A favor do vento
A energia gerada pelos ventos (eólica) entre as fontes alternativas é a que mais cresce no mundo. No Brasil, pesquisas estimam que o potencial eólico chegue a 143 mil megawatts (MW) ou 143 GW *, mais de dez vezes o que é gerado pela Usina Hidrelétrica de Itaipú.
O ministro de Minas e Energia (MME), Edison Lobão, anunciou para o dia 14 de dezembro a realização do primeiro leilão exclusivo para a energia eólica. Estão inscritos 441 projetos de 11 estados, com capacidade de 13.341 MW, próxima ao que é gerado em Itaipú, 14 mil MW. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética – EPE, ainda não foi definido o potencial que será contratado, que pode ser de 3 mil MW a 4 mil MW. Os contratos são do tipo Energia de Reserva (LER) e valem por 20 anos, com início de suprimento a partir de 1º de julho de 2012.
A proposta inicial do Ministério era de que os projetos previssem a geração individual de 2 MW por catavento, mas a exigência foi reduzida para 1,5 MW.
O Nordeste registrou o maior número, com 322 empreendimentos, equivalente a 9.549 MW, no RN, CE e BA. Os 111 projetos da região Sul representam 3.594 MW, com destaque para o Rio Grande do Sul, com 86 inscritos e potência total de 2.894 MW.
Além de não prejudicar o meio ambiente, a energia eólica gera investimentos, rendimentos para a agricultura, tecnologias de ponta, é à prova de secas e gera empregos, entre quatro e cinco vezes mais que indústrias como a nuclear e de carvão mineral. Num país cuja matriz energética é baseada fortemente em hidrelétricas, a energia dos ventos complementa a matriz em períodos de pouca chuva e na entressafra. Além disso, as usinas eólicas convivem com outras atividades como a pecuária e a agricultura.
Hoje, a fonte eólica representa 0,4% da matriz nacional, insuficiente, portanto, para reduzir o consumo dos combustíveis fósseis que agravam o efeito estufa. Mas a expansão tem sido maior agora. Em 2006, a energia eólica somava 271 MW. Até o final deste ano, estão prometidos mais 427 MW e, para o final de 2010, mais 684 MW, totalizando 1.423 MW ou 1,4% da matriz elétrica brasileira. O litoral do Nordeste, o centro da Bahia, o norte de Minas Gerais e o extremo sul do Brasil apresentam grande potencial eólico.
Os Estados Unidos têm o maior número de instalações de energia eólica, com 25 mil MW instalados, superando a Alemanha, com 22,2 mil MW.
Produção pode render
certificados de carbono
De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica, está sendo projetada a instalação de 30 mil MW por volta do ano 2030, podendo ser estendida em função da perspectiva de venda dos “Certificados de Carbono”. Existem, atualmente, mais de 30 mil turbinas eólicas de grande porte em operação no mundo, com capacidade instalada da ordem de 31 mil MW.
A geração de energia a partir dos ventos no Brasil iniciou em julho de 1992. No Rio Grande do Sul, desde 1999 o governo tem prestado mais atenção ao potencial eólico regional.
Ecologicamente correto
A avifauna é quem mais sofre os impactos negativos dos parques eólicos, segundo a Fepam. Apesar de não queimarem combustíveis fósseis e não emitirem poluentes, as fazendas eólicas alteram paisagens e podem ameaçar pássaros se forem instaladas em rotas de migração. Emitem um certo nível de ruído (de baixa frequência), que pode causar algum incômodo aos animais. Além disso, podem causar interferência na transmissão de televisão.
Socialmente justo
A geóloga Lúcia Ortiz, diretora do Núcleo Amigos da Terra (NAT-Brasil), critica as políticas públicas atuais para promover as energias renováveis por excluírem do pacote de medidas a universalização e a gestão participativa, que diminua as desigualdades sociais e regionais no acesso à energia. “Projetos de energia eólica vêm surgindo em áreas de proteção ambiental e grandes áreas particulares ou em terras públicas desapropriadas para esse fim. Se produz energia de forma centralizada em “fazendas” que possuem apenas cataventos, e não pessoas ou terra produzindo. As comunidades rurais, que representam 80% da população sem energia, são as últimas beneficiadas”, diz a ambientalista.
Atlas eólico mostra vantagens do estado
Os projetos gaúchos totalizaram o segundo maior volume de propostas para o leilão, com 2.894 MW, em 30 projetos, atrás apenas do RN, que apresentou mais de 4 mil MW. O Atlas Eólico RS (dados de 2000 a 2002) mostra que os ventos sobre o estado são suficientes para ajudar a suprir a demanda energética regional. Ao longo dos 630 km de extensão do litoral gaúcho, existem 986 km2 com ventos intensos. Os Parques Eólicos de Osório, no Litoral Norte, já têm licença prévia da Fepam para a instalação de mais 75 aerogeradores, o que vai duplicar sua capacidade de produção. É o maior conjunto da América Latina , desde janeiro de 2007 em operação comercial, o único projeto de energia eólica em funcionamento no Rio Grande do Sul, segundo a Aneel. Subdividido em três parques – Osório, Sangradouro e Índios –, com um total de 75 aerogeradores, e 150 MW de potência instalada, o empreendimento é capaz de produzir 425 milhões de kWh por ano – o suficiente para abastecer, por ano, 650 mil pessoas num município como Porto Alegre. O projeto foi realizado no âmbito do Proinfa e investidos no projeto R$ 665 milhões, dos quais R$ 465 milhões financiados pelo BNDES e um consórcio de bancos. O contrato com a Eletrobras é de 20 anos para que a Ventos do Sul Energia forneça os 150 MW à Ceee, recebendo R$ 231 por MW/h. A Ventos do Sul é constituída pelos espanhóis da Elecnor/Enerfin Enervento e os alemães da Enercon/Wobben Windpower, e tem como presidente Telmo Magadan, sócio-proprietário da CIP Brasil, empresa gaúcha que participou da fundação do parque de Osório. A Enerfin inscreveu 392MW no leilão. A potência está distribuída entre 150MW para novos parques em Osório e mais 242MW para Palmares do Sul, num investimento total de 2 bilhões de reais.