Uma república manchada pela negligência nas políticas ambientais
Foto: Adriano Machado/Greenpeace/Divulgação
Foto: Adriano Machado/Greenpeace/Divulgação
Ativistas do Greenpeace realizaram na manhã desta quarta-feira, 23, um protesto em frente ao Palácio do Planalto para chamar a atenção sobre a omissão e as políticas ambientais equivocadas do governo do presidente Jair Bolsonaro (PLS-RJ) em relação à contaminação do litoral do Nordeste com óleo bruto e a destruição da Amazônia. Vestidos de preto, os manifestantes espalharam tinta preta na entrada da sede do governo, simularam resultados das queimadas na Amazônia e exibiram cartazes com críticas à “lentidão” das ações governamentais para conter ou descobrir a origem do desastre ambiental e as inscrições “Pátria queimada, Brasil” e “Brasil manchado de óleo”, ironizando os slogans governamentais. Réplicas de barris de petróleo foram posicionadas em frente ao prédio, onde foi criado um cenário de praia, com areia sobre uma lona azul e foi despejada uma mistura de óleo e tinta. No final do protesto, um grupo de 19 ativistas que se deslocava em direção à Explanada dos Ministérios foi detido pela Polícia Militar, levado para a 5ª Delegacia de Polícia do DF e liberado, após uma notificação aos organizadores por descarte irregular de lixo em área pública.
O coordenador de Clima e Energia do Greenpeace, Thiago Almeida, fez duras críticas ao presidente e seu ministro do Meio Ambiente. “Ao invés de focar na resolução do problema com eficiência, o presidente Bolsonaro viajou para o exterior enquanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tenta mascarar a sua inação desviando a atenção do problema e jogando a responsabilidade para a população e organizações não governamentais, denunciou. As manchas de óleo vêm aparecendo na costa nordestina desde agosto. Segundo ele, o governo “demorou para agir e está agindo de maneira insuficiente, ineficiente e desordenada, e por causa disso quem está colocando a mão na massa e fazendo o papel que é do governo é a população”.
Em nota, a ong reiterou que vem ajudando a limpar as praias e está documentando os locais atingidos. “Um papel que deveria ser do governo, mas que, por completa falta de competência, pouco fez de efetivo”, critica o texto. “Desde o fim de agosto, as manchas de petróleo afetam a natureza, os animais marinhos, as pessoas, a pesca, o turismo e a economia de centenas de locais em todos os estados da Região Nordeste. A demora em combater e mitigar o maior desastre de petróleo do país em extensão prova que o governo federal não está preparado para responder a derramamentos como esse, deixando nossos oceanos ainda mais ameaçados”, alerta o comunicado.
Foto: Projeto Tamar/Divulgação
“Enquanto o óleo se espalha, o governo Bolsonaro segue realizando leilões e oferecendo mais de dois mil blocos de petróleo em diversas áreas sensíveis social e ambientalmente, da costa brasileira à floresta amazônica”, diz Thiago Almeida, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace. Segundo ele, vivemos uma emergência climática, precisamos abandonar os combustíveis fósseis e acelerar a transição para uma matriz energética 100% limpa e renovável. “Mais uma vez, o governo mente sobre a atuação de ONGs, como vimos nas queimadas na Amazônia, como forma de desviar a atenção da sua própria falta de ação e incompetência”, protesta.
Para a entidade, a conduta inadequada de Bolsonaro não se limita ao óleo nas praias. “Até hoje, pouco se fez para conter a destruição da Amazônia, pelo contrário, dados recentes sinalizam as consequências da falta de ação do governo:a área com alertas de desmatamento emitidos em agosto e setembro de 2019 foi 142% maior em comparação ao mesmo período em 2018, conforme indicado pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)”.
Cristiane Mazzetti, da campanha de Florestas do Greenpeace Brasil, associou os desastres ao desmonte das políticas e órgãos de fiscalização. “Desde que tomou posse, o governo Bolsonaro tem esvaziado e enfraquecido órgãos de proteção e fiscalização ambiental, ameaçado rever Unidades de Conservação e abrir Terras Indígenas para interesses econômicos. O presidente fez inúmeros discursos que encorajam o crime ambiental. Agora, estamos vendo o resultado dessa política”. Aparentemente alheio ao protesto, Bolsonaro publicou em uma rede social uma provocação no mesmo horário em que o Greenpeace protestava. “No mínimo estranho o silêncio de ONGs e esquerda brasileira sobre o óleo nas praias do Nordeste. O apoio desses partidos ao ditador Maduro fortalece a tese de um derramamento criminoso”, escreveu.
Farsa sobre petróleo venezuelano
Depois de uma reunião com o presidente em exercício, general Hamilton Mourão, que assumiu o cargo durante a viagem de 12 dias de Bolsonaro pela Ásia e Oriente Médio, o comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa Júnior, acabou com a farsa montada pelo governo para culpar o governo venezuelano pelo vazamento de petróleo que chegou à costa nordestina: “o que se sabe pelos cientistas é que o petróleo é de origem venezuelana, não quer dizer que houve em algum momento, e não houve isso, envolvimento de qualquer setor responsável tanto no público quanto no privado na Venezuela”. Ele afirmou ainda que não há indícios de envolvimento do governo venezuelano no vazamento de óleo que atinge as praias do Nordeste.
Também falta convicção sobre o rumo das investigações para determinar como ocorreu o vazamento e o tipo de embarcação envolvida. Segundo o Almirante, são investigados 30 navios que passaram “próximo à costa brasileira”, porém, há outras 970 embarcações que poderiam ter originado o derrame de óleo cru no mar, além dos navios piratas que proliferaram na região após as sanções adotadas pelo governo norte-americano contra a Venezuela. Barbosa Junior também não esclareceu a origem dos barris da Shell com número de lote e data de envasamento encontrados nas praias repletas de óleo.