AMBIENTE

Áreas de maior preservação de solo e água são indígenas

Levantamento de pesquisadores do MapBiomas aponta que setor agropecuário avançou sobre 81,2 milhões de hectares em 35 anos e Brasil perdeu 15% de água desde 1990
César Fraga / Publicado em 8 de setembro de 2021

Áreas de maior preservação de solo e água são indígenas

Foto: MapBiomas/Divulgação

Foto: MapBiomas/Divulgação

De acordo com o levantamento feito por pesquisadores do Projeto MapBiomas Brasil, que reúne ONGs, universidades e empresas de tecnologia – apenas 1,6% da perda de florestas e vegetação nativa no Brasil entre 1985 e 2020 ocorreu em terras indígenas. Os dados são gerados a partir da análise de imagens de satélite do período usando recursos de inteligência artificial. A conclusão dos analistas é de que os territórios indígenas já demarcados ou aguardando demarcação foram os que mais preservaram suas características originais.

Os dados foram divulgados no dia 27 de agosto, um dia depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou mais uma vez o julgamento da tese do Marco Temporal, que segue em análise. A decisão da Corte afetará o futuro de 303 demarcações de terras indígenas (TIs) no Brasil. Os ministros analisam processo que determina se cabe ou não aplicar sobre as demarcações novas ou em andamento a regra do “marco temporal”, uma espécie de linha de corte.

Pelo entendimento do marco temporal, defendido por alas ligadas ao agronegócio, uma terra indígena só poderia ser demarcada se for comprovado que os índios estavam sobre a terra requerida na data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988. Quem estivesse fora da área na data ou chegasse depois não teria direito a pedir demarcação. O presidente Jair Bolsonaro também já se manifestou contra criar novas unidades do tipo. Além da oposição de grupos ambientalistas, cerca de 6 mil indígenas fizeram vigília na Esplanada dos Ministérios até o julgamento marcado para o dia 1º de setembro (data de fechamento desta edição).

O coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, alerta que se o país quiser ter chuva suficiente para abastecer os reservatórios que provêm energia e água potável para consumidores, indústria e o agronegócio, será preciso preservar mais a Floresta Amazônica. As imagens de satélite comprovam o que ele afirma: “Quem melhor faz isso são os indígenas”. Enquanto isso, a área de agropecuária cresceu em cinco dos seis biomas brasileiros.

Setor agropecuário avançou sobre 81,2 milhões de hectares em 35 anos

O estudo MapBiomas mostra que, entre 1985 e 2020, o crescimento da área ocupada por atividades agropecuárias foi de 44,6%. Agricultura e pecuária, juntas, avançaram sobre 81,2 milhões de hectares no período estudado. Essas atividades cresceram em cinco dos seis biomas brasileiros, com exceção da Mata Atlântica.

No período analisado, a área de plantio de soja e de cana alcançou a mesma extensão de toda a formação campestre do Brasil. A soja já equivale a uma área de terra equivalente a um estado como Maranhão, e a cana ocupa o dobro da área urbanizada de todo o país.

Brasil perdeu 15% de água desde 1990

Outra pesquisa do MapBiomas indica que a dinâmica de uso da terra baseada na conversão da floresta para pecuária e agricultura e a construção de represas contribuem para a diminuição do fluxo hídrico no Brasil.

“Cadê a água que estava aqui?” Esta foi uma pergunta recorrente que os cientistas do MapBiomas se fizeram após análise de imagens de satélite de todo o território nacional entre 1985 e 2020. Os dados, que estão disponíveis no site do MapBiomas, indicam uma clara tendência de perda de superfície de água em todas as regiões hidrográficas, em todos os biomas do país.

Ao todo, a retração da superfície coberta com água no Brasil foi de 15,7% desde o início dos anos 1990, caindo de quase 20 milhões de hectares para 16,6 milhões de hectares em 2020. Embora essa área seja equivalente ao estado do Acre ou quase 4 vezes o estado do Rio de Janeiro, desde 1991, quando chegou a 19,7

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