Ilustração: Rafael Sica
Ilustração: Rafael Sica
Ainda hoje se encontram neotupiniquins em formação, e entre as mais recentes são arlequins, anequins, algonquins, e o grande ramo dos jurubebas, perebas e naturebas
O Brasil tem muito que ensinar a americanos e europeus sobre tolerância racial e convivência social. Em vez de negar a entrada das caravelas de Cabral apinhadas de imigrantes, na Pindorama se inaugurou a miscigenação em larga escala.
Desde então, do litoral ao interior, foi sempre o contrário de xenofobia: abertura de braços e coxas a quem quisesse invadir o dna tropical. Baita receptividade indígena, que resultou na mistureba de tribos que só aqui há. Daí o caldo de cultura em que o planeta vem aqui beber em fevereiro.
A partir do mix entre portugueses com aimorés e caetés, derivaram os jequiés, parangolés e taubatés; do mix com bororós, surgiram os borogodós e os botucatus; com os nuaruques, vieram os atabaques, badulaques, os bilboquês, cadilaques, caíques e, mais ao sul, os charques.
Dessa misturança em diante se alastrou um povaréu cheio de diferenças e pouca desavença. Bastava uma festa e de meia dúzia de tribos enfesteladas brotava outro grupo.
Do nordeste e da Bahia pra baixo apareceram os caraíbas, carnaúbas, pindaíbas, obaobas, babolorixás, baobás, patuás, petipoás, gantuás, capixabas, catuabas, emboabas, gincobilobas, morubixabas e os patacoadas.
Quanto mais se juntavam, mais se diversificavam, e dos novos costumes vinham novas tribos, tipo tamoios, aboios, arroios, piraquês, caxinguelês e caraminguês. Sem falar nos jerimuns, garanhuns e votorantins. Até os tupinambás e tupis se desdobraram em tanajuras, taturanas e cajaranas.
Além de variações como charruas, cacatuas, capicuas, canasvieiras, churrios e churros. E do entrevero amistoso entre tabajaras e tapejaras, pintaram os araraquaras, os babaquaras, capivaras, coivaras, marajoaras, saionaras e taquaras.
À medida que mais brancos se espraiavam, mais tribos se espalhavam: acarajés, aracajus, carajás, carijós, marajás, pajeús, tapajós. Algumas tribos mais nômades que outras, como os caipiras, os capiaus, cataporas, pericecis, piraporas e piriris.
Ainda hoje se encontram neotupiniquins em formação, e entre as mais recentes são arlequins, anequins, algonquins, e o grande ramo dos jurubebas, perebas e naturebas.
A importância desse levantamento tribal está no seguinte: o mundo rico cada vez se fecha mais aos imigrantes e refugiados, enquanto o nosso país se escancara pra eles.
Fraga escreve mensalmente para o Extra Classe