SAÚDE

Um em cada dez gaúchos já foi infectado pelo coronavírus

Dados inéditos do estudo Epicovid19 apontam que cerca de 10% da população – ou 1,13 milhão de pessoas – já tiveram covid-19 no estado
Da Redação / Publicado em 25 de fevereiro de 2021
Resultados da nona etapa da pesquisa Epicovid foram apresentados em transmissão virtual no Palácio Piratini

Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini

Resultados da nona etapa da pesquisa Epicovid foram apresentados em transmissão virtual no Palácio Piratini

Foto: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini

Um a cada dez habitantes do Rio Grande do Sul já foi infectado pelo coronavírus, de acordo com os dados mais recentes do Estudo de Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 (Epicovid19-RS), coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e governo do estado, com apoio de doze universidades públicas e privadas.

Dados atualizados nesta quinta-feira, 25, pela Secretaria Estadual da Saúde apontam que o estado atingiu 624.831 casos confirmados de covid-19, sendo 5.810 registrados nas últimas 24 horas; e 12.149 mortes. Desde o início da noite de quarta-feira, ocorreram 120 óbitos pela infecção. O estado atingiu nas últimas horas a maior gravidade da pandemia, com superlotação dos hospitais e filas de espera por leitos covid na capital e na região metropolitana. O índice geral de ocupação de UTI do estado chegou a 90,7% nesta tarde. O Centro de Operações em Emergência lançou o alerta máximo do plano emergencial que convoca os hospitais a dedicar todas as suas estruturas e pessoal para o atendimento de pacientes com covid-19.

Prevalência do coronavírus aumentou mais de sete vezes

A nona etapa da pesquisa estima que a proporção de pessoas com anticorpos para a Covid-19 é de 10% (de 9,1 a 10,9%, pela margem de erro) da população gaúcha, o que corresponde a cerca de 1,13 milhão de pessoas (que pode variar de 1,03 a 1,23) que já contraíram o Sars-Cov-2, mesmo que de forma assintomática.

A análise dos resultados mostra que a prevalência de Covid-19 no RS é, hoje, cerca de 7,2 vezes maior em comparação com a encontrada no levantamento anterior, realizado há cinco meses da etapa atual. Em setembro, o percentual de infecção era de 1,38%, equivalente a 156,7 mil pessoas.

“Ou seja, estamos longe da ‘imunidade de massa’, que deve ser atingida com patamares de imunização geral em torno de 60 a 80%”, diz o epidemiologista Aluisio Barros, que participa da coordenação do estudo na UFPel.

O aumento da prevalência no estado veio acompanhado de uma diminuição do número de pessoas respeitando as orientações de distanciamento social. De setembro para cá, o percentual da população que relatou sair de casa diariamente aumentou de 33% para 36%. Em comparação com o primeiro levantamento, realizado no início da pandemia em abril, esse aumento foi de 21% para 36%, enquanto a proporção de pessoas que praticamente não saem de casa caiu de 22% para 10%.

“A recomendação é manter o distanciamento social, além de seguir as orientações de uso de máscaras e higiene frequente das mãos”, afirma Barros.

Novo teste de anticorpos

Arte: GDO/ Divulgação

Arte: GDO/ Divulgação

Para a coleta dos dados, os pesquisadores entrevistaram e testaram 4,5 mil moradores de nove cidades gaúchas. Desse total, 443 apresentaram resultado positivo. 12,6% deles foram em Canoas, município que já vinha apresentando os maiores percentuais de casos em inquéritos anteriores. Passo Fundo teve 11,2% de positivos, e Santa Maria e Ijuí tiveram 10,2%. As prevalências foram de 10,5% em Uruguaiana; 9,5% em Caxias; e 8,9% em Pelotas. Porto Alegre e Santa Cruz do Sul apresentaram 8,3% de casos positivos. Essas cidades respondem por 31% da população do Rio Grande do Sul.

Nesta nona etapa, a pesquisa introduziu um novo teste de anticorpos capaz de identificar casos de infecções mais antigas, além dos testes rápidos que já faziam parte dos procedimentos de coleta de dados.

Desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o novo método batizado de S-UFRJ consiste em uma variação do teste Elisa (sigla em inglês para ensaios de imunoabsorção enzimática). É um teste de laboratório que se baseia em uma relação de antígenos-anticorpos. Uma preparação de uma proteína presente no envoltório do vírus é aderida a uma placa que, a seguir, recebe o soro em teste (amostras de sangue) para a identificação de anticorpos.

A UFPel foi responsável pelo estudo de validação do S-UFRJ, que avalia o uso dos testes em pesquisas populacionais. Os resultados mostraram que o método de testagem apresentou alta sensibilidade – em torno de 92% – para detectar anticorpos mesmo após cinco meses da infecção.

“Nas primeiras fases, o teste que utilizávamos era suficiente, pois vivíamos os primeiros meses da doença. Com a nova técnica, garantimos condições de identificar pessoas que tiveram a doença há mais tempo”, diz o epidemiologista.

Urgência da vacinação

Os autores recomendam o investimento para acelerar a vacinação o mais rápido possível, dando prioridade aos grupos mais vulneráveis a formas graves e ao óbito pela doença, como idosos e pessoas com comorbidades. Além disso, alertam que o avanço da vacinação não só reduz o número de doentes e de óbitos, mas também evita o aparecimento de novas mutações na medida em que reduz a circulação do vírus e sua taxa de reprodução. Ao mesmo tempo, é essencial continuar com as medidas preventivas – uso de máscara e distanciamento, em paralelo ao processo de vacinação.

A pesquisa segue em andamento no Rio Grande do Sul. A décima etapa deve acontecer de 9 a 12 de abril.

O objetivo do estudo é estimar o percentual de gaúchos infectados pela Covid-19; avaliar a velocidade de expansão da infecção e fornecer indicadores precisos para subsidiar políticas de enfrentamento da pandemia. O estudo conta com financiamento do Todos Pela Saúde, Banco Banrisul, Instituto Serrapilheira, Unimed Porto Alegre e Instituto Cultural Floresta.

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