OPINIÃO

Um golpe que ainda dói

Publicado em 9 de abril de 2014

Um golpe que ainda dói

Foto: Orlando Brito

Foto: Orlando Brito

Este editorial é escrito em 31 de março. Há exatos 50 anos era levado a cabo o golpe de Estado que culminaria no 1º de abril de 1964 e que foi batizado de revolução. Uma mentira que se estendeu por 20 longos anos. Como toda mentira, fere, não pela intenção de enganar por si só, mas por zombar da nossa inteligência. E pior, não conseguindo, sufocou o que pôde o pensamento livre pela força; silenciando-o, torturando-o e até matando-o. Uma mentira assassina com poder de Estado, que arvorou-se ao status de República e autoproclamou-se pátria.

Recentemente, algumas vozes, dentro e fora dos quartéis, potencializaram seus discursos conservadores nas redes sociais em favor de marchas e espalhando boatos sobre um novo golpe. Os fatos desmentiram a boataria. Nas retrospectivas do período, não bastasse
a memória da tirania, censura e outros abusos, há também a questão financeira. Se de um lado, os defensores da ditadura alegam o milagre econômico e desenvolvimento do país, de outro, quando encerrou-se o ciclo do regime ditatorial, a dívida externa brasileira era de U$ 102,1 bi o que equivaleria hoje a U$ 1,2 tri, o quádruplo da dívida externa atual.

Mas as viúvas da ditadura também alegam que hoje a corrupção é pior, mas como diz o entrevistado do Extra Classe deste mês, corrupção sempre houve, mas com a imprensa conivente ou censurada não haviam denúncias. O legado deste período, se é que há, está muito mais numa cultura de autoritarismo, que ainda infesta polícias e quartéis, bem como uma elite financeira detentora de monopólios de comunicação que se consolidaram a partir do golpe que apoiaram, com tentáculos em todas as esferas do Legislativo, do Judiciário e até mesmo do Executivo.

Querendo ou não, no Brasil, nossa frágil, jovem e inexperiente democracia ainda luta contra a ditadura e seus efeitos.

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