Professores debatem sobre a autonomia docente
Fotos: Sinpro/RS
Fotos: Sinpro/RS
A terceira edição da Semana da Consciência Profissional, realizada de 13 a 17 de outubro, pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro/RS) junto à categoria em todo o estado propôs uma reflexão acerca da autonomia docente. A iniciativa surgiu a partir da manifestação de professores ao Sindicato, relatando situações de interferência de instituições de ensino no trabalho docente. Durante a Semana da Consciência Profissional a direção do Sindicato intensifica as visitas aos professores nas instuições de ensino.
Em levantamento realizado pelo Sinpro/RS, a maior parte dos professores ouvidos afirma ter autonomia, mas observa que esta vem perdendo espaço nos últimos anos. “Muitos fatores acendem um alerta para uma possível subversão de papéis. A formação de redes de ensino com a padronização pedagógica, a incidência das famílias sobre a direção das escolas, na lógica do aluno-cliente, os conglomerados de capital internacional, a disputa ideológica das instituições de ensino na tentativa de tutelar os professores, são algumas delas”, explica Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS.
A fala do diretor vai ao encontro de relatos de professores que sentem a interferência de instituições de ensino na atuação docente. “O professor era o mestre, agora qualquer pai pode se manifestar e mudar toda a aula. Infelizmente, a escola está do lado de quem paga”, relatou uma professora na região Metropolitana. “Nós recebemos o livro pronto e temos que usar, não importa se esse era o conteúdo programado ou não. Cadê minha autonomia?”, reclama outra.
“Quando perdemos a autonomia, o professor vira um executor. O conteúdo vem pronto e eu só repasso”, pontua professora de uma grande rede de ensino. “Cada atividade que eu faço com a turma precisa ser repassada nesse sistema. É como um comprovante do que eu fiz”, desabafa professora da educação básica. Durante as visitas, não foram poucos os momentos de silêncio, motivados pela presença de representante da direção da escola na sala dos professores. “Esse silêncio também é revelador”, explica o diretor Ivo Mota, Regional Rio Grande. “Precisamos saber usar nossa autonomia. As imposições prevalecem
quando não usamos o direito de desenvolver nossas ações livremente”, destacou professor de Porto Alegre. No site do Sindicato, um espaço especial foi desenvolvido para dar suporte ao debate. Artigos, materiais da semana e uma enquete sobre o tema ficaram disponíveis.
ARTIGO – Sobre autonomia do professor
A terceira edição da Semana da Consciência Profissional desenvolvida pelo Sinpro/RS na semana em que se comemora o Dia do Professor propôs uma reflexão e manifestação sobre a autonomia do professor. A definição do conteúdo neste ano transcendeu aos tradicionais temas trabalhistas abordados nas duas edições anteriores e está alicerçada em relatos frequentes de incidência e ingerência das hierarquias superiores nas instituições de ensino sobre a atuação e os resultados do trabalho dos professores.
A atividade da Semana da Consciência Profissional se diferencia das visitas regulares dos representantes do Sindicato para relatos e apresentação das iniciativas do Sinpro/RS. Propor um assunto e insistir na manifestação dos professores no ambiente da própria instituição, geralmente sob o olhar vigilante de coordenadores e/ou diretores, é por si só um desafio de profundo conteúdo político, que nem sempre alcança seu objetivo, em função do que foi adendado um pequeno questionário para manifestação anônima e mais livre para um contingente maior de professores.
Das manifestações colhidas dos professores, a maioria considerou ter autonomia de atuação profissional na instituição em que trabalha, na abordagem dos conteúdos programáticos e no processo avaliativo dos seus alunos, mas assinalaram que esta autonomia vem diminuindo nos últimos anos. A percepção predominante da perda de autonomia justifica o afloramento do tema. A avaliação numericamente majoritária quanto à existência de autonomia para definição de conteúdos e de avaliação deve estimular os professores a uma atenção redobrada e ao desafio da preservação do espaço de atuação e das margens de definição de formas e conteúdos que sempre orgulharam os professores.
A percepção de redução desta autonomia certamente está associada a uma série de iniciativas que estão evidenciadas na padronização dos materiais didáticos, na constituição de redes de ensino cada vez mais orgânicas e, é claro, na implementação de lógicas de mercado pautadas pela fidelização do “cliente-aluno” a qualquer preço. Preço pago invariavelmente pelo professor, contabilizado em desgaste físico e mental, quando não moral, pela imposição de exigências que afrontam a autonomia.
Para o resguardo da autonomia que remanesce e para a resistência frente às ameaças que se avolumam, o Sinpro/RS definiu uma comissão para discutir o tema em profundidade e definir propostas e reivindicações que enfrentem os problemas que vêm colocando em evidência a perda da autonomia do professor no seu trabalho e na sua condição profissional.
Direção Colegiada do Sinpro/RS