A água é de responsabilidade de todos
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Com a ideia inicial de reunir 40 mil pessoas, foi encerrado oficialmente na manhã desta sexta-feira, 23, o 8º Fórum Mundial da Água em Brasília, superando expressivamente as expectativas. Realizado pela primeira vez no Hemisfério Sul, o evento ainda concebido no governo Dilma Rousseff, bateu o recorde de público de todos os fóruns até o momento. Foram mais de 97 mil visitantes para debater o tema Compartilhando Água. As discussões atraíram 12 chefes de Estado, 134 parlamentares e 70 ministros de 56 países.
Contribuiu para o êxito da iniciativa o fato de pela primeira vez o Fórum disponibilizar uma programação gratuita. A Vila Cidadã foi responsável por mais de 75% do público. Até a última quinta-feira, 22, mais de 86 mil pessoas estiveram nos stands montados no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha, desse total, 46 mil foram crianças das escolas públicas do Distrito Federal.
A 8ª edição do Fórum Mundial da Água marcou o 25º aniversário da instituição do Dia Mundial da Água e foi um momento de importantes discussões e assinaturas de resoluções sobre a temática.
Autoridades assumem compromisso
A Declaração Ministerial do 8º Fórum Mundial da Água, intitulada Chamado urgente para uma ação decisiva sobre a água, foi aprovada no dia 20, durante sessão no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. O documento é fruto dos debates entre Ministros e Chefes de Delegação de mais de 100 países. As autoridades reconhecem que todos os países precisam tomar medidas urgentes para enfrentar os desafios relacionados à água e ao saneamento, estabelecendo algumas ações consideradas prioritárias.
O documento defende a água como um elemento transversal do desenvolvimento sustentável e no desafio da erradicação da pobreza; os recursos hídricos como indispensáveis para todos os seres vivos e para a vida em harmonia e em equilíbrio com o planeta e seus ecossistemas, reconhecidos por algumas culturas como “Mãe Terra””; e que todos os países precisam tomar medidas urgentes para enfrentar os desafios relacionados à água e ao saneamento.
O painel Global de Alto Nível sobre Água e Paz emitiu relatório no qual, entre importantes pontos, destaca a necessidade do sistema das Nações Unidas fortalecer seu apoio aos países a respeito da água e a melhorar a integração e coordenação do trabalho da ONU sobre os objetivos e metas relacionados à água no âmbito do seu pilar de desenvolvimento sustentável.
Foto: Jorge Cardoso/8º FMA
Foto: Jorge Cardoso/8º FMA
Foto: Jorge Cardoso/8º FMA
Foto: Jorge Cardoso/8º FMA
O papel das empresas
Durante o painel de altas lideranças, seis pontos principais foram levantados pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) de como as empresas podem contribuir para a gestão responsável da água. Os compromissos, baseados nos pilares da disponibilidade, do uso e da destinação da água, incluem:
– promoção ao engajamento da cadeia produtiva;
– contribuição com tecnologias, conhecimento, processos e recursos humanos;
– incentivo a projetos compartilhados em prol da água;
– medição e comunicação pública da gestão da água na empresa;
– ampliação da inserção do tema água na estratégia de negócios;
– minimização dos riscos da água para o negócio.
Na ocasião, 18 grandes empresas assinaram o documento e se comprometeram com a gestão responsável da água, com a promoção da eficiência hídrica nas indústrias e com o combate ao desperdício. Dentre elas, Aegea, Ambev, Anglo American, Braskem, BRK Ambiental, Coca-Cola Brasil, CPFL Energia, CPFL Renováveis, Ecolab, Eletrobras, Grupo Boticário, Grupo Lorentzen, Heineken, Natura, New Steel, Unilever, Vedacit e Vestas.
“Diante da realidade de escassez que estamos vendo, é preciso que não somente as indústrias façam a sua parte, mas também o governo, promovendo o saneamento, e os próprios cidadãos, que deveriam ser conscientizados sobre a importância de usar racionalmente esse recurso”, afirmou a presidente de CEBDS, Marina Grossi. “O compromisso é o primeiro passo para a criação de uma plataforma, na qual as empresas irão compartilhar suas melhores práticas e oferecer à sociedade transparência sobre a utilização da água em suas atividades”, explicou.
O diretor do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável Peter White reforçou a importância do tema água estar inserido na tomada de decisões das companhias. “Sem água, sem vida. Sem água, sem negócios”, resumiu, convocando outras empresas a aderirem ao compromisso.
Justiça: direito ambiental
A Conferência de Juízes e Promotores no Fórum Mundial da Água produziu o primeiro documento oficial feito por juízes dos mais variados países do mundo sobre a água. O documento tem como objetivo padronizar as questões judiciais que envolvam o direito ambiental e, mais especificamente, aspectos relativos à água. “Temos um grande desafio. Temos uma necessidade imensa de água e de justiça. Desde a Rio+20, o judiciário está mais unido e hoje apresentou o Instituto Judicial Global. E é global mesmo. Temos juízes da Áustria, Austrália, Brasil, América Latina, EUA, Filipinas, estados do mundo todo. É o primeiro documento feito por juízes sobre a Justiça da Água. O documento foi orientado por princípios como acesso à água, a ideia de que é mais importante prevenir do que despoluir”, declarou o jurista Ricardo Lorenzetti, ex-presidente da Suprema Corte da Argentina.
Pedro Soares, membro da Assembleia da República de Portugal, comentou sobre a declaração assinada: “É preciso ficar atento ao controle social, pois este é de suma importância para que a legislação seja aplicada. Não adianta ter leis fortes e uma sociedade civil sem estar consolidada. O interesse público sempre tem que estar em primeiro plano”.
Arnold Kreilhuber, chefe da Unidade de Direito Ambiental Internacional da agência da ONU, estimou que a Declaração deva servir para que os juízes, advogados ambientais de todo o mundo tenham contato com mais frequência. “Devemos usar o Instituto para o mundo evoluir cada vez mais. Temos que engajar cada vez mais pessoas. Quatro ativistas ambientais são mortos por semana. Isso me espanta bastante”, declarou.
Foto: Jorge Cardoso/8º FMA
Preservação do Pantanal
Representados pelos ministros do Meio Ambiente de Brasil, Bolívia e Paraguai assinaram, no dia 22, a Declaração para a Conservação, Desenvolvimento Integral e Sustentável do Pantanal. O documento propõe que os três países trabalhem para promover o desenvolvimento sustentável da região, incluindo o respeito aos habitantes do local. Para o ministro do Meio Ambiente e Água da Bolívia, Carlos Ortuño, “este dia será lembrado como exemplo de irmandade e solidariedade, desprendimento e entrega. Hoje os três países demonstram ao mundo que nossa região é líder na prevenção de problemas e da preservação de ecossistemas.”
O Ministro de Estado do Meio Ambiente do Paraguai, Didier Cezar Olmedo Adorno, comemorou. “Estamos falando de um recurso continental único em todo o mundo. Fico feliz que a preservação e o desenvolvimento sustentável e integral do Pantanal sejam a concretização dessa importante tarefa realizada no marco das nações unidas, em sintonia com os objetivos da Agenda 2030”.
O pantanal atravessa as fronteiras brasileiras e se une com Bolívia e Paraguai. Com mais de 200 mil quilômetros quadrados, trata-se da maior planície de inundação contínua do mundo. E um terço dele está em território mato-grossense. Berço de 4.700 espécies animais e vegetais, é considerado Patrimônio Natural Mundial pela Unesco.