Polícia anunciará em coletiva elucidação do assassinato de adolescente Kaingang na Terra Indígena da Guarita
Foto: Gustavo Sales/ Câmara dos Deputados
Depois de obter na Justiça o sigilo sobre as investigações devido a pressões e ao clima de tensão e revolta locais em torno do caso, a polícia civil de Três Passos, na região Noroeste do estado, promete revelar em uma coletiva na manhã desta quarta-feira, 15, a conclusão das investigações sobre o assassinato da adolescente Daiane Griá Sales, de 14 anos.
Até agora, a polícia não sabia a data do crime. Daiane foi morta entre 31 de julho e 4 de agosto. O corpo da jovem foi localizado na tarde de 4 de agosto, uma quarta-feira, em uma lavoura próxima a um mato, no interior da Terra Indígena que fica no território do município de Redentora. Estava parcialmente devorado por animais, o que inviabilizou a perícia do Instituto de Criminalística.
Maior reserva do estado, com 24 mil hectares, a Guarita ocupa parte dos territórios de Redentora, Tenente Portela, Erval Seco e Miraguaí e abriga mais de 9 mil indígenas em 16 setores Kaingang e dois da etnia Guarani.
Foto: Reprodução
A polícia de Redentora identificou dois suspeitos, presos preventivamente, que participaram de uma festa improvisada com carros de som e bebidas dentro da reserva, na vila São João, durante a tarde e noite de sábado, 31 de julho. De acordo com vídeos feitos por frequentadores com celulares que foram apreendidos pela polícia, a adolescente participou da festa junto com outros indígenas e pessoas de fora da reserva. Foram os últimos registros de Daiane com vida.
A identidade dos suspeitos não foi revelada durante as investigações. O inquérito investigou várias hipóteses e indícios de estupro seguido de feminicídio. A coletiva de imprensa será realizada na sede da 22ª Região Policial na cidade de Três Passos e pode ser acompanhada pelas redes sociais da Polícia Civil.
Violência contra meninas e mulheres nas aldeias
Foto: Divulgação
Representantes de povos indígenas de todo o país e integrantes da Marcha das Mulheres Indígenas que estão mobilizados em Brasília para pressionar pela rejeição ao marco temporal – em julgamento no Supremo Tribunal Federal – denunciaram em audiência pública das comissões de Direitos Humanos e Minorias e de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados a discriminação étnico-racial e a violência de gênero vivenciadas por mulheres e meninas indígenas nas aldeias.
A deputada Joenia Wapichana (REDE/RR), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas e primeira mulher indígena eleita para a Câmara Federal lembrou que a população indígena do Brasil é formada por 305 povos, aproximadamente 900 mil pessoas, sendo 448 mil mulheres, que historicamente atuam em defesa de seus territórios e contra toda vulnerabilização das políticas indigenista e ambiental. Ela ressaltou a ausência de dados específicos que abordem a violência contra a mulher indígena, o que impossibilita a formulação de políticas públicas efetivas.
Participantes reforçaram a importância da questão territorial para a identidade indígena e manifestaram preocupação com iniciativas legislativas que podem impactar negativamente os direitos dos povos indígenas, como os projetos de lei 490 e 191, além do Projeto de Decreto Legislativo, cujo objetivo é retirar o Brasil da Convenção 169 da OIT, que trata da consulta prévia.
Cerca de 4 mil mulheres indígenas estão em Brasília para participar de agendas que compõem a Marcha Nacional de Mulheres Indígenas.
No encontro, as mulheres indígenas cobraram a investigação e respostas para os assassinatos de Daiane Sales e Raissa Silva, de 11 anos, do povo Guarani Kaiowá, vítima de estupro coletivo na reserva indígena federal de Dourados, no Mato Grosso do Sul, no dia 9 de agosto.