Professor é demitido após criticar desperdício de água por latifundiários
Foto: Acervo Pessoal
Um comentário provocativo postado no perfil pessoal em uma rede social pelo professor Ronan Moura Franco, do Colégio Marista Sant’ana, de Uruguaiana, virou pretexto para uma campanha de ódio, difamação e ameaças protagonizada nas redes sociais por pessoas ligadas ao agronegócio, muitas delas alheias à comunidade escolar. A escola cedeu à pressão e demitiu o professor.
No início de janeiro, a população urbana do município, situado em uma das regiões mais castigadas pela seca no sul do país, era convocada, pelas redes sociais da prefeitura local, a racionar o consumo de água. O município é o maior produtor de arroz irrigado do estado.
“A postagem que gerou os ataques e culminou na minha demissão foi no meu perfil pessoal do Twitter e dizia o seguinte: Bom dia, pobres. Já economizaram água hoje para um latifundiário poder irrigar sua lavoura de soja?”, relata. A reação de setores conservadores foi imediata.
Parte dos ataques foi documentada pelos próprios agressores.
“Recebi prints de grupos de WhatsApp ligados aos produtores, bem como de grupos de direita partidários do presidente Bolsonaro, em que os ataques e a cobrança de uma ‘atitude da escola’ eram estimulados. Tive fotos do meu casamento com meu esposo compartilhadas, enfatizando que a escola era um espaço ‘cristão e conservador’, assim como recebi prints de grupos com postagens com o endereço da minha casa e ameaças de perseguição.”
Ronan é formado em Licenciatura em Ciências da Natureza, tem especialização em Neurociência aplicada à Educação, mestrado em Ensino de Ciências e faz doutorado em Educação em Ciências. Leciona desde 2019 em Uruguaiana, onde é nomeado na rede municipal de ensino. Ele observa que foi demitido quando ainda estava em férias e, antes mesmo do reinício das atividades escolares, outro professor de Física já havia sido contratado.
Em nota, a Rede Marista afirmou apenas que “os motivos e as circunstâncias de desligamentos são sempre conduzidos, exclusivamente, com os educadores envolvidos”.
“A demissão do professor Ronan foi arbitrária e ideológica. Causa estranheza que esta escola, sendo confessional, tenha uma postura de desrespeito à livre manifestação, ainda mais em rede pessoal do professor”, afirma Cecília Farias, diretora do Sinpro/RS.