Foto: Reprodução internet
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Se o Brasil estivesse sob normalidade, a morte da avó da primeira-dama do Brasil poderia se transformar em vexame e escândalo. Dona Maria Aparecida Firmo Ferreira, de 80 anos, morreu de Covid-19 no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), no Distrito Federal.
Há uma reação previsível, até porque as relações de Michelle com a família sempre foram de distanciamento e indiferença. Mas não há nada muito além da sensação de que a idosa morreu sem a proteção da neta.
A avó de uma das mulheres mais poderosas do Brasil estava num leito do SUS, o que poderia ser normal numa situação de normalidade. Mas o SUS é um dos alvos da sanha destruidora do bolsonarismo. Bolsonaro quer acabar com a saúde pública.
Não há escândalo porque nada mais abala a imagem de Bolsonaro a ponto de comprometê-lo. A pandemia ajudou a naturalizar a destruição que seu governo provoca na saúde, na educação, no meio ambiente, na economia, nos costumes, nos direitos humanos e nas relações humanas e internacionais.
Um mês antes da internação de dona Maria Aparecida, profissionais do HRC denunciaram a degradação do ambiente em que trabalham. Foi no momento em que o hospital decidiu dedicar todas as instalações apenas ao tratamento de doentes graves de Covid-19.
O HRC passava a ser referência no enfrentamento da pandemia em Brasília. Uma referência caindo aos pedaços. Não tinha vagas na UTI, respiradores, medicamentos e profissionais em número suficiente.
No final de julho, o governo do Distrito Federal inaugurou uma nova ala, com 70 leitos. Mas sem UTI. E com deficiência de equipamentos, remédios, de médicos e de enfermeiros.
A avó de Michelle viveu e morreu numa das regiões onde mais se morre de Covid no Brasil. Os ambientes dentro e no entorno do hospital foram mostrados repetidas vezes na TV e nas redes sociais como um dos cenários de terror no pico da pandemia.
Dona Maria Aparecida foi parar no HRC infectada pelo vírus que Bolsonaro subestima. Morreu num hospital onde os servidores lutam com bravura pela sobrevivência dos pacientes e do próprio SUS.
A avó, os pacientes de todas as áreas, os médicos, os profissionais de saúde e o SUS foram abandonados pela estrutura de poder criada pela família Bolsonaro.
Foi no HRC que um homem com uma máscara com a bandeira do Brasil chamou uma enfermeira de “sua louca doente”, enquanto filmava o hospital e reclamava da exclusividade de atendimento a pacientes com a Covid-19.
Os bolsonaristas são estimulados a atacar hospitais e profissionais de saúde. As loucas do HRC já viram colegas morrendo. O HRC chegou a misturar doentes infectados com outros pacientes em quartos e corredores.
Balões de oxigênio são levados de um lado a outro, no revezamento macabro da luta cotidiana pelo que ainda sobra de ar.
Rosylane Rocha, conselheira dos conselhos Federal e Regional da Medicina em Brasília, definiu a situação do Hospital Regional de Ceilândia:
“A diferença é que, em situações de guerra, os médicos retornam como heróis. No HRC, não. Lá os médicos são tratados como vilões”.
Ceilândia é uma das regiões por onde Bolsonaro gostava de passear nas suas aparições domingueiras. Caminhava sem máscara, abraçava e fazia média com fascistas e se exibia como um ser imune ao coronavírus.
Bolsonaro nunca entrou num hospital durante a pandemia. Nunca cumprimentou profissionais de saúde. Nunca se dirigiu a eles pela TV ou em vídeos caseiros. E agora vai cortar em R$ 35 bilhões o orçamento do SUS para 2021.
A avó de Michelle morreu nesse ambiente devastado e abandonado. Foi encontrada caída na rua e acolhida no hospital que resiste como pode ao avanço destruidor da extrema direita liderada pelo homem que casou com a sua neta.