Uma realidade em nossa escola
A saúde é um dos temas transversais abordados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Dentre os objetivos propostos está provocar no educando dos ensinos fundamental e médio o conhecimento e o cuidado do próprio corpo e a valorização de hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida, de forma que possa agir com responsabilidade e consciência em relação à sua saúde e à saúde coletiva. Assim, justifica-se plenamente a implantação de um projeto no ambiente escolar que vise à conscientização de uma cultura doadora de órgãos e tecidos.
Foto: Igor Sperotto
Os Projetos Doe sangue, Salve vidas e Doe Esperança-Salve Vida, desenvolvidos pelos educandos e educadores da escola de educação básica Rainha do Brasil, de Porto Alegre, desde 2009, teve início no momento em que os estudantes mostraram interesse em entender os verdadeiros motivos que levam à falta de doadores de sangue e de medula óssea nos respectivos bancos. Essa atitude de querer saber mais sobre o assunto partiu da leitura do artigo Cientistas criam sangue universal, de um jornal local.
Após a leitura e reflexão sobre o tema, vieram os questionamentos dos motivos que levam à “fabricação” de um tipo sanguíneo para solucionar a escassez de sangue para doação. Esse foi o ponto de partida para a elaboração dos projetos citados, pois perceberam que a necessidade de se “criar sangue em laboratório” existe porque as pessoas não têm consciência da importância da doação, seja por falta de informação ou por questão logística. Percebendo o interesse sobre o assunto, instigamos os educandos a pesquisarem a realidade da captação de sangue e a demanda necessária para suprir os hospitais em nosso município. Logo vieram as primeiras impressões: faltava sangue por falta de doadores, de doadores de medula e por falta de informação sobre o assunto. A partir daí, buscamos estratégias para ajudar a mudar esse quadro, conscientizando que um simples gesto poderia salvar vidas. Desenvolvemos diferentes atividades para que, além deles, mais pessoas elucidassem suas dúvidas a respeito deste assunto.
Nessa nova etapa, os educandos estruturaram uma campanha de conscientização com a criação da Press School, uma miniagência de publicidade e propaganda, responsável pela criação e impressão do material de circulação interna e externa, para divulgação dos projetos, posteriormente distribuídos na comunidade escolar e no Parque Farroupilha.
Em 2011, ampliou-se o foco de atuação. Além de informar sobre a importância da doação de sangue, os alunos da 7a série elaboraram campanha para cadastramento de doação de medula (projeto Doe Esperança − Doe Vida). Foi proporcionado aos educandos (da 7ª série ao ensino médio) palestra no auditório da escola sobre os mitos e verdades da doação e cadastramento de medula óssea, ministrado por professores da instituição e também por profissionais do Hemocentro. Esclarecimentos como o voluntário para se cadastrar necessita doar apenas 5 mililitros de sangue, que a tipagem sanguínea pode revelar um HLA (antígeno) compatível e daí a salvar uma vida, e o que para nós é um pequeno passo para alguém que necessita realizar um transplante de medula é o passo da vida foram relevantes para o processo de conscientização. E foi exatamente essa noção que passaram a disseminar junto aos seus familiares e à comunidade.
Após a palestra, com a parceria firmada com o Hemocentro Porto Alegre, os fôlderes confeccionados pela Press School, e o dia marcado para a ação de cadastramento na escola, os educandos juntamente com educadores compareceram no Parque da Redenção no Dia da Solidariedade (21/05) para divulgar e conscientizar sobre a importância do cadastramento para doação de medula óssea.
No dia 17 de junho de 2011, tivemos a primeira ação concreta, onde educadores, funcionários, familiares e comunidade participaram do projeto Doe Esperança−Doe Vida com a finalidade de ampliar o cadastro de doadores de medula óssea. Nessa ocasião, contamos com 205 voluntários que se cadastraram. Nossos alunos tiveram participação efetiva através da recepção e preenchimento das fichas de cadastros dos doadores.
Em 2012, firmamos parceria com a Fundação Ecarta, no projeto de abrangência estadual denominado Cultura Doadora. Juntos procuramos contribuir para o despertar do exercício da cidadania, levando o exemplo do nosso trabalho e demostrando que com ações concretas nos tornamos agentes transformadores de realidades. Hoje, essa cultura é uma realidade em nossa escola.
Em 2013, houve a doação de sangue (projeto Doe sangue, Salve vidas) em parceria com o Hemocentro-Unidade Móvel. Nessa ação, nossos educandos (16 anos, acompanhados pelos responsáveis) passaram a protagonistas, tornando-se também doadores de sangue.
Depoimento como o da aluna Betina D’Avila – “Na 7ª série percebi que seria uma doadora. Esperei quatro anos para isso” –, que doou sangue motivada pela responsabilidade e solidariedade, durante uma tarefa da Olimpíada RB-2014, é a comprovação de que é possível, sim, oportunizar momentos de cidadania e comprometimento, transformando nossos jovens em cidadãos conscientes e preocupados com o outro e com uma sociedade mais fraterna.