Foto: Alan Santos/PR
Mulheres, negros, gays, pobres e nordestinos não gostam de Bolsonaro. São os contingentes da população que o sujeito não consegue enganar.
As mulheres pobres rejeitam Bolsonaro. Mas as mulheres de classe média nem tanto. Entre as mulheres em geral, em todas as classes, o sujeito tem o apoio de 29%, segundo o Datafolha.
Por que ele se mantém com esse suporte político feminino, se 51% dos eleitores do país, segundo o mesmo instituto, o consideram o candidato mais agressivo com as mulheres?
Por que esse quase um terço se mantém quase inalterado, com pequenas oscilações, se Bolsonaro diz, ao lado de Michelle, que é imbrochável?
Há tentativas de resposta no meio acadêmico, mas são insuficientes. Michelle disse esses dias que a mulher deve ser a “ajudadora” do homem.
No discurso do 7 de Setembro em Brasília, o marido dela afirmou que sua mulher não está sempre ao seu lado. “Muitas vezes está à minha frente”
E os dois se beijaram.
E Michelle posicionava-se, naquele exato momento, mais atrás de Bolsonaro, em posição secundária. Quem estava ao lado dele, na mesma linha, era o ‘véio’ da Havan.
Michelle seria, segundo algumas tentativas de análise do apoio feminino a Bolsonaro, o perfil clássico da apoiadora do homem que chegou ao poder sempre com falas e atitudes agressivas diante das mulheres.
Conforme esses analistas, a mulher submetida ao poder econômico do marido, religiosa, temente do mando de um homem – e certa de que ele é quem lidera uma família sempre – seria a eleitora modelo de Bolsonaro.
Mas as mulheres pobres o rejeitam porque a maioria não tem homem mandando em casa. Quem gosta de Bolsonaro é a mulher da classe média branca, que os analistas não conseguem alcançar plenamente nas suas explicações.
As mulheres são hoje chefes de pelo menos metade dos lares no Brasil. Nas periferias das mulheres invisíveis, elas são maioria como mantenedoras da casa.
São essas pobres que entendem o significado e o peso do bolsonarismo. Mulheres são agredidas, violentadas e assassinadas todos os dias sob o incentivo do machismo orientado pela extrema direita.
Mulheres com exposição pública, como é o caso das jornalistas, são ofendidas pelo próprio Bolsonaro e por seus cúmplices.
Por isso Michelle não conseguiu dar conta do esforço para que o marido alargasse seu alcance no público feminino. Michelle envia mensagens a um público já conquistado
Michelle fala para as mulheres que já são bolsonaristas e reafirma a fala da submissão “ajudadora” em relação aos homens.
Mesmo assim, é exagerado que um terço da população feminina apoie um individuo que não só despreza os direitos delas, mas se dirige às mulheres com alguma autonomia de forma ofensiva.
Bolsonaro teme as mulheres com ideias próprias e tem medo das mulheres pobres que conhecem bem o poder de destruição dos machos bolsonaristas.
Mas para o genocida, as mulheres não o admiram porque “gostam menos” de motociatas
Ele também já disse, em cerimônia no ano passado em homenagem ao Dia Internacional da Mulher: “As mulheres estão praticamente integradas à sociedade”.
Esse é o bolsonarismo, um fenômeno dos machos brancos, ricos e de classe média, sem relação alguma com bases sociais populares.
Não tem conexão com referências como as do getulismo, peronismo, chavismo e outros movimentos chamados grosseiramente de populistas.
O bolsonarismo é uma excrescência política e social mantida pelas elites. Um dia teremos de entender como e por que se sustentou também no apoio das mulheres.
Moisés Mendes é jornalista. Escreve quinzenalmente para o jornal Extra Classe.