Ilustração: Ricardo Machado
Ilustração: Ricardo Machado
Mas, como fica difícil atribuir ideologias a placas tectônicas, talvez seja melhor pensar em terremotos apenas como metáforas. Quando não se pode confiar nem na firmeza do chão que se pisa, está-se perto da máxima metáfora possível para insegurança. O terremoto é a maneira que a Natureza tem de desdenhar das nossas certezas e nos lembrar da nossa insignificância. E da Terra nos dizer que ainda não está pronta, mas num processo de construção e autoajuste que mal entendemos e sobre o qual não temos nenhum controle. Dizem que não corremos riscos de grandes terremotos no Brasil, apesar dos piores presságios do Lula para o caso de uma vitória do PSDB, mas é fácil imaginar o pavor dos outros. Se um dia você se encontrar em meio a um terremoto, console-se com este pensamento: é a Terra falando com você na única linguagem que conhece. É uma metáfora, mas procure um lugar seguro.
O terremoto que destruiu Lisboa no século 18 não foi exatamente politizado. O debate, então, era sobre a natureza do Deus que permitira aquele horror, e engajou crentes contra descrentes como Voltaire. Um dos efeitos colaterais da tragédia foi um alento para as ideias iluministas, dada a desilusão com o Deus destruidor. Hoje se compreende as razões, geológicas e não teológicas, para os cataclismos, o que não impede que Deus e seus meios sejam questionados pelo que mais sofrem seus efeitos e custam a se recuperar. E tanto chilenos quanto haitianos têm as mesmas queixas.