SAÚDE

Rio Grande do Sul mantém tendência de agravamento da pandemia

Estado permanece com 11 regiões classificadas com altíssimo risco de contágio pela covid-19 e, com UTIs lotadas, vive a iminência de um apagão na saúde
Por Gilson Camargo / Publicado em 22 de fevereiro de 2021
No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 88 dos 97 leitos de UTI covid estão ocupados

Foto: Robson da Silveira SMS / PMPA

No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 88 dos 97 leitos de UTI covid estão ocupados

Foto: Robson da Silveira SMS / PMPA

O Rio Grande do Sul registrou 2.243 novos contágios e 49 mortes pela covid-19 nas últimas 24 horas, mantendo uma tendência de agravamento da pandemia que vem se acirrando desde janeiro. O estado soma 606.414 casos confirmados e 11.820 mortes por coronavírus, e apresenta uma das maiores taxas de ocupação de UTI. A média estadual já atingiu 86%, mas hospitais da capital e de diversos municípios da região metropolitana vêm alertando que já atingiram o limite máximo de internações de pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Em São Leopoldo, o Hospital Centenário, referência SUS para 18 municípios da região do Vale dos Sinos, está com 18 dos 23 leitos clínicos covid-19 (enfermaria) ocupados e a lotação em UTI já está esgotada. Os 18 leitos de UTI estão ocupados com pacientes graves covid-19.

No início da noite, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre estava com 95% de lotação. O HCPA tem 97 leitos de UTI para pacientes infectados pelo coronavírus: 88 estão ocupados.

No Hospital Conceição, referência para 4 milhões de habitantes da Zona Norte de Porto Alegre e dos municípios da Região Metropolitana, a lotação é de 100% em UTI covid, 133,3% em enfermaria para suspeitos e 101,5% de casos confirmados em enfermaria; 91,7% em UTI não covid.

O Hospital Cristo Redentor está com 93,1% dos leitos de UTI ocupados e 90% dos leitos de retaguarda. No Fêmina, não há vagas em UTI. Os seis leitos disponíveis para infectados estão ocupados.

“Caos” e “colapso” iminentes

Diante do agravamento da pandemia, o Gabinete de Crise do governo do estado decidiu na tarde desta segunda-feira, 22, pela ampliação das restrições à circulação de pessoas em todo o estado. Independentemente da bandeira da região, a janela de horário da suspensão geral de atividades não essenciais, a partir desta terça-feira, 23, será ampliada em duas horas: começando mais cedo, às 20h, e indo até as 5h.

O anúncio foi feito pelo governador Eduardo Leite (PSDB) em transmissão ao vivo pelas redes sociais nesta tarde, após reuniões com o Conselho de Crise para o Enfrentamento da Epidemia Covid-19 e com a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e associações regionais.

“Estamos observando o mais acelerado e agressivo crescimento de internações desde o início da pandemia. Diante disso, convocamos prefeitos eleitos e reeleitos não para terceirizar, mas para compartilhar a responsabilidade. Todos nós recebemos a confiança da população para protegê-la, tanto do ponto de vista sanitário quanto econômico, e para encontrarmos a melhor medida das nossas ações neste momento especialmente crítico que estamos vivendo”, disse Leite.

Tanto o governador quanto a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, utilizaram expressões como “caos” e “colapso” iminentes para classificar a situação do estado.

“É o pior momento. Nunca tivemos uma taxa de ocupação hospitalar tão alta. Por isso estamos pedindo a colaboração de todos os hospitais para que mantenham atualizadas as informações diárias sobre covid-19 e Srag para que não sejamos surpreendidos com informações que não reflitam o dado da realidade, tanto de leitos clínicos quanto de UTI”, completou Arita.

Desde janeiro, foram abertos mais de mil leitos e há uma perspectiva de mais ampliações, “mas vai se esgotar porque não tenhamos mais equipamentos nem recursos humanos disponíveis. Se olharmos de janeiro pra cá, o quadro é assustador”, alertou.

Alterações e maiores restrições

Em reunião virtual com prefeitos, governo anunciou manutenção do mapa de distanciamento controlado do estado, com 11 regiões em bandeira preta

Foto: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini

Em reunião virtual com prefeitos, governo anunciou manutenção do mapa de distanciamento controlado do estado, com 11 regiões em bandeira preta

Foto: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini

Na reunião com a Famurs e associações regionais, os representantes pediram pela manutenção da cogestão do Distanciamento Controlado – na qual as regiões que decidirem aderir podem adotar protocolos próprios desde que não menos restritos que os protocolos da bandeira anterior (por exemplo, regiões em bandeira preta podem adotar protocolos de bandeira vermelha). Nesta rodada, das 21 regiões covid, 19 fazem parte do sistema compartilhado. As exceções são Guaíba e Santa Maria.

O Gabinete de Crise decidiu manter a cogestão regional mediante algumas alterações e maiores restrições. Uma delas foi a ampliação do horário da suspensão geral de atividades, que havia sido anunciada na sexta-feira, 19, com início a partir das 22h. Agora, o horário passa a ser desde as 20h, incluindo as mesmas atividades.

Devem estar fechados, sem público ou clientes, estabelecimentos de atendimento ao público, reuniões, eventos, aglomerações e circulação de pessoas tanto em áreas internas quanto externas, em ambientes públicos ou privados.

As exceções devem ser mantidas: farmácias, hospitais e clínicas médicas, serviços funerários, serviços agropecuários, veterinários e de cuidados com animais em cativeiro, assistência social e atendimento à população vulnerável, hotéis e similares, postos de combustíveis e estabelecimentos dedicados à alimentação e hospedagem de transportadores de cargas e de passageiros, estabelecimentos que funcionem em modalidade exclusiva de tele-entrega e Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa). A suspensão geral também não atinge atividades industriais noturnas.

Planejamento da fiscalização

A outra medida anunciada pelo governador é a necessidade de as associações regionais e prefeituras atualizarem seus planos regionais de cogestão, incluindo um detalhamento de como se dará a fiscalização nos municípios. A intenção é coibir aglomerações, o descumprimento da suspensão geral de atividades e outras medidas necessárias para conter a disseminação do vírus.

“Os prefeitos são determinantes no processo de fiscalização. Se vamos manter a cogestão, precisamos do compromisso de todos para que a fiscalização seja exercida com muito rigor. Precisa ter um caráter pedagógico, com visibilidade. Se não atuarmos com rigor, pode ser que, logo adiante, não seja possível interromper o sistema de colapso no sistema de saúde. Não é um alarme falso ou um teste: é preciso que os municípios se debruçam com total dedicação para exercer a fiscalização”, disse Leite.

O governador lembrou que as forças da Segurança Pública estão em esforço concentrado nas ruas para evitar aglomerações. No último final de semana foram feitas abordagens em quase 300 estabelecimentos que estavam abertos após o horário determinado.

“Nossos agentes precisaram desmobilizar quase 200 ocorrências de aglomeração e cerca de 50 festas clandestinas. E a ocupação dos leitos, tanto clínicos quanto de UTI, segue aumentando. A população precisa compreender que nunca a situação da pandemia esteve tão grave. Assim como já fizemos nesses dois primeiros dias, estaremos em total mobilização para garantir a efetividade da medida preventiva, sempre iniciando pelo diálogo. Mas não vamos hesitar em agir de forma mais firme e autuar aqueles que insistirem no descumprimento”, acrescentou o vice-governador e secretário da Segurança, Ranolfo Vieira Júnior.

Ensino presencial na bandeira preta

Apesar do quadro de gravidade da pandemia, o governo acatou pedido dos prefeitos para a manutenção das aulas presenciais na bandeira preta para a educação infantil e os 1º e 2º anos do ensino fundamental, “considerando a dificuldade que os pais encontram por não ter com quem deixar os filhos quando saem para trabalhar e a dificuldade de efetiva alfabetização das crianças em aulas virtuais”.

Para os demais níveis de ensino, as atividades presenciais seguem proibidas em regiões com bandeira preta. As atividades de ensino presencial não podem ser definidas pelo sistema de cogestão regional.

As mudanças, tanto no horário de suspensão das atividades, como do funcionamento da cogestão regional e das escolas, devem ser publicadas em decretos para que possam valer a partir de terça, 23, juntamente com o mapa definitivo da 42ª rodada.

Ainda nesta semana, o governo estadual convocou uma nova reunião, para quinta-feira, 25, com a Famurs e as associações regionais para reavaliar a situação e o cumprimento das medidas.

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