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Fukuyama publicou o artigo intitulado O fim da história, em 1989. Três anos depois, reapresentou o tema em um outro texto, O fim da história e o último homem. A tese central dos dois textos consistia em fazer uma apologia da superioridade do capitalismo e da democracia liberal ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes. A partir dali, a única oposição se manifestaria sob a forma de focos isolados de nacionalismo e do fundamentalismo islâmico que ficariam restritos à periferia do sistema. O mundo entraria, comemorava Fukuyama, em uma nova fase dourada, um novo renascimento, marcado desta vez pelo desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação que dissolveriam as fronteiras do planeta.
Não é a primeira vez que isso acontece. A História costuma ridicularizar esse tipo de profecia determinista que pretende ditar os rumos do mundo. Fukuyama teve seus momentos de glória. Ganhou imenso espaço midiático. Fez conferências no mundo inteiro, inclusive em Porto Alegre, onde participou de um debate no auditório da Reitoria da Ufrgs. E eis que, apenas 20 anos depois, suas teorias foram reduzidas a pó. A História não só não acabou como atravessa hoje um período de grande turbulência.
O admirável mundo novo prometido pela globalização financeira resultou em uma das mais graves crises da economia ocidental. Por uma dessas ironias que a História parece gostar de praticar as receitas econômicas amargas de austeridade impostas a países da América Latina, Ásia e África hoje adotadas nos Estados Unidos e na Europa como suposta solução para a crise econômica. Bilhões de dólares foram pelo ralo com os negócios do cassino financeiro global. O Estado, apresentado até então pelos defensores deste sistema, como um gigante a ser diminuído, foi chamado a socorrer grandes bancos e instituições financeiras privadas. Quem pagou o socorro foram os contribuintes que agora são chamados a apertar os cintos para pagar essa conta. A crise econômica que atingiu os EUA e a Europa repercutem, é claro, em todo o mundo.
“No plano político, o mundo vive também um período de turbulência. Há apenas alguns meses, ninguém se atreveria a prever a eclosão de múltiplas revoltas populares em países do Oriente Médio e da África”
No plano político, o mundo vive também um período de turbulência. Há apenas alguns meses, ninguém se atreveria a prever a eclosão de múltiplas revoltas populares em países do Oriente Médio e da África. Governos que eram apontados como padrão de estabilidade, como é o caso do Egito, foram obrigados a renunciar em poucas semanas. A guerra da Líbia levou os EUA e seus aliados europeus a se envolverem em mais um conflito armado na região mais instável do planeta. A combinação da instabilidade política com a crise econômica constitui um caldo de cultura explosivo de consequências imprevisíveis.
Como se isso não bastasse, o terremoto e o tsunami que devastaram o Japão no dia 11 de março acabaram provocando, além de um saldo trágico de milhares de mortos e de grande destruição material, um acidente nuclear de proporções ainda não bem conhecidas. Assim como aconteceu em Chernobyl, a contaminação radioativa de Fukushima não respeita fronteiras, o que, mais uma vez, acendeu um debate mundial sobre o uso da energia nuclear.
O resumo da obra, neste início de 2011, é, portanto, o seguinte: crise econômica internacional, elevado índice de desemprego em países apontados até então como modelos de estabilidade, revoltas populares e guerras civis na África e Oriente Médio, desastres naturais e um acidente nuclear de grandes proporções e consequências imprevisíveis.
As ideias arrogantes de Fukuyama que embalaram os anos Reagan e Thatcher, apontados como modelos a serem seguidos, mostram hoje, para quem ainda tinha alguma dúvida, o que de fato eram: um embuste ideológico.