Projeto Botos da Barra lança guia para educadores
Foto: Ignacio Moreno/ Projeto Botos da Barra do rio Tramandaí
A interação entre pescadores artesanais e golfinhos na captura da tainha, além de encantar turistas mais atentos na foz do rio Tramandaí, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, é um fenômeno amplamente estudado desde o início dos anos 1990 por pesquisadores e acadêmicos da Ufrgs e de outras instituições de ensino. A dinâmica da pesca cooperativa e a conservação também predominam nas atividades de educação ambiental desenvolvidas pelos pesquisadores junto às comunidades locais. Com o objetivo de estender o alerta sobre o risco de extinção da pesca interativa e conscientizar sobre a emergência da preservação desse ecossistema na região, o Projeto Botos da Barra do rio Tramandaí, realizado pelo Laboratório de Sistemática e Ecologia de Aves e Mamíferos Marinhos (Labsmar) do Instituto de Biologia da Ufrgs, Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), com apoio do MEC e da Transpetro lançou o guia Interação entre pescadores, botos e tainhas: aprendizados sobre cooperação, tradição e cultura.
Foto: Elisa Ilha/ Projeto Botos da Barra do rio Tramandaí
O guia foi produzido de forma a permitir sua utilização em práticas pedagógicas diversas, tendo como público-alvo professores de ensino fundamental e médio, educadores, pesquisadores e demais interessados na conservação do ambiente marinho e comprometidos com a pluralidade sociocultural, explica o biólogo Ignacio Benites Moreno, professor associado da Ufrgs campus interdisciplinar Litoral Norte e do Ceclimar.
“A publicação aborda a interação da pesca cooperativa entre pescadores e botos, de forma didática, conceitual e prática, com dinâmicas e atividades lúdicas para espaços educativos diversos. O conhecimento compartilhado é baseado nas pesquisas científicas desenvolvidas nos últimos anos de projeto, por meio de trabalhos de conclusão de curso, especializações e teses de mestrado e doutorado, e no conhecimento tradicional dos “Pescadores Amigos do Boto”, descreve o pesquisador. Segundo Ignacio Moreno, o objetivo do guia é proporcionar autonomia dos temas abordados entre educadores, unir os saberes técnico-científicos aos tradicionais e valorizar o potencial multiplicador dos educadores para a conservação da sociobiodiversidade regional e brasileira.
O projeto Botos da Barra tem por objetivos principais o fortalecimento da pesca cooperativa, divulgação de conhecimento científico, monitoramento da população de botos da barra e educação ambiental. A publicação faz referência, entre outras fontes de pesquisa, à reportagem Ação humana ameaça botos na Barra do rio Tramandaí, publicada em agosto de 2014 pelo Extra Classe.
Foto: Ignacio Moreno/ Projeto Botos da Barra do rio Tramandaí
ESPÉCIE AMEAÇADA – Além de Tramandaí, a interação entre pescadores artesanais e pesca da tainha e de outros peixes com a ajuda de botos das mais diferentes espécies já foi registrada em Laguna, na foz dos rios Mampituba; em Torres; Araranguá, Santa Catarina e no estuário da Cananeia em São Paulo – e com variações de comportamento dos mamíferos marinhos na Mauritânia, África; Moreton Bay, na Austrália; na Índia e no Myanmar. Os golfinhos da Barra, também conhecidos como nariz-de-garrafa – ou, para os pesquisadores que mapeiam a espécie, Tursiops gephyreus, são parceiros dos pescadores na pesca artesanal da tainha há décadas. Os primeiros registros datam dos anos 1950. A população de botos da Barra pertence a uma espécie redescrita em 2015, que se distribui pela costa sul brasileira (Paraná e Rio Grande do Sul) até a província de Chubut, na Argentina. Está ameaçada de extinção.
Foto: Reprodução
De acordo com o trabalho de conclusão do curso de Biologia Marinha da Ufrgs/Uergs apresentado pela pesquisadora Bárbara Santos em 2016 sob a orientação de Ignacio Moreno, pelo menos 16 desses mamíferos marinhos, que pesam em média 300 quilos, aparecem na orla regularmente, mas o número é variável devido às crias que aparecem todos os anos – e devido às mortes. A aparição do boto é sinal de que cardumes de tainha estão nadando contra a corrente, do mar para o rio, o que mobiliza os pescadores. Os peixes são empurrados pelo boto na direção dos pescadores, que se posicionam ao longo da margem do rio com as tarrafas em punho. A um sinal do boto, que eleva a cabeça ou salta acima das ondas, as redes são jogadas e os peixes que escapam da tarrafa são abocanhados.