracia”, destacou. Solange lembrou a dignidade com que os educadores seguem dando aula, mesmo com salários achatados, atrasados, parcelados, pedindo dinheiro para comprar remédio, sem crédito e sem liberdade de cátedra.

A dirigente do Cpers também alertou para a importância de mostrar o que faz a universidade, “para não prevalecer a narrativa de que os professores e manifestantes pela educação são vagabundos que atrapalham o trânsito”. “Temos que ampliar a unidade e mostrar que todos perdem ao aceitar a precarização do trabalho. Não é bom para escola, pra universidade, para o Brasil, para a democracia”, finalizou.

Mobilização dos estudantes é fundamental

“Contem com a UNE na defesa do Brasil e da Educação”, afirmou a presidente da União Nacional de Estudantes, Camila Silveira, destacando o ataque ideológico, além do econômico. “Tentam ridicularizar o que a universidade produz. As 20 melhores universidades do país são públicas. É muito caro para o país que percamos nossas universidades”, concluiu.

“A virada é a mobilização dos estudantes. Até porque são os grandes prejudicados”, destacou o reitor da Universidade Federal Fronteira Sul, Jaime Giolo. Ele entende que o país vive uma cruzada ideológica, com grave aparelhamento das universidades, indicando os reitores. “Os grandes corruptos detonaram aqueles que tentavam combatê-los. Agora usam a mesma prática contra o ensino, usam a ideologia impondo ideologização violenta”.

Fechando as portas em setembro

As universidades e institutos federais poderão sessar suas atividades por falta de recursos a partir do próximo mês. “Em setembro fecharemos as portas, se nada mudar”, reforçou Amiltom Figueiredo, diretor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul.

As reitoras da Unipampa, Nádia Buco, e da Furg, Cleusa Dias, relataram igualmente as dificuldades financeiras graves já enfrentadas já pela Emenda Constitucional 95, acentuada pelos cortes desse ano. “Nos matam por inanição e a sociedade está anestesiada. Mas saio daqui com esperança”, resumiu Nádia.

O reitor da Ufsm, Paulo Burmann, declarou a urgência do desbloqueio urgente das universidades federais. “É um grito urgente de socorro sob pena de não funcionar na próxima semana. A universidade não pode fechar”, acentuou.

Para o reitor da Ufpel, Pedro Curi, atualmente o MEC é o inimigo número 1 da Educação. “São economistas frustrados e os estudantes devem dizer não ao Future-se”.

Futuro em risco

Ruben Oliven, da Academia Brasileira de Ciências, chamou a atenção para o momento de obscurantismo, exemplificando a demissão do presidente do Inpe feita pelo presidente Bolsonaro. Disse que a entidade fará uma série de Diálogos pela Democracia em vários locais do país para reverter a narrativa distorcida que vem sendo construída pelo atual governo sobre o conhecimento. “A educação e a ciência são fundamentais para o futuro do Brasil, concluiu o pesquisador”.

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