CUT-RS repudia fura-fila na vacinação contra covid-19
![A Secretaria da Saúde do RS iniciou no dia 8 de fevereiro a distribuição de 193,2 mil doses da vacina CoronaVac às Coordenadorias Regionais de Saúde (CRSs). O lote foi direcionado para a continuidade à vacinação de profissionais da saúde e iniciar a imunização de idosos acima de 85 anos](https://www.extraclasse.org.br/wp-content/uploads/2021/02/08022021-FDV_6142.jpg)
Fotos: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
A Secretaria da Saúde do RS iniciou no dia 8 de fevereiro a distribuição de 193,2 mil doses da vacina CoronaVac às Coordenadorias Regionais de Saúde (CRSs). O lote foi direcionado para a continuidade à vacinação de profissionais da saúde e iniciar a imunização de idosos acima de 85 anos
Fotos: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Rio Grande do Sul divulgou nota de repúdio à manobra de gestores municipais em parceria com conselhos profissionais, sob a conivência do governo Eduardo Leite (PSDB), que levou à aplicação de vacinas para profissionais da saúde que não atuam na linha de frente no combate à covid-19, Segundo a entidade, essa conduta “ignora o princípio da equidade e os grupos definidos como prioritários para a vacinação, no momento em que há enorme falta de doses de vacinas no Brasil”.
Denúncias ao MPRS
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) investiga ao menos 46 denúncias de pessoas que furaram a fila da vacina contra a covid-19 no estado. Entre 21 de janeiro e 4 de fevereiro, o MPRS recebeu 487 notícias de irregularidades que foram analisadas individualmente pela equipe do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos (CAODH). De acordo com a procuradora Angela Salton Rotunno, os casos mais comuns são de pessoas que são do grupo prioritário, mas que anteciparam a vacinação e que foram encaminhados às promotorias nos municípios para investigação.
“Na maioria das situações, ou são funcionários públicos de uma área administrativa, não profissionais da saúde, que receberam a vacina. Temos algumas situações de agentes políticos que se vacinaram e não deveriam, nem poderiam, e situações que envolvem falsidade. Por exemplo, pessoas que dizem trabalhar em Instituição de Longa Permanência para Idosos e não trabalham”, explicou a procuradora. O MPRS criou um canal para denúncias que disponibiliza um formulário para o registro de irregularidades.
Grupos prioritários
![Funcionárias de farmácia, que não pertencem aos grupos prioritários para a vacina, divulgaram imagens dos cartões de vacinação depois de furarem a fila](https://www.extraclasse.org.br/wp-content/uploads/2021/02/REDES-SOCIAIS.jpg)
Imagem: Redes Sociais/ Reprodução
Funcionárias de farmácia, que não pertencem aos grupos prioritários para a vacina, divulgaram imagens dos cartões de vacinação depois de furarem a fila
Imagem: Redes Sociais/ Reprodução
O comunicado destaca que há recursos disponíveis para a compra de vacinas suficientes para toda a população do estado e critica a espera do governador pelas medidas do governo Bolsonaro, “cuja política de negar a gravidade da pandemia já causou a morte de mais de 230 mil brasileiros e brasileiras, além de quase 10 milhões de infectados”.
Enquanto não há doses suficientes para vacinação em massa, é preciso respeitar os grupos prioritários, entre eles os profissionais da saúde, porém aqueles que estão na linha de frente, assim como idosos, indígenas e quilombolas, recomenda.
“Não é possível que tais critérios mínimos sejam ignorados pelos gestores públicos, que mais uma vez cederam à pressão de alguns conselhos profissionais que, em nome de interesses corporativistas, negociam por fora o acesso às poucas vacinas disponíveis, para imunizar profissionais da saúde que possuem registro profissional, mas que não atuam na linha de frente, muitos inclusive já aposentados. Isso significa “furar a fila”, deixando para trás pessoas que deveriam ser vacinadas antes”, aponta a central.
O “carteiraço” profissional, além de ferir de morte o SUS e seus princípios democráticos, pode legitimar o fura-fila e expor ao contágio quem mais se encontra vulnerável. “Como tais conselhos e demais entidades representativas terão autoridade e moral para denunciar uma situação dessas se eles próprios também passam à frente de quem mais precisa?”, indaga.
Carteiraço fragiliza o SUS
A prática enfraquece o SUS, ao mesmo tempo em que fortalece um governo negacionista e genocida, que alimenta a ignorância da população com disseminação de notícias falsas em detrimento do esclarecimento das pessoas, pontua. “Desde o início da pandemia, não só negou como trabalhou para sabotar quem se dispusesse a combatê-la”.
A CUT-RS lembra que o SUS foi construído como um sistema de saúde público, universal e gratuito. Ou seja, para garantir saúde para todos os brasileiros e brasileiras. Portanto, ressalta, a vacinação deve ser através dele, tendo como critério de prioridade a imunização dos mais vulneráveis e as populações expostas ao maior risco. “As categorias profissionais sairão fortalecidas, se não se deixarem levar por cooptação de governos ou por ações de empresários individualistas, e defenderem de forma intransigente que o SUS seja o executor da política de vacinação em massa”.
O site Our World in Data, coordenado por pesquisadores da Universidade de Oxford, mostra que o Brasil fechou os últimos sete dias imunizando em média 0,09% de sua população contra o coronavírus, o que empurra o país para o 49º lugar no ranking mundial de imunização. A entidade aponta que até agora a maior parte da sociedade está excluída do processo de vacinação. “As doses de vacinas estão sendo distribuídas a conta-gotas em função do descaso do governo Bolsonaro, apoiado pelo governo Leite e por gestores municipais que ainda compactuam com ações corporativistas em detrimento dos mais vulneráveis, que representam os que mais correm risco de serem contaminados”, conclui.
Posição da Secretaria da Saúde
![Distribuição de vacinas para as regionais de saúde do estado: CUT-RS denunciou que gestores estaduais e conselhos de classe estão pressionando para vacinar profissionais que lidam com a covid-19](https://www.extraclasse.org.br/wp-content/uploads/2021/02/08022021-FDV_6370.jpg)
Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
Distribuição de vacinas para as regionais de saúde do estado: CUT-RS denunciou que gestores estaduais e conselhos de classe estão pressionando para vacinar profissionais que lidam com a covid-19
Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
Na terça-feira, a Secretaria da Saúde (SES) informou ter recomendado aos municípios que, nesta etapa da campanha de vacinação contra a covid-19, sejam imunizados os profissionais da saúde que trabalham regular e presencialmente, em especial aqueles que têm contato direto com pacientes suspeitos ou confirmados pelo novo coronavírus e ainda não receberam a primeira dose, além dos idosos com 85 anos ou mais.
“Precisamos fazer chegar as vacinas aos grupos que realmente mais precisam”, ressaltou a secretária Arita Bergmann. “Entendemos a ansiedade da população em querer se vacinar e desejamos poder atender a todos, mas este é um recurso escasso e precisamos ter critérios claros e objetivos de quem tem preferência em receber o imunizante primeiro”, disse.
A SES reiterou sua posição que, desde o recebimento das primeiras doses, foi vacinar quem está mais suscetível ao vírus ou a ter complicações graves e vir a óbito, seguindo os preceitos do Ministério da Saúde. Uma vez que todos esses grupos sejam vacinados, pode-se partir para a imunização de outras parcelas da população. Informou ainda que aguarda posição do Ministério da Saúde, que foi acionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda-feira, 8, para dar mais transparência à lista de grupos prioritários e à extratificação das prioridades, mesmo dentro desses grupos.
O diretor de Auditoria do SUS e integrante do Comitê de Dados do Rio Grande do Sul, Bruno Naundorf, apresentou informações sobre a pandemia no estado que deixam claro que os idosos de 60 anos ou mais são os mais propensos a morrer da doença. Entre todos os óbitos ocorridos em função da covid-19, quase 82% estavam nessa faixa etária.