Indicadores apontam agravamento da pandemia no RS
Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini
A proliferação de casos de covid-19 que colocou ao menos três regiões de saúde do estado em alerta na última quinta-feira, 20, mostra que a pandemia está longe de apresentar um recuo no RS.
Pelo novo sistema de monitoramento da pandemia adotado pelo governo gaúcho, outras cinco regiões – Cachoeira do Sul, Cruz Alta, Ijuí, Passo Fundo e Santo Angelo – devem adotar protocolos mais rígidos de distanciamento a serem decididos pelas prefeituras, sem o aval do estado.
Em muitas regiões, os hospitais públicos voltaram aos níveis de ocupação máxima de leitos. “Nossas UTIs estão superlotadas e nós estamos novamente trabalhando além dos nossos limites”, alerta Alisson Castanho, médico intensivista da Fundação Hospitalar Santa Terezinha, de Erechim.
O município apresentou um crescimento de 24% de novos casos de covid-19 entre os dias 11 e 18 de maio, cerca de duas semanas depois do reinício das aulas presenciais no estado, a partir do dia 3.
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A taxa de ocupação de leitos em UTI na região atingiu 91,2%. região de Santa Rosa apresentou aumento de 28,7% no contágio, de 194 casos no dia 5 de maio para 316 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias. A taxa de ocupação de leitos de UTI se encontra próxima ao topo da série histórica da região desde o início da pandemia, acima de 95%. Além disso, a Macrorregião Missioneira está com suas três regiões em alerta.
Nesta sexta-feira, 21, o total de casos confirmados chegou a 1.054.119, com 5,4 mil em a mais em apenas 24 horas. O total de mortes na pandemia também segue em um patamar alto, com 27.286, sendo 119 a mais desde a última atualização da Secretaria Estadual da Saúde. A média de lotação hospitalar em todas as regiões de saúde voltou a subir, passando de 80%.
Neste mês, o número de pacientes com covid-19 internados em leitos clínicos e de UTIs voltou a subir no RS. No dia 16, média de novas internações chegou a oito por dia, segundo o Comitê de Dados do governo do estado.
O governo do estado recebeu os planos de Ação de todas as cinco regiões às quais foram endereçados os primeiros Alertas do Sistema 3As de Monitoramento. Isso significa que as regiões de Cachoeira do Sul, Cruz Alta, Ijuí, Passo Fundo e Santo Ângelo se encontram em fase de Ação no sistema e devem aplicar protocolos mais severos, de acordo com a situação epidemiológica de cada uma.
A partir do envio do plano de ação ao estado, as regiões devem aplicar imediatamente os protocolos adaptados à situação epidemiológica – portanto, mais restritivos. Isso significa que protocolos mais rígidos são autoaplicáveis e não dependem de aval do estado.
Projeção de quase 100 mil novos casos
Infográfico: Ufrgs
A projeção para os próximos 30 dias é de um aumento significativo no total de contaminações e óbitos, de acordo com a plataforma Covid-19 Analysis Tools, criada pelo Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para fazer projeções da pandemia a partir de similaridades no mundo.
“O cenário atual da pandemia no RS é semelhante ao do Chile, que tem pouco menos de 8 milhões de habitantes a mais que o estado, compara o professor João Luiz Comba, coordenador do projeto.
Segundo ele, se mantidas as atuais médias diárias de contágio e óbitos, no dia 19 de junho, daqui a 30 dias, o RS poderá chegar a 29,4 mil mortes e 1.144.020 casos de covid-19. Isso representa 2.223 mortes e 94.741 novos casos em apenas um mês.
Aulas presenciais
Após o reinício das aulas presenciais no ensino público estadual e municipal e na rede privada, a contaminação de professores e alunos tem aumentado, de acordo com os sindicatos de professores. O Conselho Estadual de Educação (CEEd/RS) informou que está monitorando a situação das redes de ensino no estado e buscando soluções nas audiências de mediação do Tribunal de Justiça (TJRS). A mediação do conflito foi desmembrada por esferas administrativas pelo TJRS, que no dia 24 de maio realiza nova audiência para encaminhamentos em relação às aulas presenciais na rede estadual. “Estamos trabalhando e defendendo a necessidade de construção de procedimentos de monitoramento e fiscalização em relação ao cumprimento dos protocolos sanitários”, afirma Marcia Adriana de Carvalho, presidente do CEEd/RS.
No ensino privado, em Passo Fundo, o Colégio Marista Conceição informou na última quinta-feira a suspensão das aulas presenciais de seis turmas depois que alunos testaram positivos para a covid-19. Conforme o protocolo adotado pela instituição, quando há contaminação toda a turma é suspensa para evitar surto. As aulas foram suspensas por 14 dias.
“No ensino privado estamos enfrentando relativização dos protocolos e a ausência de fiscalização efetiva. Não adianta as escolas privadas terem infraestrutura para conter o contágio se, de fato, o uso de máscaras eficientes, de álcool em gel e distanciamento não estão sendo rigorosamente observados. O Sindicato também alerta para a importância do escalonamento de alunos e professores nas aulas presenciais”, informa Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS.
Rede estadual: contágios em 43 escolas de 32 municípios
Um levantamento divulgado pelo Cpers/Sindicato constatou ao menos 105 casos de covid-19 em escolas da rede estadual desde que recomeçaram as aulas presenciais, no dia 3 de maio. As informações foram levantadas pelo sindicato por meio de formulário on-line.
Ao todo, 90 educadores de 77 escolas responderam ao questionário. Em ao menos 43 escolas de 32 municípios foram relatados casos de covid-19, o que representa 56%, incluindo 34 professores, 22 funcionários, 13 integrantes da equipe diretiva e 36 alunos. Somente 15 escolas com casos positivos suspenderam as aulas após o diagnóstico.
A pesquisa também coletou dados sobre a sensação de segurança em relação ao ambiente escolar, qualidade e quantidade dos EPIs e adequação das orientações enviadas pelo estado a respeito dos protocolos.
Do total de participantes, 73% responderam que a escola não oferece condições de segurança adequadas para a realização de aulas presenciais; 47% disseram que não há EPIs suficientes e adequados para a proteção da comunidade escolar; e 83,5% responderam que o governo não fez um bom trabalho na orientação da comunidade escolar a respeito dos protocolos de segurança sanitária.
“O Cpers-Sindicato sempre alertou que a volta às aulas seria um fator muito forte para o aumento de casos devido ao aumento da mobilidade. Para ir à escola as crianças vão utilizar o transporte público, o transporte escolar, serão levadas pelos pais. Essas crianças, estando na escola, podem transmitir para os professores, funcionários e equipes diretivas ou para quem está em casa. Então, é um caminho de mão dupla para aumentar ainda mais a contaminação”, afirma a 1a vice-presidente do Cpers, Solange Carvalho.
Para a dirigente, grande parte dos casos de contágio na escola não é comunicada, o que leva a crer que esse número seja bem maior. “Em algumas regiões o pessoal quer abafar os casos, ou por ordem das Cres ou orientação da Seduc, dizendo que não precisa fechar escola e que basta sanitizar a sala onde aquele professor ou professora trabalhou. O número de contágios é grande, pode ser até maior do que chegou até nós”, suspeita.
Avaliação presencial
Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini
Nesta sexta-feira, o governo estadual lançou o programa Avaliar é Tri RS, que vai aferir o aprendizado dos estudantes em 2020 e avaliar as principais competências pedagógicas que precisam ser reforçadas em 2021. A plataforma dá preferência à avaliação presencial dos alunos, o que gera ainda mais preocupação, afirma Solange.
“Achamos um absurdo, essa nova onda chegando, várias regiões com Aviso, com Alerta, e o governo lançando uma plataforma de avaliação presencial. Já tomamos medidas, encaminhamos ofício para a Seduc, estamos visitando também prefeituras para que se faça o fechamento das escolas. Defendemos que escolas que não têm PPCI, merendeira nem servente para fazer a limpeza, que não têm professores suficientes, não abram e que os pais entendam que seus filhos vão correr riscos. Nós temos históricos de alunos bem jovens sendo contaminados e também passando adiante. Estamos frente a um quadro gravíssimo e queremos que o governo do estado tome medidas sérias, respeite a opinião dos prefeitos que estão com os seus hospitais lotados e não têm mais condições de manter as escolas abertas”.
Regiões em alerta
Foto: HCPA Arquivo/ Divulgação
O Gabinete de Crise avaliou as recomendações feitas pelo GT Saúde e confirmou a emissão de três dos quatro novos Alertas do Sistema 3As de Monitoramento sugeridos pela equipe técnica. Com isso, as regiões Covid de Palmeira das Missões, Santa Rosa e Uruguaiana devem adotar medidas para conter o avanço da pandemia.
Uruguaiana apresentou um aumento expressivo no número de casos, saindo de 277 por 100 mil habitantes em 12 de maio para 359 em no dia 18.
Enquanto o RS teve redução de 2,3% na incidência de novos casos, a região de Uruguaiana apresentou aumento de 29,6% no período.
A região de Palmeira das Missões teve alta incidência semanal de novos casos, 194 em 9 de maio para 287 em 18 de maio, resultando em um aumento de 47,9%. Além disso, houve aumento no número de internados em leitos clínicos, passando de 49 para 92 pacientes entre suspeitos e confirmados no mesmo período. A taxa de ocupação em leitos de UTI superou os 100% em 18 de maio.
A região de Santa Rosa apresentou aumento de 28,7% no contágio, de 194 casos no dia 5 de maio para 316 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias. A taxa de ocupação de leitos de UTI se encontra próxima ao topo da série histórica da região desde o início da pandemia, acima de 95%. Além disso, a Macrorregião Missioneira está com suas três regiões em alerta.
Além das três regiões com Alerta, foram apontados aumentos nos indicadores da pandemia em outras partes do estado.
Na região de Erechim, a incidência semanal de novos casos saiu de 143 em 6 de maio para 251,6 em 18 de maio, ou seja, um aumento de 24% somente na última semana. Os pacientes internados, suspeitos e confirmados de covid, em leitos clínicos também apresentaram expressiva elevação de 124% entre os dias 10 e 18 de maio, passando de 25 para 56 internados no período. O número de pacientes confirmados em leitos de UTI também aumentou consideravelmente entre 16 e 17 de maio, passando de 28 para 34 internações, o que fez com que a taxa de ocupação fosse para 91,2% na região.
A região de Caxias do Sul não teve aumento expressivo no indicador de incidência de casos novos por 100 mil habitantes, mas apresentou aumento de 30% nas internações em leitos clínicos, com salto de 287 internados em 9 de maio, entre confirmados e suspeitos, para 373 em 18 de maio. Em apenas dois dias, a região de Bagé registrou 78 novos casos, subindo de 288 em 15 de maio para 392 em 18 de maio.