Foto: Rafael Carvalho/PR
Foto: Rafael Carvalho/PR
Em qualquer republiqueta, a cena do filho do presidente sentado no banco traseiro do Rolls-Royce, no desfile da grande data nacional, seria parte dos absurdos da normalidade. O Brasil já é uma dessas republiquetas em que quase tudo passou a ser normal.
Temos um presidente incendiário que nunca tivemos, temos o Rolls-Royce e temos Carluxo, o filho do presidente. Carluxo tem mais dois irmãos como figuras públicas e protagonistas da extrema direita brasileira. Mas nenhum deles se iguala ao que ele representa.
Nunca houve alguém como Carluxo. É vereador no Rio, o formulador da estratégia do pai nas redes sociais, é o cara dos recados e o derrubador de generais. O Brasil tem, num arremedo de democracia, uma figura que só as ditaduras tiveram.
Carluxo na carona do Rolls-Royce é a imagem do acinte e da chinelagem sem constrangimentos e sem limites. Aquele é o lugar simbólico dele, desde a cerimônia da posse.
Carluxo é a figura que compõe o retrato da república bolsonariana como uma família no poder. Não é Flavio, o gestor dos imóveis de R$ 15 milhões e dos negócios com as milícias, nem Eduardo, o filho que pretende circular nas altas rodas da direita mundial com um revólver na cintura.
Carluxo é a melhor imagem do bolsonarismo no poder porque é debochado, cruel, é atrevido e enfrenta com afinco o risco da caricatura. Ele é o filho amado do homem, o mais próximo, o mais parceiro, o que Bolsonaro indica publicamente como o preferido.
É Carluxo quem manda mensagens pelo pai, como essa agora sugerindo que não haverá mudanças por “vias democráticas”. Carluxo conseguiu acionar uma reação do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz: “Não há como aceitar uma família de ditadores”.
Não há, mas o Brasil vem aceitando. A poderosa OAB, nos últimos anos sob a liderança de golpistas, finalmente resgata sua trajetória libertária para atacar Carluxo. A OAB não está duelando com generais, mas com Carluxo.
Não é improvável que Carluxo, o vereador medíocre do Rio, o disseminador de mentiras virtuais da campanha eleitoral, o fofoqueiro do reino, assuma seu papel como líder do anúncio do novo golpe.
Poderemos submergir em mais uma ditadura anunciada por Carluxo. Ele não é apenas o mensageiro, é o líder, o sujeito a ser atacado pela OAB e por lideranças da direita e da esquerda como propagador de uma ameaça.
Carluxo poderá, a qualquer momento, estar na capa do The New York Times. O filho é mais do que o chalaça de Bolsonaro, é o mediano problemático que, na carona do pai, assume protagonismo num país acovardado.
O Brasil sob a ameaça de nova ditadura poderá contar um dia que afundou no fosso bolsonarista num movimento liderado por Carluxo, enquanto o pai se recuperava de uma cirurgia. Professores constrangidos contarão em detalhes como Carluxo anunciou, acionou e liderou o golpe.
E viveremos então a Era Carluxo, em que ele será a expressão do bolsonarismo em seu auge, com apoio de milicianos espalhados por todo o país, com as instituições e o Congresso submetido às ordens do pai.
O Brasil merece Carluxo. Pela resignação dos jovens. Pela incapacidade dos estudantes de transformar lamento em resistência.
Pela covardia dos ditos liberais. Pela cumplicidade do Supremo e do Congresso. Pela grande imprensa adesista e fajuta.
Carluxo é a reafirmação de Bolsonaro como aberração que deu certo, é o herdeiro, a sequência, a ideia de continuidade e, na cabeça deles, também de perpetuação.
Carluxo é o melhor de todos, o mais autêntico Bolsonaro, e não é apenas uma invenção do pai. Carluxo talvez seja, mais até do que o pai, a cara do Brasil amoral e sem máscaras.