MOVIMENTO

Centrais sindicais convocam trabalhadores para lockdown nesta quarta, 24, em todo o país

Mobilização alerta para a importância do isolamento social para conter os contágios e mortes, além de reivindicar vacinação em massa e auxílio emergencial de R$ 600,00
Por Gilson Camargo / Publicado em 22 de março de 2021
Em apenas 15 dias de março, o Rio Grande do Sul registrou mais mortes do que em qualquer outro mês da pandemia, mas o governo estadual cede à pressão de empresários e insiste em flexibilizar o isolamento devido à proximidade da páscoa

Foto: Igor Sperotto

Em apenas 15 dias de março, o Rio Grande do Sul registrou mais mortes do que em qualquer outro mês da pandemia, mas o governo estadual cede à pressão de empresários e insiste em flexibilizar o isolamento devido à proximidade da páscoa

Foto: Igor Sperotto

Diante do aumento de internações e mortes por covid-19, exaustão do sistema de saúde, lentidão na aplicação de vacinas e ausência de um plano nacional organizado para a imunização em massa, as principais centrais sindicais de trabalhadores, lideradas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) decidiram convocar as categorias dos mais diversos setores para um lockdown na próxima quarta-feira, 24, em todo o país.

As mortes diárias pela infecção, que no último domingo atingiram 1.259 em apenas 24 horas, já totalizam 2.255 nos últimos sete dias, em uma sucessão de recordes que elevou o total de óbitos no país para quase 295 mil. Na comparação com os últimos 14 dias, a variação foi de +46% nas últimas horas, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença.

"Sem lockdown, corremos o risco de perder totalmente o controle da pandemia", alerta Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS

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“Sem lockdown, corremos o risco de perder totalmente o controle da pandemia”, alerta Amarildo Cenci, presidente da CUT-RS

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No Rio Grande do Sul, o dia de lockdown dos trabalhadores será marcado por manifestações em diversos municípios e um ato em frente ao Palácio Piratini, a partir das 10h.

O estado tem quase 800 mil casos confirmados e cerca de 17 mil mortes por covid-19, com taxa de ocupação média dos leitos de UTI acima de 107%.

No último final de semana, o governo gaúcho obteve junto ao Tribunal de Justiça do estado uma decisão contra a liminar de primeiro grau que impedia o retorno da cogestão no Sistema de Distanciamento Controlado e de flexibilizações na bandeira preta. Apenas nos primeiros 15 dias de março deste ano, o estado registrou mais mortes do que em qualquer mês desde o início da pandemia, em março de 2020, e a tendência é de que a flexibilização das medidas de isolamento produzam ainda mais mortes: a projeção é de cerca de 25 mil óbitos até o início de abril.

“Será um dia de paralisação nacional, alertando para a necessidade de se fazer o fechamento das atividades sob pena de a gente perder completamente o controle de uma situação que já é de extrema dramaticidade. Haverá paralisações dos trabalhadores das diversas categorias do setor público e privado, abrangendo os metalúrgicos dos grandes polos do país como São Paulo e Minas Gerais, em defesa da vida, da vacina, do auxílio emergencial de R$ 600,00 e de uma política de proteção de empregos”, explica Amarildo Cenci, presidente estadual da CUT-RS.

Auxílio emergencial

De acordo com as entidades, a mobilização foi articulada por conta da “irresponsabilidade do governo federal, que levou o país ao pior colapso sanitário e hospitalar de sua história”. O país se tornou “um exemplo mundial de fracasso e de falta de políticas públicas” em relação à covid-19, destaca a CUT em nota. A manifestação também é contra a falta de vacinação em massa e pela retomada do auxílio emergencial com parcelas de, no mínimo, R$ 600,00.

Na quinta-feira, 18, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) editou a Medida Provisória (MP) nº 1.039/2021, que determina uma nova fase do auxílio emergencial, reduzindo o valor pago no ano passado, de  R$ 600,00 para R$ 250,00 e também diminuindo o número de trabalhadores e trabalhadoras desempregados e informais com direitos ao benefício.

“O governo também reduziu o valor recebido pelas mulheres chefes de família de R$ 1.200,00 para R$ 375,00 e as cotas individuais de R$ 600,00 para R$ 150,00. E, mesmo com valores absolutamente insuficientes para uma pessoa sobreviver, Bolsonaro reduziu o número de cotas por família de duas para apenas uma cota, ou seja, apenas R$ 250 por família. Como se não bastasse, incluiu critérios de renda, para reduzir o público que terá acesso ao benefício que será de apenas quatro parcelas. De forma cruel, o governo Bolsonaro condena as classes populares a viverem na miséria e a passarem fome no momento em que o país enfrenta a segunda onda da pandemia, com média diária acima de 2 mil mortos”, afirma o comunicado da direção nacional da CUT.

Medidas de isolamento e vacinas

O diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista e presidente da organização sindical internacional Industri ALL-Brasil, Aroaldo Oliveira, ressalta que desde o início da pandemia as centrais sindicais vêm discutindo medidas para proteger os trabalhadores e a sociedade. “Antes da descoberta de alguma vacina como solução, as centrais sempre defenderam o isolamento social, o distanciamento, o trabalho essencial com os protocolos necessários”. Oliveira lembra que o governo “negacionista” de Jair Bolsonaro “criou uma divisão entre saúde, vida e economia. E nega as medidas de isolamento social, de segurança e a vacina. Então chegamos em um ponto em que vemos os números de mortes aumentando a cada dia”, alerta.

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, informou que as entidades estão em contato com parlamentares e se reuniram com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para discutir medidas de contenção da pandemia. “Nesse momento, a questão principal é a doença, evitar que a pandemia continue aumentando o número de mortos a cada dia. Essa é a luta que as centrais sindicais têm feito junto à sociedade”.

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