AMBIENTE

Cunhado e aliado de Bolsonaro são condenados por invasão de terras públicas na Mata Atlântica

Theodoro Konesuk, casado com uma irmã do candidato, criava gado em quilombo no Vale do Ribeira e empresário Valmir Beber, aliado de longa data, plantava banana em reserva ecológica na mesma região
Por Alceu Castilho, Igor Carvalho e Leonardo Fuhrmann* / Publicado em 23 de outubro de 2018

 

Quilombo invadido cunhado de Bolsonaro

Foto: Reprodução/YouTube

Quilombo invadido por cunhado de Bolsonaro

Foto: Reprodução/YouTube

Antes e durante a sua campanha, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) tem sido implacável nas suas críticas aos que protegem o meio ambiente e os povos tradicionais. A maioria das vezes com um discurso extremamente preconceituoso.

Em abril de 2017, Jair Bolsonaro tomou a palavra no clube Hebraica, no Rio de Janeiro, e disparou: “Os quilombolas não servem nem para procriar” e completou: “Eu fui em um quilombo em Eldorado paulista e o afrodescendente mais leve de lá pesava sete arrobas”. Desde que começou a campanha, Bolsonaro tem declarado que não irá demarcar terras indígenas, nem quilombolas e vai acabar com o Ministério do Meio Ambiente.

Esses posicionamentos escondem, na verdade, um conflito de interesses ligados a seus aliados políticos e integrantes da sua família. O observatório De Olho nos Ruralistas encontrou dois fatos que corroboram para a afirmação, envolvendo, o seu cunhado, Theodoro Konesuk e o seu aliados de muito tempo e candidato a deputado federal pelo PSL, Valmir Beber.

Bolsonaro passou a infância e parte da juventude em Eldorado, cidade do Vale do Ribeiro, sul do estado de São Paulo. Sua família e amigos continuam atuando fortemente na região. São donos de lojas de roupas, material de construção e móveis, além de pecuária e plantação de banana.

Cunhado cria gado no quilombo

Theodoro Konesuk

Foto: Reprodução/Web

Theodoro Silva Konesuk, empresário

Foto: Reprodução/Web

Casado com uma das irmãs de Bolsonaro, Vânia, o empresário Theodoro da Silva Konesuk invadiu terras quilombolas, segundo uma decisão da Justiça no dia 10 de setembro. Ele foi condenado a devolver uma área pertencente aos remanescentes do quilombo do Bairro Galvão, em Iporanga, município vizinho de Eldorado.

“A documentação comprova a legitimidade da parte autora e de sua pretensão”, decidiu a juíza Gabriela de Oliveira Thomaze. “Resta demonstrado que se trata de área devoluta pertencente ao Estado, as quais foram legitimamente outorgadas à Associação dos Remanescentes de Quilombo da Barra de São Pedro do Bairro Galvão”.

A terra foi devolvida, mas Konseuk resiste. Após os quilombolas começaram a plantar banana, um dos principais produtos da região, os funcionários do empresário voltaram ao local e destruíram as cercas e o trabalho dos agricultores, segundo testemunhas ouvidas pelo De Olho. O cunhado de Bolsonaro utilizava a terra pública para criar gado.

Os quilombolas de Iporanga acreditam que Konesuk continuará desafiando a decisão judicial. Como diz a líder quilombola Jovita Frutini França: “Ele não desiste, não desiste. Agora, eu não aguento mais lutar por isso”.

O processo contra Konesuk teve início em 2013, quando a Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) e o governo paulista entraram com uma ação para a devolução das terras.  A reintegração não foi feita de imediato, pois Konesuk recusou a notificação, sob o argumento de que o processo estava em nome de seu pai, Theodoro Konesuk Júnior. Mesmo depois de citado nominalmente, o empresário não se manifestou ao longo dos quase cinco anos de tramitação da ação. Ele também foi condenado a pagar 10% do valor total do processo como custas. Na inicial, o Itesp havia comprovado já ter pago uma indenização aos ocupantes pelas benfeitorias feitas no local.

Plantando banana na Caverna do Diabo

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O empresário Valdir Beber foi acusado de manter uma plantação de bananas em uma área de 19,5 hectares dentro do Parque Estadual Caverna do Diabo

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O empresário Valmir Beber foi condenado em março a um ano de reclusão pela Justiça em Eldorado, no Vale do Ribeira, interior paulista, por crime ambiental. Ele é acusado de manter uma plantação de bananas em uma área de 19,5 hectares dentro do Parque Estadual Caverna do Diabo. A condenação é de março deste ano e foi substituída por uma pena que o obriga a reparar o dano causado. A juíza Gabriela de Oliveira Thomaze concedeu ao empresário o direito de recorrer da decisão em liberdade.

Beber recebeu 22.031 votos e só não foi eleito por causa da nova cláusula de barreira, que exige um mínimo de votos nominais. Seu principal cabo eleitoral era um dos irmãos de Jair Bolsonaro (PSL). Morador do Vale do Ribeira, Renato Bolsonaro participou ativamente de carreatas e outros atos da campanha do empresário, além de gravar vídeos ao lado dele. O próprio presidenciável gravou vídeo de apoio ao condenado pela Justiça.

No caso de Beber, o flagrante de crime ambiental foi feito pela direção do parque, com o apoio da Polícia Ambiental. Em fevereiro de 2014, eles constataram que o empresário causou dano direto à unidade de conservação, impedindo sua regeneração natural. À Justiça, Beber alegou que o bananal não causou dano à reserva porque sua plantação era anterior à criação do parque.

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Material político de campanha

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Em seu depoimento, o empresário afirmou que o processo foi provocado por “perseguição política”, pois foi o único proprietário processado entre as cem famílias que residem no local. Ele não apresentou em juízo nenhuma prova dessa perseguição. Alegou ter comprado o terreno em 2005 e nunca ter desmatado nenhuma árvore ou ampliado a plantação. Segundo ele, o Parque Estadual foi criado em 2008 e até então a sua área não pertencia à reserva. O empresário disse que a plantação foi iniciada em 1995, por um antigo proprietário do terreno.

A plantação fica próximo a um curso d’água. Um funcionário de Beber declarou à gestora do parque que era utilizado agrotóxico no cultivo, o que é proibido em áreas de reservas ambientais. A área onde foi plantado o bananal fica desde 1969 dentro de uma reserva ambiental. Por seu tamanho, não servia à subsistência.

Procurados pelo De Olho nos Ruralistas, Konesuk e Beber não foram localizados para falar sobre o assunto. A assessoria de Jair Bolsonaro também foi contactada, mas não respondeu aos pedidos de entrevista.

*Repórteres do observatório De Olho nos Ruralistas, em parceria com o jornal Extra Classe

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