Lula faz de ato em Porto Alegre manifesto contra o racismo
Foto: Igor Sperotto
Em Porto Alegre, na tarde desta quarta-feira, 19, o ex-presidente e atual candidato à presidência da República Luis Inácio Lula da Silva (PT) manifestou solidariedade ao cantor Seu Jorge, que junto com outros artistas negros, foi alvo de ofensas e manifestações racistas durante um show no Grêmio Náutico União, na capital gaúcha, na última sexta-feira, 14.
“Eu vou apenas aqui demonstrar minha solidariedade ao Seu Jorge. Ele é a mais recente vítima do preconceito nesse país”, declarou Lula na abertura da coletiva de imprensa no hotel Plaza São Rafael.
A pauta racial predominou no encontro com jornalistas por iniciativa dele.
“Nós e todas as pessoas democráticas desse país, temos que rejeitar e repudiar qualquer gesto de preconceito”, arrematou Lula depois de abordar outros casos recentes de ódio racial e alertar que é preciso acabar de vez com o racismo estrutural.
Questionado sobre o que deve ser feito para combater o ódio racial, foi direto: “Nós temos a Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. O problema do preconceito no Brasil não é falta de lei. É uma questão que está na massa encefálica de uma sociedade que foi, durante 350 anos, escravista”, resumiu.
Ao lado do candidato a vice, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB-SP), da ex-presidente Dilma Rousseff e dos candidatos do PT não eleitos ao governo do estado, Edegar Pretto, e ao Senado, Olívio Dutra, Lula afirmou que é preciso escolher o mais democrata, razoável e sensível aos problemas sociais entre os candidatos a governador que foram para o segundo turno no estado.
“Onyx (Lorenzoni, do PL) não é essa pessoa. Ele está muito mais próximo de Bolsonaro”, cravou, sem citar Eduardo Leite (PSDB).
Ainda na coletiva, Lula disse acreditar que a sociedade brasileira está mais madura para voltar à democracia e que ele se considera “muito próximo da vitória para acabar com o flagelo de 33 milhões de pessoas passando fome”.
Lula manteve críticas a campanha do adversário, das fake news ao uso da máquina pública.
“Desde Deodoro da Fonseca, jamais se viu a máquina pública sendo utilizada de forma tão deslavada como está sendo feito pelo atual gestor, com a liberação indiscriminada de recursos, num certo desespero”, apontou.
Combate à fome
Foto: Igor Sperotto
Questionado por jornalistas, disse que, se eleito, pretende governar combatendo a fome, o desemprego e a desigualdade e que isso é possível com fomento à economia, geração de empregos, retomada de obras paralisadas e aumento real do salário mínimo, a exemplo das duas vezes em que foi presidente.
“O salário mínimo aumentou 74% com a gente”, comparou.
Lula disse que não pretende assinar carta de compromisso com todos os setores da economia e defendeu a revisão da reforma trabalhista para incluir a categoria dos profissionais das plataformas de aplicativos.
Provocado sobre sua relação com o agronegócio, explicou que “o agro tem muito mais a ganhar com as árvores em pé do que destruindo os biomas”.
Afirmou que nenhum governo investiu ou financiou o setor como em suas gestões e citou a Medida Provisória 452, de 2008, que promoveu a securitização das dívidas agrícolas de R$ 85 bilhões.
“Sem essa medida, a maioria tinha quebrado. As colheitadeiras que aparecem na televisão tinham financiamento com juros de 2% ao ano. Hoje é de 18% ao ano”, comparou.
Lula afirmou que não permitirá a ocupação desordenada de nenhum bioma e pretende investir em parceria com “o mundo” em laboratórios de pesquisas para investigar a biodiversidade da Amazônia, o que compreende outros países da região.
Finalizou, afirmando que “a economia não está bem, decaiu, o país tem que voltar a crescer no mínimo 4% ao ano. Tudo isso para que o povo possa voltar a sorrir”.
Concentração e caminhada
Foto: Igor Sperotto
Pouco antes das 16h, o candidato participou de concentração no Largo dos Açorianos e uma caminhada pela avenida Borges de Medeiros até a Praça da Matriz, junto ao Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, e à Assembleia Legislativa.
No carro de som, Lula falou para um público estimado em mais de 50 mil pessoas, de acordo com a coordenação da campanha.
Discorreu sobre suas propostas e voltou a tocar na eleição para o governo do estado.
Ao lado de Pretto, que ele chama de “quase governador”, já que o candidato do PT não foi para o segundo turno contra Onyx Lorenzoni por uma diferença de 2,4 mil votos, Lula defendeu que o PT gaúcho apoie o candidato mais identificado com a democracia e os problemas sociais.
À noite, Alckmin jantaria com integrantes do diretóri0 do PSB gaúcho. O encontro suscitou especulações em torno de uma eventual articulação envolvendo o segundo colocado na disputa ao governo do estado.