Socialistas vencem de lavada e continuam à frente do governo em Portugal
Foto: Nuno Veiga/República Portuguesa
A política econômica do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, passou no teste nas eleições gerais realizadas nesse último domingo, 30, no país.
Apesar de, às vésperas do pleito, a perspectiva ser de uma disputa apertada entre o governo, integrantes da oposição, de centro-direita, e até de membros da “geringonça”, de centro-esquerda, o socialista surpreendeu não só com a vitória, mas com seu partido conquistando 117 das 230 vagas no Parlamento. Os sociais democratas, principal frente de oposição ficaram com 71 cadeiras.
Fernando Horta, historiador que é doutor em Relações Internacionais e professor na Universidade de Brasília (UNB), atribui mais à vitória do Partido Socialista (PS): “Portugal, por uma série de razões, conseguiu manter sua população um pouco mais longe da zumbificação das redes e a percepção crítica das realidades acabou aparecendo”, afirma.
Na série citada por Horta está a forma com que os portugueses trataram em sua memória o período político instaurado por Antonio Salazar de 1933 até 1974. “Eles dissecaram o Salazarismo, eles estudaram o Salazarismo, eles expuseram as entranhas do Salazarismo”.
Memória pública
Para o historiador, não há lá como no Brasil e na Itália a construção mítica de regimes de exceção como a ditadura cívico-militar de 1964 e o fascismo de Benito Mussolini.
“Embora existam grupos tanto lá quanto aqui que reivindicam isto, a memória pública, o poder público português, não aceita essa discussão. “Lá se consolidou a perspectiva histórica de que o Salazarismo foi um regime brutal, de violências muito semelhantes as violências fascistas”.
No entendimento de Horta, “ao se expor essa memória, ao se trabalhar essa memória, se quebra um encanto de um passado relembrado de forma mítica e completamente distanciada da realidade”. A grande diferença de Portugal, prossegue, é a forma como eles trataram sua memória pública.
Isso não é novo para os portugueses. “Nós estamos brigando aqui hoje para termos um museu da escravidão, um museu da ditadura porque os nossos políticos não permitem. Portugal trabalha com essa questão desde o Sebastianisno, desde Dom Sebastião no século XIV. Essa importância dada ao trabalho da memória pública permitiu, nesse momento, que eles tivessem uma capa maior de proteção contra essa zumbificação digital.
As coisas batem em Portugal e não se alastram na sociedade como acontece na Inglaterra, como acontece na Itália”.
A síntese é: “países que trabalharam a sua memória pública de forma mais aprofundada durante os tempos são os que menos estão sendo chacoalhados pela revolução digital”, conclui Horta.
A eleição
A eleição geral portuguesa foi convocada no ano passado de forma antecipada. Na ocasião, o primeiro-ministro Costa não conseguiu aprovar o orçamento após ter perdido o apoio de dois partidos menores que integravam sua coalizão.
Para Costa, Portugal precisava de estabilidade para garantir a recuperação econômica, depois da crise provocada pela pandemia.