EDUCAÇÃO

Bullying, tiros e três vítimas em escola do Ceará

Adolescente e arma foram apreendidas pela PM. Bullying, o motivo alegado pelo atirador que alvejou colegas, é um “cancro”, aponta especialista  
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 5 de outubro de 2022
Bullying, tiros e três vítimas em escola do Ceará

Foto: Reprodução/Redes sociais

Duas vítimas foram baleadas na cabeça e outra na perna.

Foto: Reprodução/Redes sociais

Um estudante adolescente de 15 anos atirou em três colegas do 1º ano do ensino médio, na Escola Professora Carmosina Ferreira Gomes. O episódio ocorreu nesta quarta-feira, 5,  em Sobral, no Ceará. O município é considerado referência em educação.

Uma das vítimas está em estado grave e entubada. Outra, com quadro de saúde estável já foi liberada. Os dois meninos foram atingidos na cabeça. O terceiro, foi baleado na perna e segue sob avaliação médica. O atirador alegou ser vítima de bullying.

A assessoria de imprensa da Santa Casa de Sobral informou que as três vítimas foram levadas imediatamente para o hospital após o ocorrido.

Arma pertencia a CAC

A polícia já sabe que a arma pertence a um CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). Chegou a circular a informação de que a pistola seria do pai do atirador, porém os investigadores não confirmam a informação, pois ainda tentam confirmar a real identidade do proprietário da arma.

No Brasil, o número de armas registradas por CACs cresceu quase cinco vezes entre 2018 e 2022, após os decretos presidenciais que facilitaram o acesso deste segmento a armamentos. Saltou de cerca de 350 mil armas para mais de 1 milhão.

Atirador alegou ser vítima de Bullying

O Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (Raio), grupo especial da Polícia Militar do Ceará, logo após o ocorrido, seguiu para a residência do adolescente e fez as apreensões.

De acordo com o comando do Raio, o atirador disse que seu motivo para o atentado foi o bullying que sofria na escola.

Para o professor Hugo Monteiro Ferreira, responsável pelo treinamento dos atendentes do serviço Pode falar, canal de ajuda em saúde mental para jovens da Unicef no Brasil, “o bullying é um tipo de violência e como toda natureza de violência, o bullying é matriz, campo fértil, para que novas maneiras, novas formas, novos modelos de violência emerjam”.

Segundo o educador que é pós-doutor em Estudos da Criança pela Universidade do Minho, Portugal e doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a vítima do bullying, ao contrário do que se costuma pensar, pode ser muito violenta.

A dor do bullying é permanente

“A vítima do bullying costuma guardar em sua memória a dor sofrida e essa dor não passa com o tempo”, afirma.

Uma característica, aponta Ferreira, de modo geral que sofre bullying planeja e arquiteta vinganças.

“Jeitos de fazer sofrer quem também a fez sofrer. Nem sempre esse ‘quem a fez sofrer’ deve ser entendido pela pessoa, pelo grupo que a perseguiu sistematicamente”, analisa.

“Pode ser alguém que lembre, se relacione, represente de alguma maneira, aqueles e aquelas que a violentaram. Ao contrário, com o tempo, se fortalece e é capaz de fazer a vítima consolidar ataques violentíssimos”, completa.

O professor desabafa: “o bullying é um cancro. O Brasil ainda não entendeu isso”.

Ataque recente na Bahia

No último dia 26 de setembro, uma estudante cadeirante foi morta dentro da Escola Municipal Eurídes Sant’Anna, em Barreiras, BA.

O responsável também estudava na escola. Ele foi baleado depois que a polícia foi chamada e levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Geral do Oeste.

O atirador, de 14 anos, divulgava discursos de ódio contra gays, lésbicas e nordestinos e bandeiras políticas da extrema direita em suas rede sociais, onde anunciou o ataque poucas horas antes. É filho de policial militar reformado e usou arma do pai.

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