Crescem pedidos de demissão no ensino privado
Foto: Gilson Camargo - Sinpro/RS
Muitos relatam que o trabalho em sala de aula se tornou insustentável no retorno às aulas presenciais após a pandemia. Os relatos aparecem na hora da rescisão de contrato junto ao Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS).
Ainda que parte dos pedidos de desligamento seja por iniciativa do próprio docente em virtude de recolocação no mercado de trabalho, o número de professores que optou por abandonar o exercício da docência equivale a mais de um terço das rescisões do último trimestre.
De 1º de dezembro até 28 de fevereiro, o Sinpro/RS homologou 1.606 rescisões, sendo 969 professores demitidos pelas instituições de ensino, 536 pedidos de demissão e 97 desligamentos por outros motivos.
Em um recorte mais amplo, os pedidos de demissão representam mais da metade das rescisões feitas pelo Sindicato. O primeiro semestre de 2022, por exemplo, registrou um aumento de 45% dos desligamentos por vontade própria na comparação com o semestre anterior.
De acordo com relatos de docentes que pediram desligamento, no pós-pandemia e no retorno gradual à presencialidade as condições de trabalho em sala de aula tornaram-se ainda mais complexas.
“Muitos alunos voltaram apáticos, com dificuldades de concentração, resistentes aos conteúdos, mais agressivos com a gente”, queixou-se uma professora da educação básica que resolveu se demitir da escola onde lecionava.
Muitos docentes se dizem assustados com o excesso de medicalização e laudos apresentados pelos pais para justificar faltas ou mau desempenho de alunos.
Para a diretora do Sinpro/RS, Cecília Farias, o aumento dos pedidos de afastamento é significativo do desalento de boa parte dos profissionais em relação ao exercício da docência.
No primeiro semestre do ano passado, de um total de 2.388 demissões homologadas entre 1º de janeiro e 28 de junho, praticamente metade, ou seja, 1.073 professores haviam pedido demissão. Os maiores índices apareceram na educação básica (61%) e na educação infantil exclusiva (22%).
“Já está insustentável neste início de ano o excesso de demandas das escolas para os professores. Como atender à diversidade dos alunos, não só os com deficiência, se os professores não têm horário para preparar as aulas adequadamente? As escolas precisam entender que desse jeito haverá sérios problemas para encontrar bons professores”, alerta Cecília.
Segundo informações do Sinpro/RS, o ensino privado gaúcho conta com 30.694 professores, que trabalham em 2.572 instituições de ensino – da educação infantil à educação superior, atendendo mais de 400 mil estudantes.