JUSTIÇA

Polícia anunciará em coletiva elucidação do assassinato de adolescente Kaingang na Terra Indígena da Guarita

Após participar de uma festa, jovem de 14 anos foi encontrada morta na tarde de 4 de agosto no interior da maior demarcação de povos indígenas do estado
Por Gilson Camargo / Publicado em 14 de setembro de 2021

Foto: Gustavo Sales/ Câmara dos Deputados

Violência de gênero nas aldeias foi tema de audiência na Câmara dos Deputados

Foto: Gustavo Sales/ Câmara dos Deputados

Depois de obter na Justiça o sigilo sobre as investigações devido a pressões e ao clima de tensão e revolta locais em torno do caso, a polícia civil de Três Passos, na região Noroeste do estado, promete revelar em uma coletiva na manhã desta quarta-feira, 15, a conclusão das investigações sobre o assassinato da adolescente Daiane Griá Sales, de 14 anos.

Até agora, a polícia não sabia a data do crime. Daiane foi morta entre 31 de julho e 4 de agosto. O corpo da jovem foi localizado na tarde de 4 de agosto, uma quarta-feira, em uma lavoura próxima a um mato, no interior da Terra Indígena que fica no território do município de Redentora. Estava parcialmente devorado por animais, o que inviabilizou a perícia do Instituto de Criminalística.

Maior reserva do estado, com 24 mil hectares, a Guarita ocupa parte dos territórios de Redentora, Tenente Portela, Erval Seco e Miraguaí e abriga mais de 9 mil indígenas em 16 setores Kaingang e dois da etnia Guarani.

Foto: Reprodução

Daiane participou de festa com não indígenas na aldeia antes do crime

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A polícia de Redentora identificou dois suspeitos, presos preventivamente, que participaram de uma festa improvisada com carros de som e bebidas dentro da reserva, na vila São João, durante a tarde e noite de sábado, 31 de julho. De acordo com vídeos feitos por frequentadores com celulares que foram apreendidos pela polícia, a adolescente participou da festa junto com outros indígenas e pessoas de fora da reserva. Foram os últimos registros de Daiane com vida.

A identidade dos suspeitos não foi revelada durante as investigações. O inquérito investigou várias hipóteses e indícios de estupro seguido de feminicídio. A coletiva de imprensa será realizada na sede da 22ª Região Policial na cidade de Três Passos e pode ser acompanhada pelas redes sociais da Polícia Civil.

Violência contra meninas e mulheres nas aldeias

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Crime ocorreu entre 31 de julho e 4 de agosto na Reserva da Guarita, em Redentora

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Representantes de povos indígenas de todo o país e integrantes da Marcha das Mulheres Indígenas que estão mobilizados em Brasília para pressionar pela rejeição ao marco temporal – em julgamento no Supremo Tribunal Federal – denunciaram em audiência pública das comissões de Direitos Humanos e Minorias e de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados a discriminação étnico-racial e a violência de gênero vivenciadas por mulheres e meninas indígenas nas aldeias.

A deputada Joenia Wapichana (REDE/RR), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas e primeira mulher indígena eleita para a Câmara Federal lembrou que a população indígena do Brasil é formada por 305 povos, aproximadamente 900 mil pessoas, sendo 448 mil mulheres, que historicamente atuam em defesa de seus territórios e contra toda vulnerabilização das políticas indigenista e ambiental. Ela ressaltou a ausência de dados específicos que abordem a violência contra a mulher indígena, o que impossibilita a formulação de políticas públicas efetivas.

Participantes reforçaram a importância da questão territorial para a identidade indígena e manifestaram preocupação com iniciativas legislativas que podem impactar negativamente os direitos dos povos indígenas, como os projetos de lei 490 e 191, além do Projeto de Decreto Legislativo, cujo objetivo é retirar o Brasil da Convenção 169 da OIT, que trata da consulta prévia.

Cerca de 4 mil mulheres indígenas estão em Brasília para participar de agendas que compõem a Marcha Nacional de Mulheres Indígenas.

No encontro, as mulheres indígenas cobraram a investigação e respostas para os assassinatos de Daiane Sales e Raissa Silva, de 11 anos, do povo Guarani Kaiowá, vítima de estupro coletivo na reserva indígena federal de Dourados, no Mato Grosso do Sul, no dia 9 de agosto.

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