Fórum Social Mundial ganha renovada atualidade política
Foto: René Cabrales/ Arquivo Extra Classe
Em janeiro de 2001, Porto Alegre foi sede da primeira edição do Fórum Social Mundial, resultado de uma articulação internacional de movimentos sociais, organizações sindicais, políticas e coletivos de diferentes áreas com um propósito comum: buscar alternativas à globalização financeira e ao modelo neoliberal que comandavam, então, a vida política e econômica das nações.
O lema “Um outro mundo é possível” sintetizava, ao mesmo tempo, uma recusa à ideologia neoliberal e a busca de alternativas capazes de construir outro tipo de relações sociais, econômicas e políticas.
A capital do Rio Grande do Sul era, naquele período, uma referência para a esquerda internacional em função da experiência do Orçamento Participativo implementada por sucessivos governos do PT em Porto Alegre e de outras políticas que, na época, eram desenvolvidas em nível estadual pelo governo Olívio Dutra.
Olhando retrospectivamente e considerando a realidade política dominante hoje no Rio Grande do Sul, naquela época, de forma paradoxal, o estado vivia outro mundo possível e não sabia. A reação conservadora àquelas políticas e as que vieram depois com os governos Lula e Dilma no Brasil e com diversos governos progressistas na América Latina não tardou e veio muito forte.
Há muitos paradoxos e contradições envolvidos nos processos políticos, econômicos e sociais que marcaram essas duas últimas décadas que merecem uma reflexão mais paciente e acurada.
Passados mais de 20 anos, o processo do Fórum Social Mundial perdeu força, por múltiplas razões que não serão analisadas aqui, mas o neoliberalismo e a globalização financeira seguem subjugando a agenda política e social das nações e da sociedade.
Quase dois anos de pandemia não foram suficientes para sensibilizar os dirigentes das instituições e governos que implementam essas políticas que esse caminho é suicida para a maior parte da humanidade e para o planeta como um todo. Ou seja, apesar de ter perdido força de mobilização nos últimos anos, a agenda que deu origem ao processo do Fórum Social Mundial segue mais atual e necessária do que nunca.
Está programada uma nova edição do Fórum Social Mundial para o início de 2022 no México, com a data exata ainda dependendo de questões relacionadas à evolução da vacinação contra a covid-19. Diversas atividades preparatórias estão sendo programadas em vários países. Porto Alegre, mantendo sua tradição de cidade-berço do Fórum, será sede do Fórum Social das Resistências e do Fórum Social Mundial Justiça e Democracia, que adquire um significado especial, levando-se em conta a história política recente do Brasil.
O Fórum Social Mundial Justiça e Democracia ocorrerá de 26 a 30 de janeiro de 2022 e pretende ser “um movimento de resistência, de denúncia, de criação e de luta para a transformação do sistema de justiça”.
O evento está sendo organizado por associações e coletivos jurídicos, movimentos sociais e entidades progressistas das áreas da Justiça e da Democracia. Entre elas, estão: Transforma MP, Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABDJ), Associação de Advogadas e Advogados Públicos pela Democracia, Associação de Juízes para a Democracia (AJD), Coletivo Defensoras e Defensores Públicos pela Democracia e Movimento Policiais Antifascismo.
O encontro pretende fazer uma reflexão sobre os diversos problemas que envolvem o sistema de justiça hoje e suas conexões com as ameaças que pairam sobre a democracia no Brasil e em vários outros países.
As atividades do FSMJD 2022 serão organizadas em torno de cinco grandes eixos: Democracia, Arquitetura do Sistema de Justiça e as forças sociais; Sistema de Justiça, Democracia e Direitos de grupos vulnerabilizados; Capitalismo, desigualdades, relações sociais, mundos do trabalho e sistemas democráticos de Justiça; Democracia, Comunicação, tecnologias e Sistema de Justiça; e Perspectiva transformadora do Sistema de Justiça e a centralidade da cultura nesse processo.
Juntamente com o Fórum Social das Resistências, a mobilização quer resgatar não só um pouco do espírito que animou as primeiras edições dos Fóruns em Porto Alegre, mas, principalmente, a percepção política sobre a necessidade urgente de buscar outros caminhos para o Brasil e o planeta como um todo.
Marco Weissheimer é jornalista. É colunista mensal do Extra Classe.