Estudante gaúcha é capa de jornal na Noruega contra restrições a estrangeiros em universidades
Foto: Reprodução/Bergens Tidende
A estudante gaúcha Clara Marques, 26 anos, foi capa de um dos maiores jornais da Noruega, o Bergens Tidende, nesta segunda-feira, 12 de junho, ao defender o acesso subsidiado de estudantes de fora da União Europeia em cursos oferecidos no país. As taxas começaram a ser cobradas neste ano.
Formada em História da Arte na Ufrgs em 2021, Clara se candidatou e foi selecionada para o mestrado em artes visuais na Faculdade de Arte, Música e Design (Fakultet for Kunst, Musikk og Design (KMD), em Bergen, segunda maior cidade norueguesa, depois da capital Oslo.
Para membros da União Europeia o acesso é gratuito.
Para quem é de fora da zona, o mesmo curso custa cerca de 34 mil euros por ano, mais 12 mil euros para o visto de estudante. Este último é ressarcido ao aluno quando ingressa na instituição de ensino.
Clara seria da primeira turma a ter que pagar. “Mas igual preciso basicamente depositar tudo no mesmo dia. E isso é por ano”, explica a jovem surpresa com seu rosto na capa do jornal.
“Uns dias atrás dei uma entrevista sobre a minha questão com a anuidade da universidade que devo pagar caso não obtenha a cidadania italiana. Pediram para enviar uma foto e hoje foi uma surpresa enorme estar na capa e na página 2 do jornal”, relatou Clara aos familiares e amigos nesta manhã.
A reportagem de duas páginas (capa, 2 e 3) foca no case da estudante gaúcha evidenciando os protestos contra essa implementação, a partir deste ano, desta anuidade para quem é fora da União Europeia.
“A matéria foca o meu caso e escuta professores e alunos do Instituto que dizem que o ambiente escolar universitário fica muito pobre sem os estrangeiros, e que é um desastre o que está acontecendo. O jornalista explica como essa taxa é alta e relata minha corrida para virar italiana para não ter que pagar”, traduz.
Clara Marques está em Roma onde reside a mãe, a também gaúcha Emma Siliprandi, com dupla nacionalidade, aguardando a liberação da cidadania para poder iniciar as aulas em agosto, na Noruega.
“Eu tive a sorte e o privilégio de poder contar com a cidadania italiana que vai me permitir cursar esse mestrado. Mas não é o caso da maioria dos estudantes estrangeiros, e estão cobrando preços exorbitantes justamente das pessoas de países mais pobres. Obviamente que o número de estudantes estrangeiros vai diminuir e os que vão poder arcar com esses custos ou estarão profundamente endividados ou serão filhos de milionários. Se for a segunda opção, que tipo de diversidade é essa? E se for a primeira, que tipo de sistema de educação é esse?”, questiona a estudante, que quer frequentar as aulas e tem se envolvido em movimentos para ampliar o acesso subsidiado para alunos de fora da zona do euro.
Ela observa que outra preocupação dos noruegueses é que eles temem serem os próximos a terem de pagar.
“Quem é a favor da cobrança, diz que a Noruega não pode ser responsável pela educação alheia, e acusa os estudantes estrangeiros de explorarem a gratuidade deles, indo para lá somente para estudar e depois retornando aos seus países de origem sem retribuir à Noruega”, conta.
“Porém, isso desqualifica todas as redes que se criam entre países, tanto de pesquisa quanto individuais, comerciais e institucionais. A Noruega está super avançada, por exemplo, no campo das energias renováveis. É importante que outros países aprendam e reproduzam esses sistemas não baseados em combustíveis fósseis. Mas qual é a diferença de eu fazer isso como italiana ou como brasileira? Como brasileira, é uma diferença de quase 100 mil euros para o próprio bolso e como italiana nenhum centavo de diferença para a União Europeia”, contabiliza.