OPINIÃO

Peskizaz

Por Fraga / Publicado em 11 de outubro de 2022

Ilustração: Rafael Sica

Ilustração: Rafael Sica

Ainda não se sabe como, os institutos de pesquisas inflaram o nosso otimismo eleitoral. Para nós, ansiosos por nos livrar do Ritler na presidência, o otimismo parecia um dirigível flanando estável em direção ao cais democrático, onde atracaria sem sustos.

Porém, como um Hidemburgo carregado de supostos pontos percentuais, o imenso balão murchou e desabou do alto da nossa elevada expectativa.

É o que dá confiar em pesquisas, um costume recente na história da humanidade. Antes delas, o único instituto confiável era a experiência acumulada, sempre guiada por essa fiel cachorra farejadora, a Intuição. Foram milênios de adivinhações ignorantes, certo, mas sem o risco das projeções ou falsas esperanças sustentadas por números hipotéticos.

(Não custa imaginar eventos históricos do passado remoto dependente das pesquisas:

No Éden, 100% da humanidade obedece às leis divinas. Como os pesquisadores deixaram os ofídios fora das consultas? Como subestimaram sua influência sobre 50% da população?

Ou, mais tarde, na Inglaterra, em novo episódio envolvendo frutas vermelhas:

Por falta de sol este ano, os enxames de abelhas estão 12,4% mais preguiçosos, o que afetará a polinização das macieiras em flor em 7% ou 8%, com impacto de menos 44,1% na produção de maçãs. E sem a solarização, haverá menos pessoas à sombra das árvores, inclusive com ausência de estudiosos da física sob elas. Então, as chances da lei da gravidade não ser descoberta agora chegam a 78,3%.)

Puizé: pelos institutos, a eleição estava ganha e o que ganhamos foi um aquífero de água gelada. Ok, água a gente sempre pode pôr pra ferver novamente, e tudo indica que a mobilização pra botar lenha na caldeira da democracia vai arrebatar o povaréu.

Quanto aos métodos das pesquisas, é o seguinte: 51% dos pesquisadores acreditam que alguma correção de rumo precisa ser feita, só não sabem em que direção. Já 52% acham que tudo deve continuar como está, porque têm certeza que as previsões estavam corretas – os eleitores é que não seguiram os prognósticos. (O que dá 103% de confusão nesse parágrafo, peraí.)

A dúvida final é: qual o percentual restante de esperança?  Bom, se os cálculos não estão errados, houve 20% de abstenção: um em cada cinco eleitores achou que seu voto não faria diferença, e fez toda. Já o volume de indecisos precisará se decidir, e se até agora o fascismo não fez essa gente reagir, convém não contar com eles.

Enfim, na reta final pro 2º turno, melhor se alienar das pesquisas. O que importa é que tamo 1.000% certos que o bozonazismo já passou do insuportável. Chega disso.

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