OPINIÃO

Enquanto o governo briga com números, a crise piora

Ao mesmo tempo em que o presidente Jair Bolsonaro insiste nas redes sociais que a economia vai bem, os números provam justamente o contrário.
Editorial / Publicado em 14 de agosto de 2019

Foto: Alan Santos/PR

Foto: Alan Santos/PR

Ao mesmo tempo em que o presidente Jair Bolsonaro insiste nas redes sociais que a economia vai bem, imitando seu antecessor, Michel Temer, que aparentava viver em um universo paralelo, os números provam justamente o contrário. A Pnad mostrou que, no segundo trimestre, o desemprego até recuou de 12,7% para 12%. E que o número de empregados com carteira assinada subiu 0,9%. Se o governo comemora uma pífia redução do desemprego, a série, de fato, teve dois recordes negativos. A população subocupada chegou a 7,4 milhões, e o número de trabalhadores por conta própria foi a 24,1 milhões, inchando a informalidade. Além disso, não há variação significativa no número de desalentados: são 4,9 milhões os que desistiram de procurar emprego; os empregados sem carteira assinada subiram para 11,5 milhões (aumento de 3,4%), e o rendimento médio real habitual caiu 1,3%, passando de R$ 2.321 no primeiro trimestre para R$ 2.290 no segundo. É a quarta queda sucessiva nos rendimentos entre trimestres. Ou seja, ainda são 12,8 milhões de desempregados e empregados com perda significativa de renda.

E tudo isso num cenário de cortina de fumaça, em que todos os dias o próprio presidente ou algum ministro desfere algum impropério, declaração grotesca ou notícia falsa para desviar a atenção da falta de medidas práticas para enfrentar os problemas verdadeiros.

Menos renda, menos consumo. Com isso, a produção industrial brasileira voltou a cair, e o setor acumula queda de 1,6% no primeiro semestre, conforme Pesquisa Industrial Mensal divulgada pelo IBGE em 1º de agosto. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), com os dados de junho, a falta de demanda está entre os principais problemas enfrentados pelo setor. O índice de utilização da capacidade instalada efetiva em relação ao usual caiu 3,9 pontos no mês.  O indicador Intenção de Consumo das Famílias (ICF), apurado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), passou de 91,3 pontos em junho para 89,8 pontos em julho. É a quinta queda consecutiva.

A pesquisa da CNC que mede o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) atingiu, em julho, seu menor patamar desde novembro de 2018, em 114,6 pontos. Foi o quarto mês consecutivo de queda, com redução de 1,1% em relação a junho.

O Indicador de Confiança do Consumidor, medido pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), caiu de 49,0 pontos em janeiro para 44,9 pontos em julho. O levantamento aponta que, a cada dez brasileiros, sete (66%) avaliam negativamente as condições atuais da economia.

Os dados não provêm de nenhum site marxista nem institutos de viés ideológico, mas do próprio governo e de setores que apoiaram sua candidatura, como a Fiesp e levantamentos de setores do comércio, serviços e indústria. Economistas das mais variadas vertentes não enxergam luz no fim deste túnel.

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